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cerrado
2009-01-14
Em audiência pública, comunidade debate projeto arquitetônico do Centro de Estudos Avançados do Cerrado que será construído em Alto Paraíso de Goiás

Líderes comunitários e representantes de diversos segmentos sociais discutiram, sábado (10/1), na Câmara de Vereadores de Alto Paraíso de Goiás (240 quilômetros ao norte de Brasília), o projeto arquitetônico do futuro Centro de Estudos Avançados do Cerrado (CEAC), também conhecido como Universidade do Cerrado. A obra, com uma área de pouco mais de 1.400 metros quadrados, será construída em frente à entrada do município, em uma área de 47 mil metros quadrados, cedida pelo Executivo municipal. O encontro foi coordenado pelo vereador Eduardo Estellita, o Dada, e as professores Nina Paula Laranjeira e Sandra Lestinge, do Decanato de Extensão da Universidade de Brasília e responsáveis pela formulação da proposta do CEAC.

O arquiteto Sérgio Pamplona, autor do projeto de arquitetura, participou da audiência pública para detalhar os diferentes aspectos da obra. O centro abrigará laboratórios, salas de aulas, espaços de conferências e atividades didáticas e experimentais, cozinha-modelo, sanitário seco, biblioteca e área de camping, além de infraestrutura ambientalmente adequada à realidade e propósitos da instituição.

Telhados vivos
Uma das tecnologias inovadoras que chamou a atenção dos participantes do encontro foi a colocação de cobertura vegetal, o chamado "telhado vivo", experiência originária dos países nórdicos que tem um efeito térmico adequado ao clima da região, além do caráter demonstrativo sobre a ocupação alternativa de espaço.

O telhado vivo, adotado em algumas regiões do país, é uma cobertura eficaz e segura, onde é possível cultivar gramíneas, pequenas hortaliças, espécies florais e medicinais. A proposta provocou reações diversas no público. A maior preocupação foi com a manutenção do telhado vivo ¯ corte da grama, no período chuvoso, e irrigação durante a seca, que costuma ser severa na região por quatro ou cinco meses durante o ano.

A outra novidade, adequada às finalidades do CEAC, é a instalação do sanitário seco, que dispensa o uso da água para descarga e transforma os dejetos em adubo, que poderá ser usado no cultivo de árvores frutíferas. Mais ainda: a proposta está alinhada a outras medidas voltadas à redução da oferta de água no planeta.

Cozinha-modelo
O projeto prevê a instalação de uma cozinha-modelo que, além de fazer e servir refeições, será um espaço experimental dos diferentes produtos do cerrado e contará com o apoio do Centro de Excelência em Turismo, da UnB. A intenção é descobrir e inovar nos cardápios com os sabores do cerrado, ao mesmo tempo em que os usuários aproveitarão os alimentos produzidos como resultado de um processo pedagógico. O objetivo é garantir à comunidade mais um meio de obtenção de renda e sua fixação no município.

O CEAC contará com um centro digital, que favorecerá a oferta de cursos a distância. A debilidade do ensino local leva jovens e adultos a buscarem outras cidades para ampliar o conhecimento. A dificuldade deverá ser superada com a participação da Universidade Aberta do Brasil (UAB).

O centro terá ainda um consultório veterinário e um herbário. Hoje, o município de Alto Paraíso não conta com um veterinário. De acordo os participantes, a implantação de uma clínica veterinária é essencial para os animais domésticos e, principalmente, para os silvestres, muitos vítimas de acidentes nas estradas que cortam o município.

Sérgio Pamplona, responsável pelo projeto, afirmou que na elaboração do projeto de arquitetura tomou o cuidado de preservar toda a vegetação do terreno, deixando intacto o maior número possível de árvores, com base em levantamento florístico. Quando estiver instalado, o centro receberá pesquisadores e estudantes, além de oferecer condições para professores e cientistas desenvolverem atividades no coração do cerrado, marcado pela degradação ambiental.

Emenda salvadora
Há cerca de um ano, graças a uma emenda ao Orçamento da União apresentada pelo deputado Fernando Gabeira (PV/RJ), o governo destinou verba para a instalação de uma instituição de altos estudos. Como uma universidade, o centro realizará pesquisas e atividades que permitam melhor compreensão do cerrado e o desenvolvimento de projetos que propiciem o uso susentável da sua biodiversidade.

A emenda de Gabeira sofreu algumas modificações. Os recursos foram assegurados para a criação de uma unidade avançada de estudos, ligada à UnB, e não para uma universidade do cerrado, como pretendido inicialmente. A mudança, no entanto, não reduz a importância da obra para a Chapada dos Veadeiros, cuja relevância ambiental tem reconhecimento internacional. A região abriga cerca de 10 Reservas Particulares de Patrimônio Natural (RPPNs).

De acordo com a professora Nina Laranjeira, há muito a descobrir sobre esse bioma. O CEAC permitirá ainda que a comunidade participe e se aproprie desse conhecimento, fundamental para que as pessoas se envolvam na preservação do patrimônio natural.

O perfil atribuído à instituição – definido pela própria comunidade sob a coordenação de professores da UnB, o Centro de Estudos Avançados do Cerrado ¯ é o de um espaço interdisciplinar e transdisciplinar, onde cultura, educação, conhecimento científico e tradicional coexistem como forma de promover a sustentabilidade socioambiental.

O estudo aprovado pela Câmara de Extensão da UnB lembra que na região "observa-se notória biodiversidade e por isso tem sido alvo de interesse científico, inclusive por parte de diversos pesquisadores da UnB". Os integrandes da Câmara afirmam também a necessidade de que "as próprias pessoas da região possam fazer a gestão destes recursos naturais" e que "a Universidade poderá contribuir neste sentido".

A construção do Centro de Estudos Avançado no município de Alto Paraíso (GO) terá reflexo em toda a região, que reúne um conjunto de oito municípios, chamado de Território da Chapada dos Veadeiros. Integram esse território, os municípios de São João da Aliança, Colinas do Sul, Teresina de Goiás, Monte Alegre, Campos Belos, Alto Paraíso, Cavalcante e Nova Roma.

(Portal do Meio Ambiente, 14/01/2009)

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