Pela primeira vez, cientistas conseguiram derivar células-tronco embrionárias autênticas de ratos. A novidade deve ajudar no desenvolvimento de modelos animais mais eficientes para o estudo de doenças que afetam o homem.
O trabalho, feito por pesquisadores da Universidade do Sul da Califórnia (USC), nos Estados Unidos, foi publicado na edição de 26 de dezembro da revista Cell. Na mesma edição, um grupo liderado por cientistas da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, descreveu conquista semelhante, em estudo independente.
“Trata-se de um desenvolvimento importante na pesquisa com células-tronco porque os ratos estão muito mais próximos do homem do que os camundongos em vários aspectos de sua biologia. Muitos laboratórios pelo mundo mudarão a direção de suas pesquisas por conta da disponibilidade de obter células-tronco embrionárias de ratos”, afirmou Qi-Long Ying, professor da Escola de Medicina Keck e principal autor do estudo.
A descoberta representa um passo à frente no objetivo de criar ratos “nocauteados”, ou seja, modificados geneticamente para que não tenham um ou mais genes e possam ser usados na pesquisa biomédica. Ao observar o que acontece com os animais quando um gene específico é removido, os pesquisadores podem identificar a função desse gene e se ele está ligado a uma determinada doença.
“Sem células-tronco embrionárias autênticas é impossível realizar modificações genéticas precisas para a criação do modelo de doença que queremos. A disponibilidade de células-tronco de ratos vai facilitar enormemente a criação de modelos para o estudo de diversas doenças humanas, como câncer, diabetes, pressão alta ou doenças auto-imunes”, disse Ying.
Sinais bloqueados
Curiosamente, como apontou o pesquisador nascido na China, a importante descoberta ocorreu em 2008, o ano do rato de acordo com o horóscopo chinês.
Células-tronco embrionárias fornecem uma ferramenta valiosa para lidar com questões biológicas fundamentais por permitir que os cientistas estudem como os genes funcionam e desenvolvam animais com condições de representar doenças humanas.
As primeiras linhagens de células-tronco embrionárias foram derivadas a partir de camundongos em 1981, por Martin Evans, da Universidade de Carfiff, no Reino Unido, que no ano passado ganhou o Prêmio Nobel de Medicina e Fisiologia. Desde então os cientistas da área têm tentado derivar tais células de ratos, mas sem sucesso porque os métodos usados em camundongos não funcionam nos roedores maiores do gênero Rattus.
Com base em estudos recentes, o grupo de cientistas da USC descobriu que as células-tronco embrionárias de ratos podem ser derivadas e cultivadas na presença do “meio 3i”, que consiste de moléculas que inibem três componentes específicos da sinalização celular: as proteínas quinases GSK3, MEK e FGF.
Essa abordagem isola as células-tronco de sinais que normalmente fariam com que elas se diferenciassem, ou seja, se transformassem em células especializadas no organismo. Ao bloquear tais sinais, os pesquisadores verificaram que as células-tronco de ratos podiam ser cultivadas indefinidamente em laboratório em seu estado primitivo embrionário.
O artigo Germline competent embryonic stem cells derived from rat blatocysts, de Qi-Long Ying e outros, pode ser lido por assinantes da Cell.
(Agência Fapesp, 29/12/2008)