Desde fevereiro de 2005, o nível médio do Guaíba não é tão baixo. A escassa chuva das últimas semanas no Estado, principalmente na Capital e na Região Norte, onde ficam os principais afluentes, diminuiu drasticamente o volume de água. Até ontem, a marca neste mês alcançava 19 centímetros, apenas três acima do registrado há quase quatro anos. O número é 39 centímetros menor do que a média histórica para dezembro.
Em 2005, o Estado enfrentava o auge de uma forte estiagem. A situação ainda não é tão grave, mas já preocupa, pois o verão, época de pouca precipitação, recém se iniciou. Autoridades ligadas ao abastecimento e à navegação ligaram o botão de alerta e começam a olhar para o céu.
O diretor da Superintendência de Portos e Hidrovias, Gilberto Cunha, aponta que, apesar do baixo limite mensal, o Guaíba já apresentou escalas diárias menores do que as atuais. Em 2005, chegou a sete centímetros abaixo da linha num dia – ainda bem acima dos 35 centímetros negativos de 1979. Na manhã de ontem, a régua hidrométrica localizada na Ilha da Pintada indicava oito centímetros acima do nível do mar. Não é a menor deste ano. Em janeiro e fevereiro, o limite chegou a zero em pelo menos cinco dias.
– Chegar próximo a zero é normal e não afeta a navegação. Se ficar mais baixo, começamos a monitorar e estudar a possibilidade de diminuir o peso das cargas – aponta Cunha.
Nível do Rio Gravataí é considerado preocupante
Quando o Guaíba desce, tem conseqüência direta também no gosto da água que sai das torneiras na Capital. A baixa favorece a floração de algas e o Departamento Municipal de Água e Esgoto (Dmae) precisa adicionar carvão ativado no processo. Apesar de potável, a água fica com cheiro e sabor ruins.
– Hoje, essa é a nossa principal preocupação, pois o abastecimento está garantido, mesmo que o nível desça mais ainda – assegura o diretor da Divisão de Tratamento do Dmae, Renato Rossi.
O fenômeno dos mexilhões dourados, que obstruía a canalização de água bruta e diminuía o abastecimento nesta época do ano, está controlado, segundo Rossi. O diretor atesta que mesmo o Guaíba baixando ainda mais, é possível manter a produção de 6,4 mil litros por segundo, o suficiente para atender toda a cidade.
Na Região Metropolitana, porém, a situação é mais preocupante. No Rio Gravataí, que abastece 1 milhão de pessoas, a captação de água para irrigação poderá se tornar intermitente a qualquer momento – três dias com bombeamento e dois dias sem atividade – se o nível alcançar um metro. Pela medição de ontem da Corsan, em Alvorada, o rio encontrava-se com 1,09 metros.
(ZH, 24/12/2008)