A temporada reprodutiva das tartarugas marinhas em ilhas oceânicas começou neste mês e vai até julho de 2009 no País. No Espírito Santo, as tartarugas desovam na ilha de Trindade, distante 1.140 km do continente, e considerado o maior sítio reprodutivo da tartaruga-verde ou aruanã (Chelonia mydas) do Brasil.
A expectativa, segundo o Projeto Tamar, é que o número de ocorrências em Trindade, Fernando de Noronha (PE) e Atol das Rocas (RN) supere as 3.542 registradas na última temporada. Ao todo, deverão ser protegidos cerca de cinco mil ninhos.
Além da tartaruga-verde também desovam no litoral capixaba as tartarugas da espécie Caretta-caretta, conhecida também como tartaruga-cabeçuda e a Dermochelys coriácea, mais conhecida como tartaruga gigante. Só no ano passado, 1.698 ninhos destas espécies foram registrados pelo Tamar nas praias capixabas.
Para proteger os ninhos, o coordenador técnico do Projeto Tamar, Antônio de Pádua Almeida, explica que o projeto conta com sete bases estaduais localizadas no continente, que cobrem desde o litoral de Anchieta, no sul do Estado, até a divisa com a Bahia. Há, ainda, a base da Ilha de Trindade, onde anualmente são registrados de 3 a 5 mil ninhos por ano.
Em menor quantidade, reproduzem-se também no litoral do Estado, as tartarugas-de-pente (Eretmochelys imbricata) e oliva (Lepidochelys olivacea).
Com a proteção, já foi possível perceber um aumento gradual do número de filhotes liberados ao mar, como aponta o Tamar. Até 2007, foram 8 milhões de filhotes protegidos. Além disso, foi registrado que mais de 70% dos ninhos permanecem in situ (mantidas nos locais originais de postura), sem a manipulação dos ovos. Há a transferência apenas de desovas localizadas em praias de difícil monitoramento, em zonas urbanas ou com altas taxas de predação e erosão na praia.
O Projeto Tamar aponta que durante o período reprodutivo de 2007 uma importante comprovação foi feita na base de Comboios, em Linhares, norte do Estado. Uma fêmea de Caretta caretta (tartaruga cabeçuda), marcada pela primeira vez nessa base, em novembro de 1982, foi flagrada novamente na mesma praia durante a última temporada.
A mesma fêmea já havia sido flagrada nessa região nas temporadas de 1993, 1995, 1997 e em 2004, o que mostra uma fidelidade de pelo menos 25 anos à praia de desova. Trata-se de uma longevidade reprodutiva nunca antes registrada e se for considerado que essa espécie leva cerca de 30 anos para se tornar adulta, essa “velhinha” tem no mínimo 75 anos.
A orientação para o verão é que as pessoas, caso se deparem com um ninho, não toque e entre em contato imediatamente com o Projeto Tamar, no número (27) 3222-1417.
De que cada mil filhotes que nascem, somente um ou dois conseguem atingir a maturidade. Alem dos obstáculos naturais que eles enfrentam, há ainda o principal predador que é o homem, o maior responsável pelo risco de extinção sofrido pelas tartarugas marinhas.
Ilha de TrindadeA ilha surgiu há aproximadamente três milhões de anos, da zona abissal do Atlântico Sul, por atividades vulcânicas. As profundidades oceânicas do seu redor atingem 5800m. A parte emersa atinge até 620m, cobrindo 9,28 km². O clima é do tipo oceânico tropical, com temperaturas entre 25,2° C e 17,3°C.
Até 1850, a ilha era coberta por uma floresta de árvores Colubrina granulosa, hoje inexistente. Abriga uma diversificada fauna marinha com recifes de algas calcáreas, invertebrados, peixes, aves e tartarugas marinhas. Desde 1957 é guarnecida por um posto da Marinha do Brasil com cerca de 40 homens, membros da guarnição e dois oficiais (comandante e médico), que permanecem na ilha por períodos de quatro meses. Viagens de reabastecimento são realizadas a cada dois meses, para troca de metade da guarnição. Trindade possui uma estação meteorológica que diariamente envia dados para a Diretoria de Hidrografia e Navegação.
CapacitaçãoEstão abertas as inscrições para o II Curso de Observadores de Bordo e para o I Curso de Conservação de Tartarugas Marinhas em Ilhas Oceânicas, na Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes).
O objetivo do curso, que é oferecido a universitários do Espírito Santo, é passar informações sobre a interação da pesca com as tartarugas marinhas. Ao todo serão disponibilizadas 100 vagas.
Os cursos são promovidos pelo Instituto Ecomaris, com patrocínio da prefeitura de Vitória e apoio da Capitania dos Portos, Projeto Tamar, Albatroz e Baleia Jubarte.
Mais informações no link WWW.ecomaris.org.br/curso/html
(Por Flavia Bernardes,
Século Diário, 23/12/2008)