Se daqui a algumas décadas o solenodonte-do-Haiti deixar de existir, pelo menos vai ser possível recordá-lo através de um vídeo realizado por uma equipa de cientistas na República Dominicana.
Esta espécie é um dos mamíferos mais raros e interessantes do ponto de vista evolutivo: parece-se com um musaranho mas tem um focinho alongado, uma cauda como a das ratazanas e patas sem pêlo. Mas a característica mais incomum do Solenodon paradoxus é que produz saliva venenosa que é injectada através dos incisivos. Por isso, quem tiver a sorte de encontrar e tocar num animal desta espécie tem que utilizar luvas, como o investigador que o agarrou para o pequeno filme de 25 segundos.
A espécie, que só existe no Haiti e na República Dominicana, pertence a uma linhagem de mamíferos com 73 milhões de anos que se manteve conservada e retém características ancestrais. Um grupo de investigadores da Durrell Wildlife Conservation Trust (DWCT) do Reino Unido, e do Ornithological Society of Hispaniola da ilha da Espanhola, esteve na República Dominicana no Verão passado para estudá-lo. Durante um mês puseram armadilhas em vários locais da ilha para conseguir obter indivíduos, medi-los e retirar amostras de ADN.
“Os meus colegas ficaram muito entusiasmados quando encontraram o animal na armadilha”, disse à BBC News Richard Young, investigador na DWCT, acrescentando que durante um mês só conseguiram capturar um exemplar. O solenodonte-do-Haiti assim como o seu parente mais próximo de Cuba, o solonodonte-de-Cuba (que também é venenoso) estão ameaçados. A desflorestação, a introdução de espécies exóticas nas ilhas e a caça, têm desgastado as populações destes insectívoros nocturnos.
Os dois mamíferos fazem parte do programa Edge of Existence, da Sociedade Zoológica de Londres (SZL), destinado a conservar animais em perigo que ao mesmo tempo são únicos devido à sua história evolutiva. “O registo de fósseis mostra que outros grupos de mamíferos que agora estão extintos também tinham um sistema de injecção de veneno. Isto deveria ser uma característica mais geral, que se perdeu na maioria dos mamíferos modernos”, disse Sam Turvey da SZL.
(Por Nicolau Ferreira, Ecosfera, 12/01/2009)