Duas matérias relacionadas aos 20 anos da morte do líder sindical Chico Mendes publicadas no jornal britânico The Guardian nesta segunda-feira dizem que centenas de ativistas ambientais correm o risco de serem assassinados no Brasil e que Mendes é o "Gandhi, ou talvez o Che Guevera da nossa era ambiental".
Em meia página, o jornal marca os 20 anos da morte do seringueiro, sindicalista e ativista ambiental brasileiro, assassinado em 22 de dezembro de 1988 a mando de um fazendeiro no Acre.
A matéria principal, assinada por Tom Phillips, correspondente do jornal no Rio de Janeiro, destaca o legado de Chico Mendes e o risco de assassinato que diversos ambientalistas e ativistas de direitos humanos ainda sofrem no Brasil.
A matéria cita um estudo da Comissão Pastoral da Terra, a ser publicado no próximo ano, que sugere que pelo menos 260 pessoas vivem sob risco de assassinato por causa da luta contra um conjunto de fazendeiros, boiadeiros e madeireiras que operam na região amazônica.
Segundo o jornal, entre os ameaçados estaria um padre francês que vive na cidade de Xinguara, o sindicalista Maria José Dias da Costa e o bispo austríaco Dom Erwin Krautler.
A matéria é acompanhada por um artigo assinado por Charles Clover - um dos mais renomados jornalistas especializados em meio ambiente do Reino Unido e que conheceu Mendes pessoalmente.
Intitulada "Chico Mendes - Mártir dos nossos tempos", o artigo cita o sucesso das reservas extrativistas e daquelas administradas por comunidades indígenas estabelecidas por Mendes em proteger partes da Amazônia.
"Agora as pessoas falam na adoção de cotas de carbono para proteger áreas similares ao redor do mundo", diz a coluna.
"E me dou conta de que conheci o mártir dos nossos tempos - o Gandhi, ou talvez Che Guevarra, de nossa era ambiental".
Legado
A matéria do correspondente do jornal inclui dados do governo brasileiro sobre o desmatamento na Amazônia, que aumentou 64% em 2008 em relação ao ano anterior, e do Ibama sobre o desmatamento de 3 mil hectares dentro da reserva extrativista que leva o nome de Chico Mendes.
O jornal cita os dados para afirmar que o "legado prático" de Mendes ainda divide a opinião de ambientalistas.
Em entrevista ao jornal, Alfredo Sirkis, membro do Partido Verde e amigo de Chico Mendes, afirma que ainda não sabe se a morte do ambientalista foi em vão.
"Não posso dizer que alguma coisa melhorou, mas nos últimos 20 anos, houve uma continuação da devastação da região", disse ele ao The Guardian.
Já a ex-ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, que também já foi seringueira, Chico Mendes deixou um "grande legado".
"Ele falava sobre assuntos a frente de seu tempo", afirmou Silva ao jornal.
(BBC - British Broadcasting Corporation, 23/12/2008)