Como a maioria dos seringueiros, Chico nasceu e foi criado na floresta Amazônia. Descendente de nordestinho, Chico foi trabalhar na seringa quando tinha por volta de 12 anos.
Apesar de nunca ter freqüentado a escola, Chico Mendes aprende a ler e escrever quando tinha cerca de 20 anos, ao conhecer Euclides Fernandes Távora, um velho militante do Partido Comunista Brasileiro refugiado na floresta. Segundo o líder seringueiro, Euclides exerceu grande influência sobre Mendes, ensinando-o também questões sobre política, sindicalismo e socialismo.
As primeiras ações de Chico Mendes em defesa dos seringueiros começam na década de 1970. "Esse foi um dos momentos mais difíceis porque, antes éramos explorados, mas tínhamos o direito de estar em nossas colocações [área do seringal onde a borracha é produzida], se a gente não gostava desta, mudava e ia para outra, trocava com outros seringueiros. Quando o latifúndio chegou, essas áreas passaram a ser dos fazendeiros e todos nós tínhamos que ir embora das colocações e ir para as cidades ou então virar peão deles para destruir nossa floresta, onde a gente tinha nascido e sido criado", afirma Raimundo Mendes de Barros, mais conhecido como Raimundão, primo de Chico Mendes, e companheiro de lutas.
Nessa época, os trabalhadores se organizaram para burlar o sistema de vigilância dos fazendeiros, que controlavam a venda da produção dos seringais. Fazendo isso, era possível vender parte da produção para outros intermediários, que pagavam um preço mais justo. "Nem eu, nem o Chico e nem muitos outros companheiros nossos, nunca fomos trabalhar em fazendas. Pelo contrário, nós ignoramos a transformação do seringal para a fazenda, não aceitamos e foi justamente isso que nos deu motivo e razão para nos organizar", diz Raimundão.
Em 1975, Chico passa a atuar como secretário geral do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Brasiléia e no ano seguinte organiza os "empates". Nessa forma de mobilização política, os seringueiros se reuniam em frente a uma área de floresta que estava prestes a ser derrubada, e "abraçavam" as árvores, posicionando-se na frente dos tratores e impedindo que o meio de sobrevivência dos seringueiros - a floresta amazônica - virasse pasto. "Passamos a reivindicar os nossos direitos a partir de uma mobilização, resistência e reação lá dentro da floresta. Para não deixar destruir nossas colocações, nós criamos o sistema de empate. Depois nos vimos que, com isso, iríamos nos cansar e não iríamos chegar a lugar nenhum porque eles [fazendeiros] tinham todos os apetrechos: dinheiro, a polícia e o próprio governo, que na época era a favor dos fazendeiros", conta Raimundão.
Depois disso, explica ele, os seringueiros liderados por Chico Mendes começaram a arrumar aliados e a fazer com essa luta e o que estava acontecendo dentro da floresta pudesse chegar ao conhecimento da cidade, da capital do Acre, de outras cidades o Brasil e do exterior, com o objetivo de adquirir aliados para nos ajudar a fortalecer essa luta.
Nos anos seguintes, Chico fundou o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Xapuri e foi eleito vereador pelo MDB à Câmara Municipal local. Foi nessa época que sua luta começou a incomodar os poderosos da região, e quando começaram as primeiras ameaças de morte.
Em 1979, Chico Mendes é acusado de subversão e, no ano seguinte, foi enquadrado na Lei de Segurança Nacional, a pedido dos fazendeiros, que o acusavam de incitar posseiros à violência e tentavam envolvê-lo com o assassinato de um capataz. Nesse tempo, Chico passa um período preso e é torturado, mas depois é absolvido pelo Tribunal Militar de Manaus.
Na década de 1980, Chico contribui para a criação do Partido dos Trabalhadores no Acre, devido às resistências que encontra no MDB, e em 85 lidera o 1º Encontro Nacional dos Seringueiros, quando é criado o Conselho Nacional dos Seringueiros (CNS). Surgem propostas como a "União dos Povos da Floresta", reunindo índios e seringueiros na defesa da Amazônia e a proposta da criação de Reservas Extrativistas.
O líder seringueiro passa a ter contato com o movimento ambientalista nacional e internacional. Até então, os ambientalistas acreditavam que os povos da floresta eram um problema para Amazônia e Chico mostrou que na verdade eles eram a solução. "A gente era ecologista antes de escutar essa palavra", disse o líder seringueiro.
O sonho de Chico Mendes, nas suas próprias palavras, era ver a floresta preservada. Mas ele lembrava que a Amazônia não pode ser um santuário intocável. Com a proposta do extrativismo, a Amazônia poderia ser ao mesmo tempo preservada e viável economicamente.
Em 1987, a Organização das Nações Unidas (ONU) visita Xapuri, e pouco tempo depois Chico é convidado a discursar no Senado dos Estados Unidos. Lá, o seringueiro denuncia os financiamentos do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), que resultavam em desmatamento e impactos sociais. Com isso, os financiamentos são cancelados e Chico é acusado pela elite local de "prejudicar o progresso". Alguns meses depois, Chico ganha diversos prêmios internacionais, entre eles o Global 500, da ONU, pela defesa do meio ambiente.
No ano seguinte, começa a implantação das primeiras reservas extrativistas no Acre. Conseqüentemente, as ameaças de morte se intensificam, principalmente depois da desapropriação do Seringal Cachoeira, do fazendeiro Darly Alves da Silva. No dia 22 de dezembro de 1988, o filho de Darly, Darci Alves da Silva, mata Chico Mendes.
O assassinato atingiu uma repercussão inesperada. Dois dias depois, saiu na capa do The New York Times, um dos jornais mais influentes do mundo. Darly e Darcy foram condenados a 19 anos de prisão. Hoje, o pai cumpre pena domiciliar, e o filho, após um período foragido, foi preso novamente por outro assassinato.
A luta de Chico Mendes e inclusive a repercussão de sua morte deu força política para os seringueiros e para os projetos de Reservas Extrativistas. Hoje, as Resex são quase 5% da Amazônia Legal.
(
Amazonia.org.br, 22/12/2008)