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expedição
2009-01-05

O alpinista esloveno Gregor Kresal (39) cresceu ouvindo histórias de montanhistas. Com doze anos de idade, participou de uma expedição inesquecível a maior montanha da Eslovênia - o Triglav - de quase 3.000 metros de altitude. Desde então, não parou de sonhar com as grandes aventuras. Mas Kresal, que é considerado um dos alpinistas mais expressivos do país, levou um grande susto em agosto. Por problemas de saúde, teve que abandonar, no meio do caminho, a viagem à temida Torre Mustagh, no Paquistão, com 7.237 metros. Os outros dois alpinistas que o acompanhavam permaneceram no local, mas foram protagonistas de uma tragédia, que, aliás, aconteceu na mesma época em que nove montanhistas europeus morreram perto do K2, segundo maior pico do globo, também no Paquistão. Foram dois grandes dramas acompanhados de muito perto por Kresal. E a fase mais difícil de sua carreira. Depois de meses sem comentar o acidente, ele volta a explicá-lo, com exclusividade a O Eco. Confira detalhes em imagens inéditas trazidas pelo alpinista e na entrevista concedida de Ljubljana, capital eslovena.

O Eco - Escalar a Torre Mustagh sempre esteve nos seus objetivos?
Kresal
– Sim. É uma das montanhas mais incríveis que vi até hoje. Ela tem um formato especial. Por favor, escreva FORMATO em letras maiúsculas, garrafais - porque é algo impressionante. A Mustagh fica muito perto do K2 e todo alpinista ou aventureiro que se preze passa por perto dela um dia antes de chegar à base do K2. O que é mais interessante a respeito da Mustagh é que só foi explorada quatro vezes. A última vez, dezenove anos atrás. Foi superada pela primeira vez em 1956 por um grupo de alpinistas franceses - apenas alguns dias antes de um time britânico alcançá-la por outro lado. Até hoje não sei por que ela foi explorada por tão poucos profissionais... Há algo mágico em Mustagh, sabe? Os alpinistas costumam apenas observá-la no caminho para outras montanhas mais altas, mais desafiadoras. Talvez pensem algo do tipo: "hummm...essa montanha é especial, mas não vamos arriscar nossa sorte sem nos apaixonarmos por ela, primeiro". Então, como eu e minha equipe nos apaixonamos por ela, resolvemos encarar o desafio de escalar a sua parte norte de Mustagh, ainda inexplorada.

Como foi o planejamento para a expedição?
Kresal
– Foi idéia minha. Aconteceu logo depois que eu e Pavle Kozjek – um dos melhores alpinistas da Eslovênia de todos os tempos – finalizamos nossa rota pela montanha de Puscanturpa, no Peru, no ano passado. Eu disse: “Pavle, agora é a hora de ir a Mustagh”. Mas, claro, a decisão foi do grupo. O Pavle já tinha escalado outras montanhas do Paquistão como Gasherbrum II e Broad Peak e, na tentativa de escalar o K2 em 1988, avistou a Mustagh e ficou intrigado. Decidimos levar conosco outro alpinista. Foi engraçado: Pavle tinha 49, eu, 39, e Dejan Miskovic, 29 anos. Acreditamos que combinações como essas sempre resultam em boas coisas. Tivemos sorte para encontrar patrocínio e conseguimos o dinheiro, em primeiro lugar da lista de seleção da Millet Expedition Project. A Millet é uma grande marca francesa de equipamentos de escalada, e costuma bancar expedições o ano inteiro, por toda a Europa. Assim, com quase todo o dinheiro que precisávamos, tivemos bastante tempo para o treinamento. Preparamos nossos corpos e resistência por quase um ano. E captamos o máximo de informações possíveis sobre a montanha.

Mas você voltou antes de iniciar a expedição...
Kresal
– Logo depois de eu chegar à base da Mustagh, comecei a me sentir muito mal e não sabia exatamente o que era. Comecei a sentir dores fortes pelo corpo, logo depois da primeira adaptação climática. E as dores se tornavam cada vez piores. Fui atrás de médicos – que logo recomendaram que eu voltasse a uma altitude mais baixa o quanto antes. Diagnosticaram que eu estava com pedra no rim. Desidratação é um problema sério nas montanhas altas e, com o mau funcionamento dos rins, a situação pode se tornar ainda pior. Chamei pelo resgate de helicóptero. No hospital, foi descoberto que havia contundido seriamente minha perna esquerda e desenvolvido uma hérnia abdominal. Provavelmente, porque eu tomei muitos medicamentos para aliviar a dor e, anestesiado, fiz uma grande força para escalar com o peso dos equipamentos. Deixar a base sem tentar escalar a Mustagh foi uma decisão terrível, mas não havia nada que eu pudesse fazer. Dois dias depois, voltei para a Eslovênia.

Os seus colegas continuaram...Rota da expedição e da tragédia traçada por Kresal. Acidente ocorreu em grande altitude, quando um deles despencou da montanha.
Sim, Pavle e Dejan começaram, sem mim, a escalar a parede norte da Mustagh. Eles foram muito rápidos nessa primeira parte – e acabaram precisando de apenas um dia para escalar o paredão. Perfeito. Dormiram em uma caverna no gelo até o dia seguinte. Mas, logo cedo, Pavle decidiu que eles, mesmo sem dificuldade alguma pela frente, não deveriam ir até o topo. Só que é preciso agir rápido nesse tipo de escalada. Porque você lida com armadilhas no meio do caminho, as barreiras de gelo podem não suportar o peso do alpinista. A decisão foi fatal. Não sei o por quê, talvez por causa da alta altitude a mente dele não estava muito lúcida. O Pavle ficou aguardando sobre a neve, bem à beira do abismo. O gelo não resistiu, rompeu, o Pavle não teve tempo de reagir e caiu. Terrível.

Você viveu dias de um outro pesadelo: o resgate do Dejan, o mais novo e com menos experiência entre os três...
Kresal
- O Dejan ficou sozinho na montanha. Era a primeira vez que encarava uma altitude daquelas. Ele estava sem comida, corda, saco de dormir, nem equipamento para conseguir água – tendo em vista que boa parte desses materiais estava na bagagem do Pavle. O que salvou o Dejan foi que tinha um telefone via satélite...e me ligou. As notícias caíram como um raio, mas tive que ser rápido para organizar a operação de resgate. Dejan teve que descer escalando uma parte desconhecida da montanha, mas estava ainda muito alto para o helicóptero fazer a busca. Imediatamente, enviei dois alpinistas eslovenos até eles, meus amigos Tomaz Humar e Ales Kozelj – para, pelo menos, escalarem o trecho que o helicóptero não conseguia chegar. Até conseguir com que pudessem entrar no Paquistão, foi um grande filme. Como fazer para obter duas novas permissões, novos vistos? Loucura. Um pesadelo. A situação política no país estava crítica no momento e os pilotos do exército não conseguiam ter a permissão para voar até o local. Contatamos todas as altas autoridades possíveis no mundo, mas as autorizações que precisávamos só saíram através das boas relações pessoais que o Tomaz tinha com pilotos do Paquistão por meio de suas expedições anteriores. Foi assim que tanto o Tomaz quanto o Ales conseguiram, enfim, articular a logística do resgate comigo e participar, in loco, do salvamento. Após quatro sufocantes dias, Dejan finalmente estava no chão. Sem esses dois novos alpinistas atuando, jamais teríamos conseguido salvá-lo.  Eu não dormi por 80 horas. Graças a Deus, o Dejan só perdeu dez quilos nessa agonia toda. Mas foi horrível termos perdido o Pavle. Horrível...

Qual foi o momento mais perturbador neste episódio, além da perda do Pavle?
Kresal
- Quando eu percebi que, se não tivesse saído imediatamente do acampamento, não estaria em Ljubljana na hora do acidente e Dejan não teria como dizer a qualquer pessoa onde ele estava exatamente. Foi difícil tomar a decisão de voltar para casa. Mas, em toda situação ruim, existe algo de bom. Se não tivesse voltado, não seria capaz de organizar o resgate para o Dejan.

A tragédia no K2 (em que nove alpinistas morreram, no início de agosto deste ano) aconteceu no mesmo período em que vocês se dirigiam à Mustagh. A equipe não ficou receosa de partir para a aventura? Não temia também ser surpreendida por uma avalanche?
Kresal
- Avalanche em montanhas altas? Acontece a qualquer hora, o tempo inteiro. Mas ter medo de escalar, normalmente, é bom. Significa que você está pensando no que está fazendo. E que você vai tentar estudar cada parte do trajeto antes de ir até ele e se esquivar de cada trecho que possa ser ameaçador, ou que possa te surpreender. Também é um sinal de que você pode ponderar se, talvez, parte de sua expedição seja mais segura no período da noite - quando as possibilidades de ser atingido por uma rocha ou gelo são menores. A avalanche no K2 que matou esse grupo foi até pequena. O problema foi o gelo acumulado, que enganou a todos.

E isso faz diferença?
Kresal
- O maior perigo de escalar montanhas altas como o K2 é, sempre, você se deparar com os chamados seracs - uma parte vertical das barreiras de gelo acumulado. Quando as paredes da montanha encoberta pelo gelo se tornam muito escorregadias, pode ser fatal. A camada de gelo se quebra lentamente, e, de repente, ela não agüenta mais e se rompe de uma vez. E não há como prever quando isso acontecerá. Há uma barreira de seracs logo abaixo do topo do K2 – e, infelizmente, uma das partes quebrou quando os alpinistas se aproximavam do cume. O gelo em queda matou duas pessoas. A maioria dos colegas estava logo acima de onde houve a avalanche. Só que, de fato, a verdadeira tragédia começou depois disso. O gelo acabou cortando a única corda fixa, que os alpinistas usam como segurança. E, pelo jeito, ninguém tinha experiência suficiente para descer sem corda! Acabaram congelando até morrer, terrível. Só havia no grupo, um italiano, que escalava bem, e conseguiu descer sozinho. A saúde dele estava péssima, mas ele conseguiu. No total, mais sete alpinistas morreram.

Vocês se encontraram com os sobreviventes do K2 no trajeto? 
Kresal
– Depois que uma expedição termina, você empacota suas coisas e volta para a base da montanha com todo o equipamento. Então, você tem que caminhar de volta para a civilização. Levamos cinco dias até passar pela base do K2, e os encontramos exatamente quando nos preparávamos para subir. Mas ninguém queria falar muito sobre o assunto. Só fomos saber dos detalhes na volta.

A expedição ao K2, depois da tragédia, foi muito comentada por alpinistas de todo o mundo. Qual a sua visão sobre os fatos que levaram a um fim como aquele?
Kresal – Você pode comprar qualquer coisa com seu dinheiro, mas não pode comprar, nunca, experiência. Faltou, por parte deles, uma análise mais crítica sobre o tempo. A equipe viajou justamente em uma época de tempo bom no K2 – o que se repetiu quando todos estavam perto de chegar o topo. Com certeza, isso inflou a autoconfiança dos alpinistas, que acabaram desprezando uma característica muito marcante daquele pico: as tempestades repentinas. Eles estavam fazendo uma festa lá em cima, no topo, e não planejaram uma descida rápida – como tem que ser. É interessante analisar um ponto: você pode se tornar membro de uma expedição guiada se você tem dinheiro para pagar por ela. E, depois de você ter acertado a viagem, ninguém te pergunta se você tem habilidades para correr certo risco, ou não. E este é um sério problema nas montanhas de todo o planeta, há pelo menos 12 anos. Então, voltando a falar do K2, se todos tivessem experiência suficiente, poderiam ter escalado o caminho de volta. Essa tragédia é muito similar a que ocorreu em 1996 no Everest, quando dez pessoas morreram. Quase ninguém do grupo sabia escalar bem…

(Por Fernanda Menegotto*, OEco, 02/01/2009)
* Fernanda Menegotto é jornalista e apaixonada pelas montanhas. Morou na Eslovênia em 2000. Mas não teve coragem de escalar o Triglav...


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