As instituições financeiras têm papel decisivo na implantação de projetos sustentavelmente viáveis, ou seja, que ao mesmo tempo sejam econômica e ambientalmente favoráveis à sociedade. Por isso é fundamental avaliar se essas instituições mantêm políticas voltadas à sustentabilidade. Pensando nisso, a acadêmica Claudia Elisa Borges Matias, do Departamento de Administração da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto (FEARP) da USP, resolveu fazer um estudo comparativo entre bancos nacionais e estrangeiros no seu trabalho de conclusão de curso.
Ela quis verificar se as instituições utilizam o conceito de sustentabilidade apenas como estratégia para alcançar credibilidade ou se as ações propagadas nos relatórios anuais (balanços) de fato são empregadas. Outro aspecto analisado pela acadêmica foi a compatibilidade entre o discurso propagado pelos bancos e a prática observada no âmbito de suas agências. A pesquisa de Claudia foi realizada para a sua monografia de conclusão do curso de Administração de Empresas, apresentado no final de 2008. A orientação ficou a cargo do professor Paulo Sérgio Miranda Mendonça, da FEARP.
No geral, os resultados da pesquisa foram favoráveis às instituições. Os bancos pesquisados, um público nacional e outro privado estrangeiro, se mostraram bem engajados com o tema da sustentabilidade. “A implementação desse tipo de iniciativa nos bancos estudados se mostraram eficientes e se dão no ponto de entrega do serviço bancário, ou seja, na agência”, afirma.
A pesquisa revelou também que o banco nacional apresentou maior comprometimento em relação ao banco estrangeiro. Esse apresentou mais lacunas na consolidação de suas ações de sustentabilidade, principalmente quanto aos indicadores de público interno e de meio ambiente. “O banco estrangeiro, por exemplo, ainda não prepara o funcionário para a aposentadoria. O banco nacional insere, em seu programa de sustentabilidade, variáveis como o uso de papel ambientalmente correto, iniciativas de redução de consumo de água e energia. O banco estrangeiro não assinala positivamente tais variáveis”, avalia.
Uma das lacunas que chamou a atenção da acadêmica, evidenciada nas duas instituições, foi a falta de disseminação do Pacto Global das Nações e dos Oitos Objetivos do Milênio, instituídos pela Organização das Nações Unidas (ONU), que prevê, por exemplo, a erradicação da fome e a igualdade entre homens e mulheres. “Apesar de constar no relatório que as instituições fazem essa disseminação, 75% dos gerentes entrevistados disseram desconhecer o pacto”. Uma outra lacuna, mas que só foi percebida durante a pesquisa de campo é a questão da reciclagem do lixo. Nas duas instituições, boa parte dos gerentes afirmou existir a preocupação com a separação do lixo no âmbito das agências. “Ao visitar essas agências bancárias, pude perceber uma divergência entre as respostas e o que é realmente notável em relação ao lixo reciclável, principalmente no banco estrangeiro”, conclui.
A pesquisa
A pesquisa foi dividida em duas partes. Na primeira, se analisou os relatórios de sustentabilidade de três instituições bancárias com estudo comparativo entre os resultados. Uma das instituições, em função de sua política de recursos humanos, não participou da segunda fase.
Então os resultados definitivos são pautados somente em duas instituições. O objetivo foi destacar as principais semelhanças e diferenças nos programas sociais e ambientais do setor bancário brasileiro e estrangeiro.
Em seguida, foi aplicado um estudo de campo onde 20 gerentes das duas instituições responderam questionário elaborado com base nas variáveis de sustentabilidade estabelecidas pelo Instituto Ethos. Foram analisados cinco indicadores: público interno, meio ambiente, clientes, sociedade e fornecedores e, dentro deles, somente variáveis voltadas para o setor bancário.
A pesquisadora encontrou o ranking médio para cada variável com base nas respostas e, ao cruzar os dados com os relatórios emitidos pelas instituições, concluiu que as ações divulgadas são percebidas pelos gerentes. “Eles afirmaram que a maioria das ações efetivamente acontece apesar das lacunas que não se sobressaem em relação ao que realmente é feito. Com isso concluímos que elas acontecem ”.
Chegar a essa conclusão, segundo a acadêmica, foi gratificante. “Imagine um banco que vai, por exemplo, financiar a construção de uma hidrelétrica numa cidade ribeirinha. Cabe a ele a responsabilidade primária, de exigir estudos sobre os impactos ambiental e social do projeto e mediar esse processo. Por isso precisamos também conhecer o seu compromisso com o conceito de sustentabilidade. O banco é o primeiro e, às vezes, o único agente que vai mediar esse processo”.
Claudia destaca semelhanças entre os programas de sustentabilidade apontadas pelas duas instituições como a promoção da diversificação no ambiente de trabalho pela inclusão de mulheres, negros e portadores de necessidades especiais, programas de aprendizagem contínua, incentivo a práticas de gestão participativa, programas de preservação ambiental que envolvem também fornecedores, oferecimento de microcrédito a comunidades com baixo poder aquisitivo, programas de ações sociais e, ainda, a seleção de fornecedores também comprometidos com a sustentabilidade.
(Por Rosemeire Soares Talamone, Serviço de Comunicação Social da Prefeitura do Campus Administrativo de Ribeirão Preto USP, 05/01/2009)