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celulose e papel setor florestal
2009-01-06
Os três primeiros meses do ano vão representar uma fase de transição para o setor, dizem especialistas

A tendência de queda nos preços internacionais da celulose deve perdurar durante o primeiro trimestre de 2009, que deve ser o período mais difícil do ano para o setor. A fraca demanda do mercado internacional, principalmente a China, é um fator de preocupação para os negócios das companhias brasileiras. Após registrar quedas mensais desde setembro passado, o indicador de preços do insumo deve continuar com oscilação para baixo e interromper essa trajetória apenas no segundo trimestre, como consequência de uma retomada mais forte das compras dos países asiáticos.

Os três primeiros meses do ano vão representar uma fase de transição para o setor. Diante da recente queda nos preços, diversas fábricas terão suas operações interrompidas, o que ajudará a reduzir a pressão sobre o mercado. Esse movimento irá se acelerar justamente porque, para alguns fabricantes, a redução nos preços tornou o valor das vendas de celulose equivalente ou até inferior ao custo de produção.

Mas esse movimento será gradual, por isso seus efeitos devem ser vistos ao longo do ano, principalmente no segundo semestre. Por enquanto, a redução da oferta está sendo sustentada principalmente pela decisão das empresas de paralisar a produção ou a venda de celulose por um período determinado - a Suzano Papel e Celulose, por exemplo, interrompeu sua unidade de Mucuri (BA) por oito dias no final de outubro. Aracruz, Votorantim Celulose e Papel (VCP) e dezenas de empresas estrangeiras também reduziram a oferta de celulose ao longo do quarto trimestre.

Com essa decisão, os fabricantes esperavam interromper a elevação dos níveis dos estoques na cadeia. Mas os números já computados por organizações internacionais ainda não apontam qualquer efeito das paradas. Em novembro, os estoques mundiais do insumo atingiram 50 dias, dois a mais do que no mês anterior e 21 dias a mais do que em novembro de 2007, segundo relatório do de Produtos de Papel e Celulose (PPPC, na sigla em inglês).

Apesar disso, a trajetória de alta nos estoques de celulose não deve durar, pois os fabricantes de papel devem, aos poucos, retomar as compras. Segundo o diretor-executivo da Unidade de Negócios Florestal da Suzano, João Comério, a China voltou a importar celulose em dezembro.

Tendência

Essa tendência, apesar de ainda ser discreta, segundo os analistas do setor, é a primeira indicação de que o momento mais crítico para os valores praticados no mercado internacional está próximo do fim. Tanto que as quedas de preços previstas para o primeiro trimestre já devem apresentar uma maior resistência por parte dos fabricantes de celulose - após superar a casa dos US$ 800 por tonelada no primeiro semestre deste ano, o preço do insumo é negociado por menos de US$ 500 na Ásia, segundo informações da VCP.

Na visão do analista de investimentos da Spinelli Corretora, Jayme Alves, o primeiro trimestre ainda será difícil por ser um período tradicionalmente mais fraco de demanda. A partir do segundo trimestre, no entanto, é provável que o preço do insumo encontre um ponto de equilíbrio. O analista de recursos naturais da Itaú Corretora, Marcelo Brisac, também considera que os preços devem parar de cair no segundo trimestre de 2009.

Essa esperada interrupção na tendência de queda, aliada à valorização do dólar frente ao real, pode criar um cenário favorável para os fabricantes brasileiros, destaca o analista da Link Investimentos, Leonardo Alves. Como têm grande parte dos custos calculados em real, Aracruz, Suzano e VCP têm sido beneficiadas pala variação cambial, que mais do que compensou a queda nos preços. Enquanto a cotação do insumo na Europa (principal mercado para as empresas brasileiras) caiu quase 30% nos últimos quatro meses, o real já apresentou uma desvalorização também de aproximadamente 30% desde o pedido de concordata do Lehman Brothers, em setembro passado.

 Exportações

Dessa forma, assim que o nível de vendas pré-crise for retomado, as margens das companhias podem ser mais favoráveis do que no período de auge dos preços, mas com dólar na casa de R$ 1,60. Os dados mais recentes da Associação Brasileira de Celulose e Papel (Bracelpa) apontam que as exportações de celulose brasileira somaram 599 mil toneladas em novembro, praticamente estáveis em relação às vendas do mês anterior (602 mil toneladas), o que pode sinalizar um cenário menos adverso aos negócios no setor.

A Fator Corretora acredita que o preço médio da celulose fique em US$ 705 por tonelada neste ano, uma queda de 12% em relação ao valor médio projetado para o acumulado de 2008 (US$ 804 por tonelada) - o dado deste ano é elevado justamente pelas cotações de janeiro a agosto. Essa projeção, se não pode ser interpretada como positiva para o setor, ao menos deixa para trás o temor de uma tonelada de celulose sendo negociada a menos de US$ 500 por tonelada, como acontece hoje no mercado asiático.

(Por André Magnabosco, Agência Estado, 06/01/2009)

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