O ecoturismo apresenta o maior crescimento entre as atividades turísticas em todo o mundo, mas seu desenvolvimento não vem sendo acompanhado pelo aumento da preocupação com a prática de uma educação ambiental, aponta pesquisa da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da Universidade de Sâo Paulo (USP). O estudo do professor de turismo Hélio Hintze abordou a origem e contexto do ecoturismo a partir de suas relações com a cultura do consumo, que obedece à lógica da busca incessante pelo lucro.
O objetivo central do estudo foi averiguar a existência de uma preocupação com a educação ambiental nas atividades e pacotes ecoturísticos comercializados. Para tanto, foi feito um levantamento bibliográfico referente ao tema e, ao mesmo tempo, procurou mensurar a preocupação com a educação ambiental nas atividades desenvolvidas pelas operadoras de ecoturismo. A partir disso, foram entrevistados proprietários e gerentes de operadoras de ecoturismo da cidade de São Paulo, todas membros da Associação Brasileira de Turismo de Aventura (Abeta).
Segundo o pesquisador, a utilização do prefixo “eco” funciona como um sedativo para a consciência das classes médias. “O uso mercadológico do eco atua como uma nova roupagem para o que ainda pode ser antigo. Tudo agora é eco. Por exemplo, postos de gasolina ecológicos, ecoresorts, ecoempreendimentos, programas de Ecoeficiência em empresas de diversos ramos utilizam-se desta estratégia de marketing. Ser ecologicamente correto está definitivamente na moda”, destaca.
Muitas operadoras turísticas têm se utilizado do ambiente natural apenas como cenário para a realização das atividades e a busca pelo consumo da experiência no ecoturismo aproxima-o de seu par, o turismo convencional. “As semelhanças entre a prática do ecoturismo e a do turismo convencional merecem questionamento, pois obedecem aos ritmos que condicionam nosso tempo", lembra Hintze. A pesquisa foi orientada por Antonio Ribeiro de Almeida Júnior, professor do Departamento de Economia, Administração e Sociologia (LES) da Esalq.
Educação
Segundo o pesquisador, o ecoturismo busca ser uma alternativa ao turismo convencional, não será apenas por ser realizado em um ambiente natural ou por visitar casas de pessoas de uma comunidade tradicional que ele poderá obter tal chancela. "Quanto à questão do planejamento das atividades educacionais, pudemos perceber nas falas dos representantes das operadoras uma espécie de consenso sobre o não embasamento conceitual de tais atividades por eles praticadas”, acrescenta.
De acordo com a pesquisa, existe explicitamente a crença de que através de manuais ou materiais impressos se faz educação ambiental por meio da transmissão de informações a respeito do destino e de sua complexidade. "Usar apenas tais materiais é uma forma reducionista que reforça a fragmentação pós-moderna da compreensão do meio ambiente e, obviamente, das complexas relações ambientais e sócio-ambientais que o compõem", ressalta Hintze. "Este tipo de material pode ser utilizado se for associado a outras ações educativas".
A pesquisa constatou que a produção deste tipo de material é uma prática espetacular. "Assumindo ares de defensoras do meio ambiente, as empresas interessadas na manutenção de sua área de exploração turística unem-se pela causa, produzindo apostilas para entregar a seus visitantes, agregado a causa ambiental ao seu logotipo, por exemplo”, aponta o pesquisador. A configuração mercadológica dos pacotes ecoturísticos em ambientes naturais pode ser flagrada por obedecer o mesmo ritmo intenso da vida cotidiana dos ecoturistas e interferir de maneira nem sempre adequada nos destinos de viagens.
“A viagem acaba por obedecer aos mesmos ritmos da vida cotidiana dos ecoturistas. Inclusive pela inserção irônica do 'dia livre' em roteiros ecoturísticos", relata o pesquisador. "Se o ecoturismo é uma atividade praticada no tempo livre das pessoas, como é possível haver um 'dia livre' na programação? Para além da ironia, tal dia tem a função de período no qual se pode vender uma programação local não incluída no pacote original". Hintze conclui que para as comunidades receptoras, a imposição vem com a necessidade da adequação de seu modus vivendi e da adaptação de seu lugar de vida para o atendimento às demandas das operadoras e seus clientes.
Mais informações: (19) 3429-4477 / 3429-4485
(Agência USP, 07/01/2009)