A imprensa mundial assimilou e passou a reproduzir o discurso ambiental com eficiência, mesmo que por vezes ainda escorregue em informações de fontes pouco ou nada confiáveis. A grande questão agora é a necessidade de massa crítica dentro dos jornais para saber ouvir todos os lados envolvidos nas questões. E é neste ponto que o palavrório se apresenta inconsistente, pois abolimos das pautas qualquer indicativo que confronte as novas verdades estabelecidas.
Temos atualmente em pé 10% das florestas originais do planeta, a população de humanos dobrou num período de 100 anos e em 30 anos os níveis dos oceanos estarão 40 centímetros mais altos. Bastou apresentar números como esses para que os jornais encampassem o discurso, por vezes ideológico e apocalíptico, como verdade absoluta.
O pensamento linear, a que os jornalistas estão acostumados, está longe de ser aplicado às pesquisas científicas, que muitas vezes escondem em seus grotões um jogo de interesses tão intenso como em outros setores sociais. Com o domínio superficial de alguns conceitos somado à complexidade dos assuntos, o suporte crítico do jornalista se esvai e concede uma subordinação mansa aos contornos dados por suas fontes de informação. A conseqüência disso tem nome: manipulação consentida.
"Bandidos e mocinhos"
Na ciência, nem sempre o exato representa a exatidão. Pode-se resumir isto como inexiste obviedade na ciência. Algo difícil de compreender quando se faz um jornalismo de noticiário, sem análise ou aprofundamento nas relações envolvidas. O planeta e o universo não correm por trilhos paralelos, mas por caminhos caóticos. Essa é a grande preocupação em relação a essa verticalização das informações na relação ciência e imprensa.
A imprensa leiga e generalista pouco conhece dos bastidores da ciência e, por isso, alicerçou ainda mais a imagem equivocada de que as pesquisas representam o fenômeno do certo, do exato e preciso. Se fosse assim, a física de Newton não seria nunca contestada e nem a física quântica seria estudada e admitida.
Precisamos, como profissionais de imprensa, de cuidados redobrados, pois a história já nos mostrou exemplos trágicos de como os dogmas científicos destroem reputações. Basta conhecer a história de Galileu, Louis Pasteur e Charles Darwin, entre uma infinidade de outros que foram para o limbo da ciência e nunca mais resgatados.
A abertura de espaço para uma parcela importante do segmento científico, que ousou a escancarar a questão em nível mundial, deveria vir acompanhada do contraditório. Mas a dogmatização do discurso ambiental fez com que houvesse "bandidos e mocinhos" nesta história. E quem se opõe ao modelo proposto e plenamente aceito pela imprensa foi e é marginalizado, ou totalmente banido do cerne da discussão.
Verdades "inquestionáveis"
Então, os jornalistas se tornaram pregadores evangelizados pelas novas verdades do fim do mundo. Um equívoco imenso! A discussão aqui não é estabelecer o certo ou errado em termos científicos, mas sim, expandir a abordagem e conceder espaços aos que chegaram a pontos divergentes em suas pesquisas para que esses possam ser vistos como integrantes da discussão, sem satanalizá-los por serem contrários à nova seita ambiental.
O ideal é retomarmos os fundamentos do jornalismo, no qual o contraditório também é escutado e promovido. Mas isto só se consegue com visão imparcial, sem paixões e tendo a objetividade como algo a ser alcançado. O absolutismo, seja em qualquer setor, é para mentes tacanhas e desprovidas do poder de análise.
A imprensa deve manter-se longe desta polarização e evitar ser um órgão da inquisição ambiental em curso, em cujas fileiras há os soldados da defesa do planeta em guerra contra os possuídos pelos demônios da destruição terrena. Nada de nos transformarmos no inquisidor espanhol Tomás de Torquemada destes novos dogmas, incontestes, verdades inquestionáveis e absolutas. Isto é incompatível tanto ao jornalismo moderno como à ciência.
(Por Júlio Ottoboni, Envolverde/Observatório da Imprensa, 29/12/2008)