Há vinte anos, um seringueiro e ativista brasileiro foi assassinado em sua casa no Estado do Acre por rancheiros que se opunham a sua tentativa de salvar a floresta amazônica. Depois de sua morte aos 44 anos, Francisco Alves Mendes, mais conhecido como Chico, se tornou um mártir do conceito que só agora ganha apoio local: de que o valor de uma floresta de pé é maior do que o de uma que foi cortada e queimada em nome do desenvolvimento.
Neste mês, o Brasil adotou medidas que os ambientalistas acreditam que servirão para aproximar o país de realizar a visão de Mendes. O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva divulgou objetivos ambiciosos de redução do desflorestamento e das emissões de dióxido de carbono em um país que é um dos maiores emissores do mundo destes gases causadores do efeito estufa.
O plano promete tornar o Brasil em um participante mais ativo no debate mundial sobre a mudança climática, ajudando a pressionar os Estados Unidos e a União Europeia a concordarem com os cortes nas emissões que podem reverter os efeitos da mudança climática. Além disso, pode encorajar mais contribuições de países ricos que essencialmente pagam o Brasil para que conserve suas florestas para o bem de toda a humanidade.
Mas alguns ambientalistas questionam se os novos objetivos, que iriam reduzir o desflorestamento brasileiro em até 72% até 2017, são possíveis em um país que mostrou poucos sinais de conseguir ajustar seu modelo de desenvolvimento como grande fornecedor de alimentos ao mundo, especialmente em meio à crise econômica.
Para conseguir atingir a primeira fase de cortes planejados, o Brasil teria que reduzir o desflorestamento no próximo ano em 20%, para menos de 10,359.9524 km2. Essa seria a menor quantidade por ano registrada no país, disse Paulo Adario, diretor da campanha pela Amazônia do Greenpeace no Brasil.
A Economia brasileiro é centralizada na exportação de produtos alimentícios, como a soja e a carne, e itens como o minério de ferro.
"O modelo brasileiro é ser um fornecedor de alimentos para o mundo e uma grande fonte de etanol", disse Adario. "A economia continuará a se mover na mesma direção básica. Não há mágica no Brasil".
A ênfase na produção alimentícia gerou grande parte do desflorestamento da Amazônia, ele disse. No final dos ano 1960 e 1970, o governo militar encorajou famílias sem-terra a se mudarem para a região. Construtores de estradas, especuladores de terras e rancheiros foram em seguida e a floresta sumiu em um ritmo cada vez maior.
"O Brasil sempre se posicionou de forma defensiva em relação à mudança climática", disse Brasil Carlos Minc, ministro do meio-ambiente do país. "Agora mudamos completamente, aprovando um plano mais ambicioso do que a Índia e a China".
Minc disse que o plano ajudaria a cumprir exigências de países mais desenvolvidos, inclusive dos Estados Unidos, que disse não concordar com cortes nas suas emissões até que países menos desenvolvidos que produzem quantidades significativas de gases causadores do efeito estufa fizessem o mesmo.
O desflorestamento gera mais de um quinto do dióxido de carbono dos humanos, de acordo com algumas estimativas. Cerca de 75% das emissões de carbono do Brasil vêm do desflorestamento, disse Minc.
O plano do Brasil diminuiria essas emissões agressivamente, evitando que cerca de 4.8 bilhões de toneladas de dióxido de carbono fossem emitidos até 2018. Alguns ambientalistas argumentam que acordos envolvendo compensações monetárias pela proteção de florestas podem enfraquecer acordos climáticos de muitas maneiras. Eles também dizem que o plano deixa os objetivos mais difíceis para o governo que sucederá Lula quando seu mandato acabar em 2010.
Ainda assim a medida é vista por muitos cientistas e especialistas em clima como um avanço. "Pela primeira vez nós temos objetivos claros para reduzir o desflorestamento", disse Walter Vergara, principal climatologista para a América Latina do Banco Mundial.
A recessão global pode diminuir a demanda por produtos agrícolas, além de diminuir o fluxo de tecnologia necessário para tornar as indústrias mais eficientes e limitar o envolvimento de governos estrangeiros como Noruega, Suécia e Alemanha, cujos pagamentos ajudariam a preservar a floresta. Até então, estes países não sugeriram que irão diminuir suas contribuições, disse Minc.
"A recessão global e a crise climática não precisam necessariamente ser adversárias, com uma competindo pelos recursos da outra", disse Minc.
(Por Alexei Barrionuevo, NYT, Ultimo Segundo, 22/12/2008)