Estatal adquire refinaria de olho no aumento da demanda no país
O Japão importa cerca de 500 milhões de litros de etanol por ano. O Brasil é o responsável pelo fornecimento de 380 milhões, ou 76%. Mas o planejamento estratégico do governo japonês na área de energia para os próximos dez anos, a fim, também, de atender aos compromissos assumidos no Protocolo de Kyoto, com o objetivo de reduzir a emissão de gás carbônico, projeta um potencial de consumo de 12 bilhões de litros por ano. "É um dos motivos pelos quais estamos aqui em Okinawa", afirma João Brandão, diretor da refinaria adquirida pela Petrobrás no país asiático.
Por enquanto, as instalações da empresa na cidade de Nishihara, município vizinho de Naha, a capital da Província de Okinawa, destina-se, basicamente, a atender ao mercado local com derivados de petróleo, como gasolina, diesel, óleo combustível, querosene, GLP, asfalto, dentre outros.
A possibilidade de servir como posto avançado para a comercialização de etanol, não só no Japão como no restante do continente asiático, depende mais de decisões governamentais. O que é bom para os interesses da empresa é que nunca o mundo esteve tão sensível às questões ecológicas.
Muitas medidas visando a proteger a natureza já estão em curso. No Japão, uma lei foi aprovada autorizando a adição de 3% de etanol na gasolina. E até o início do ano que vem, a Petrobrás já terá postos com sua bandeira e o combustível definido como E3 (gasolina com 3% de álcool), ainda que a recente crise financeira internacional possa atrasar um pouco o projeto, como lembra Yoichi Hashimoto, relações públicas da Nansei Sekiyu, nome da refinaria controlada pela Petrobrás.
As ações da indústria brasileira de elevar o Japão à condição de grande consumidor de etanol incluíram, há pouco mais de dois anos, a criação da Brazil-Japan Ethanol (BJE), empresa formada pela Petrobrás e a estatal japonesa Nippon Alcohol Hanbai KK, com sede em Tóquio. É o caminho inverso do que a história sempre mostrou.
Kuniyuki Terabe é o vice-presidente executivo. Sua preocupação, bem como a do presidente da Nansei Sekiyu, o nissei Osvaldo Kawakami, é mostrar aos japoneses que 46% da energia utilizada no Brasil provém de fontes renováveis, biomassa e hidráulica, enquanto no Japão não passa de 4,7%.
Companhias japonesas como as montadoras Honda e a Toyota produzem, no Brasil, veículos concebidos para operar com 100% de etanol. Com uma produção de etanol de 22 bilhões de litros ano passado e estimados 30 bilhões para 2010, o Brasil se mostra preparado para atender à eventual demanda japonesa.
"E o nosso etanol não pode ser acusado de aumentar os custos de alimento no mundo por ser derivado de cana-de-açúcar", lembra Kawakami, que faz questão de esclarecer também que "a cana não ocupa espaço de outras culturas (apenas 0,8% da área agrícola), como erroneamente se acredita, e ainda não é responsável pelo desmatamento da Amazônia".
O etanol poderá ser misturado à gasolina, ao óleo combustível usado nas termoelétricas e como substituto de nafta na indústria petroquímica. No caso do biodiesel, se o governo japonês autorizar a adição de 5%, o chamado D5, as necessidades da nação crescerão de cara para 1,8 bilhão de litros de etanol.
VANTAGENS
Uma das grandes vantagens da Brazil-Japan Ethanol é a possibilidade de acompanhar todo o processo, desde a produção do álcool na usina, no Brasil, o transporte em caminhões adequados aos portos de exportação e o embarque em navios com capacidade de 40 milhões de litros para a Coréia.
No país vizinho, o etanol é repassado para navios de 4 mil toneladas por causa das restrições dos portos japoneses. Na seqüência, vão aos tanques de estocagem e depois adequados às necessidades dos clientes antes de chegar no consumidor final. A Brazil-Japan Ethanol montou um sistema de controle da manutenção da qualidade do etanol em todo o trajeto.
"A Petrobrás não tinha nenhum ativo na Ásia e deseja internacionalizar-se. Investir aqui em Okinawa representa participar de mercados consumidores importantes e outros muito promissores, como China e Índia, bem próximos", explica Brandão. Os próprios derivados de petróleo, enquanto o esperado boom do etanol não chega, têm sido um bom negócio para a empresa.
(Por Livio Oricchio, O Estado de S. Paulo, 28/12/2008)