Recuperar áreas de Cerrado nativo é uma das ações do Núcleo de pesquisa de recursos naturais da Embrapa Cerrados. A prática possibilita ganhos econômicos a longo prazo para pequenos produtores e contribui para a preservação de espécies nativas do Cerrado, savana tropical com 11 mil espécies de plantas identificadas, a mais rica em biodiversidade do mundo.
Em novembro de 2004, a equipe da Unidade da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária Embrapa e pesquisadores da Universidade de Brasília, parceiros do projeto Vamos cuidar do Brasil, lançado pelo Ministério do Meio Ambiente, iniciaram a recuperação de uma área de 1 hectare ao lado da sede do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), no setor Sudoeste, em Brasília. O Inmet celebra cem anos em 2009 e pretende incrementar ações de responsabilidade ambiental.
O terreno do Inmet, um dos poucos fragmentos de Cerrado dentro da área urbana, foi recuperado com pouco mais de novecentas mudas de 19 espécies nativas, entre elas o pequi, angico e genipapo. Quatro anos após o plantio, as espécies nativas despontam com destaque na paisagem do local e algumas já produzem frutos. O mesmo modelo de plantio, que simula a concentração de plantas e o espaçamento (3m x 3m) encontrados na natureza, foi repetido em áreas localizadas em Ceres (GO), Mambaí (BA) e no Park Way, em Brasília.
O plantio diversificado também contribui com menor incidência de inimigos naturais das plantas. A pesquisadora Fabiana Aquino, da Embrapa Cerrados, comenta que embora já existam plantios comerciais de baru e pequi, a cultura de uma única espécie não é recomendada. Outra característica importante do trabalho de recuperação de áreas de Cerrado é a tentativa de diminuir os custos do plantio das espécies nativas. A equipe semeia diretamente no solo ao invés de produzir mudas e plantá-las.
Os pesquisadores priorizam o plantio de espécies de uso múltiplo, plantas que produzem frutos comestíveis, possibilitam a extração de madeira e atraem polinizadores. Fabiana explica que após 10 anos do plantio, o manejo sustentável é possível. O plantio de recuperação é um impulso inicial para que a natureza faça surgir nos locais mais do que as 19 espécies inicialmente plantadas.
Mais indivíduos das espécies plantadas germinam nos bancos de sementes formados e outras sementes são trazidas para as áreas em recuperação por aves ou pela ação do vento. A pesquisadora defende estimular mais o plantio de espécies nativas do Cerrado nos canteiros de Brasília. Ipês, quaresmeiras, cagaiteiras que se cobrem de flores brancas demandam menor manejo e são adaptadas a longos períodos de seca, comenta.
A taxa de sobrevivência das mudas na área de Cerrado do Inmet foi considerada mais elevada do que em outras áreas. O cinturão de Cerrado nativo adjacente ao plantio propiciou a melhor recuperação.
(Por Gustavo Porpino de Araújo, texto recebido por E-mail, 13/01/2009)