(29214)
(13458)
(12648)
(10503)
(9080)
(5981)
(5047)
(4348)
(4172)
(3326)
(3249)
(2790)
(2388)
(2365)
empresas sustentáveis sustentabilidade e capitalismo
2009-01-06

Co-presidente do conselho de administração da Natura, Guilherme Leal acredita que a crise financeira mundial abre uma boa oportunidade para o planeta repensar o modelo de desenvolvimento e buscar uma forma de crescimento que reduza a dilapidação dos recursos naturais. “Há uma crise mais grave em curso, a do meio ambiente, e não podemos deixar que, a exemplo desta, ela se torne inevitável”, afirma o empresário nesta entrevista.

CartaCapital: Por que o senhor acredita ser este um momento propício para se debater um outro modelo de desenvolvimento?
Guilherme Leal -
 O momento é emblemático. Todo o sistema financeiro, o modelo de expansão econômica, de regulação que vigorou nos últimos dez, quinze anos terá de ser reconstruído. É um momento de escassez de recursos. Portanto, se é necessário repensar este modelo, por que não ir além? Por que, em vez de pensar apenas em recuperar a liquidez do mercado, não se aproveita para uma discussão sobre o modo como o mundo tem se desenvolvido? Não está ultrapassado, não precisa ser substituído por um que encontre maneiras mais inteligentes e sustentáveis? Precisamos aproveitar algumas lições da situação atual para lidar com uma crise mais dramática que se desenha.

Quais lições?
Leal -
  A crise financeira foi cantada e decantada faz muito tempo. O desenvolvimento mundial, e principalmente dos Estados Unidos, estava baseado no pressuposto de que os preços dos ativos, dos imóveis, continuaria a crescer ad infinitum. Ora, até os mais ingênuos sabiam que isso era impossível. É óbvio que a prosperidade mundial permitiu a muitos saírem da linha da pobreza na China, na Índia, na América Latina, mas isso provocou também uma pressão absurda sobre os recursos naturais. E esta crise, a do esgotamento do planeta, vem sendo literalmente empurrada com a barriga. E, como esta que vivemos, também vem sendo anunciada há muito tempo. Temos de impedir que se torne inevitável.

Crescimento sustentável significa necessariamente crescimento menor, não?
Leal -
Há uma diferença entre crescimento e desenvolvimento sustentável. Padecemos globalmente do vício do “crescimentismo”. Sei que crescer é um vetor importante para reduzir as desigualdades, mas defendo a necessidade de se aprofundar uma discussão sobre formas de melhorar o nível de vida das pessoas sem que isso dependa exclusivamente de uma exploração insana dos recursos naturais. Encontrar formas de conciliar objetivos de bem-estar com os de preservação da vida para as próximas gerações. Nos últimos 150 anos tiramos bem mais do planeta do que ele tem capacidade de regenerar. Por isso, a celebração do crescimento dos últimos dez, quinze anos, o espanto em relação aos resultados da China, por exemplo, é alienante. Não é sustentável, como se vê agora. Há tecnologia disponível para se estabelecer um novo padrão de organização social que possibilite o uso mais eficiente dos recursos naturais que sobraram. Além disso, a inventividade humana, tenho certeza, será capaz de encontrar novas soluções. É uma questão de opção.

Por falar em opção: como equilibrar sustentabilidade e a necessidade irremediável de incluir milhões de miseráveis na América Latina, Ásia e África?
Leal -
Confesso que não tenho uma resposta clara. Mas estamos em um ponto em que o Estado está sendo obrigado a intervir para impedir que o mundo entre em recessão profunda. Concorda-se que é necessário fazer algo, certo? Mas qual a forma de reanimar as economias? Devemos investir em velhas tecnologias dependentes de petróleo? Nossa agricultura precisa ser estimulada por fertilizantes fósseis? Pensar em um novo modelo de desenvolvimento tem o poder, inclusive, de gerar novos empregos. É como uma frente contra a seca. Ela, ao mesmo tempo, alivia a vida dos afetados pelo problema e permite a criação de postos de trabalho. Não falo de apenas se pensar em tecnologias ultramodernas, de como substituir a gasolina por hidrogênio. Falo de arranjos sociais, de projetos de preservação do meio ambiente, de conservação de energia, de produções agroflorestais integradas. Existem muitas experiências bem-sucedidas, por isso não acho que haja uma resposta pronta. A pergunta é: queremos persistir em um modelo falido ou devemos nos abrir a experimentos que possam levar a novas respostas?

O senhor acha que esta mudança precisa ser tomada conjuntamente entre os países ou uma nação como o Brasil, de importância periférica na economia mundial, pode buscar um novo modelo, mesmo que os demais não o façam?
Leal -
Creio piamente que o Brasil está diante de uma oportunidade significativa. O mundo está mudando. Os Estados Unidos continuarão a ser o grande player, mas desenha-se uma geopolítica mais multipolar. Há, inclusive, a expectativa de exercer nossa liderança entre os emergentes. Há então um espaço político onde podemos atuar. Além disso, percebeu-se que vantagens comparativas são importantes, e o Brasil as tem em muitas áreas. Solo, área agriculturável, minério, clima, água. E temos uma diversidade cultural só comparável à dos Estados Unidos, que é o grande exemplo de sucesso do planeta. Qual o nosso problema? Não sabemos o que seremos no futuro, falta um projeto. Não vejo ninguém preocupado em pensar isso, nos governos, nos partidos políticos, na elite. Nosso modelo de desenvolvimento baseia-se pura e simplesmente na exportação de commodities sem valor agregado. Isso não é geração de renda, é exportação de patrimônio. Não espero que o clamor por mudanças parta dos meios tradicionais da política, mas da sociedade. Não estou dizendo que a transição é fácil. O Brasil ainda enfrenta problemas, como a precária infra-estrutura, que outros países já superaram faz tempo. Mas não acho excludente continuar a desenvolver o País a partir de um outro modelo.

A Natura é um exemplo vivo da tentativa de conciliação dessas duas vertentes: ser uma empresa sustentável e, ao mesmo tempo, competitiva. Como a experiência da companhia pode servir de parâmetro neste debate?
Leal -
Acho que nossa experiência tem sido muito rica. Aqui também não temos uma resposta pronta, temos um norte e muitas perguntas a serem respondidas. Quando, no começo da década de 90, firmamos o compromisso de ser uma empresa ambiental e socialmente responsável, não havia uma bíblia, um manual de como fazer. Fomos experimentando. Mas sempre tivemos certeza de uma coisa, não seríamos alternativos. Buscamos construir uma marca forte, competitiva, com boa gestão, criativa, capaz de influenciar, de tentar mudar o sistema. Entendemos que a empresa pode e deve ser um agente de transformação. Se tivéssemos resolvido ser uma lojinha na Vila Madalena, poderíamos ter produtos 100% naturais. Como brinca um dos sócios, bastaria colher o mamão e passar no rosto dos clientes. Mas não iríamos influir em nada. Vou passar um dado interessante. Comparei os resultados da Natura com outras seis marcas mundiais da área de cosméticos. Nos últimos cinco anos, desde que abrimos o capital nas bolsas, fomos a única a ganhar valor de mercado. Hoje, a Natura cresceu três vezes e meia, em dólares. As outras estão mais ou menos no mesmo patamar que estavam cinco anos atrás. O que isso indica, no meu entender: nosso posicionamento tem futuro. Conseguimos até agora criar um presente saudável com base em uma proposta que olha para a frente e não está lastreada em idéias envelhecidas.

Como o Brasil deve lidar com a Amazônia? Ela é um problema exclusivamente nosso ou deveríamos nos abrir para uma discussão sobre gestão compartilhada ou outros tipos de apoio internacional?
Leal -
O Brasil detém 60% da floresta. Sobre esta parte, cabe a nós gerir. Mas não adianta ser xenófobo, recusar críticas, sugestões ou propostas de auxílio. Rejeitar que se faça um debate internacional sobre a Amazônia é uma forma de esconder nossas responsabilidades. O Ignacy Sachs (economista) acredita que a Amazônia pode ser um belíssimo laboratório para as biocivilizações do futuro. Concordo com ele. O Brasil tem de conseguir pensar uma forma inteligente de exploração da Amazônia.

Não é razoável, por exemplo, ter gado na floresta.
Leal -
O gado é um dos grandes problemas. Na Amazônia, a pecuária extensiva é uma frente de desmatamento seriíssima. Não há sentido permitir mais desmatamento. E o que já foi aberto deve ser usado, preferencialmente, para o plantio.

Dá para redesenhar uma metrópole como São Paulo?
Leal -
O tema da sustentabilidade está claramente ligado ao destino das grandes metrópoles. No Brasil, não há uma coordenação dessas áreas urbanas profundamente interligadas. Elas ficam meio ao sabor dos ventos. Veja a questão do transporte. Toda a lógica está voltada para o estímulo do transporte individual. Aliás, fico arrepiado ao ver todo esse dinheiro despejado para auxiliar a indústria automobilística. Por mais que se precise de empregos, por mais que se celebre o crescimento fantástico do setor, não consigo ficar satisfeito. Dá para ficar contente com o fato de que 100 mil novos carros são incorporados por mês à frota de São Paulo? Não é possível imaginar algo mais inteligente do que umas latinhas fumegantes que poluem e te deixam aprisionados em engarrafamentos cada vez maiores?

(Por Sergio Lirio, Carta Capital, 05/01/2009)


desmatamento da amazônia (2116) emissões de gases-estufa (1872) emissões de co2 (1815) impactos mudança climática (1528) chuvas e inundações (1498) biocombustíveis (1416) direitos indígenas (1373) amazônia (1365) terras indígenas (1245) código florestal (1033) transgênicos (911) petrobras (908) desmatamento (906) cop/unfccc (891) etanol (891) hidrelétrica de belo monte (884) sustentabilidade (863) plano climático (836) mst (801) indústria do cigarro (752) extinção de espécies (740) hidrelétricas do rio madeira (727) celulose e papel (725) seca e estiagem (724) vazamento de petróleo (684) raposa serra do sol (683) gestão dos recursos hídricos (678) aracruz/vcp/fibria (678) silvicultura (675) impactos de hidrelétricas (673) gestão de resíduos (673) contaminação com agrotóxicos (627) educação e sustentabilidade (594) abastecimento de água (593) geração de energia (567) cvrd (563) tratamento de esgoto (561) passivos da mineração (555) política ambiental brasil (552) assentamentos reforma agrária (552) trabalho escravo (549) mata atlântica (537) biodiesel (527) conservação da biodiversidade (525) dengue (513) reservas brasileiras de petróleo (512) regularização fundiária (511) rio dos sinos (487) PAC (487) política ambiental dos eua (475) influenza gripe (472) incêndios florestais (471) plano diretor de porto alegre (466) conflito fundiário (452) cana-de-açúcar (451) agricultura familiar (447) transposição do são francisco (445) mercado de carbono (441) amianto (440) projeto orla do guaíba (436) sustentabilidade e capitalismo (429) eucalipto no pampa (427) emissões veiculares (422) zoneamento silvicultura (419) crueldade com animais (415) protocolo de kyoto (412) saúde pública (410) fontes alternativas (406) terremotos (406) agrotóxicos (398) demarcação de terras (394) segurança alimentar (388) exploração de petróleo (388) pesca industrial (388) danos ambientais (381) adaptação à mudança climática (379) passivos dos biocombustíveis (378) sacolas e embalagens plásticas (368) passivos de hidrelétricas (359) eucalipto (359)
- AmbienteJá desde 2001 -