(29214)
(13458)
(12648)
(10503)
(9080)
(5981)
(5047)
(4348)
(4172)
(3326)
(3249)
(2790)
(2388)
(2365)
urbanização desordenada
2008-12-19
A região metropolitana de Campinas (SP) é uma das que mais crescem no Brasil em termos de produtividade – mas também em índices de criminalidade e favelização. Para a geógrafa Maria Adelia Aparecida de Souza, o caso da cidade paulista, ao ser analisado à luz de novas teorias, ajuda a explicar como o processo contemporâneo de formação da metrópole está ligado de forma intrínseca ao aumento da pobreza.

Atualizar a epistemologia do conhecimento sobre a metropolização, ajustando-a às características de funcionamento do mundo contemporâneo, é exatamente o objetivo da recém-lançada coletânea de estudos A metrópole e o futuro – Refletindo sobre Campinas, organizada por Maria Adelia, professora titular aposentada da Universidade de São Paulo (USP) e da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Camp).

Segundo ela, o livro reúne contribuições de seus alunos e pesquisadores do Laboratório de Geografia Política e Planejamento Territorial e Ambiental (Laboplan), na USP, que dialogam com pesquisas realizadas em outras universidades do Brasil e do exterior. A produção do livro contou com apoio da FAPESP na modalidade Auxílio a Publicação e o projeto de pesquisa foi apoiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

No livro, os 29 capítulos – um para cada autor – estão organizados em seis partes: “Formação metropolitana campineira: reflexões e análises atrevidas”, “Campinas: memória funcionalidade e desafios”, “Desafios metropolitanos: criações e possibilidades”, “Desigualdades metropolitanas: limites e possibilidades”, “Desafios urgentes: segurança pública e violência” e “Modernizações incompletas da metrópole: saúde e tecnologia”.

Novas teorias sobre a urbanização e a metropolização vêm sendo desenvolvidas no Laboplan desde 1987, quando o laboratório foi criado sob a liderança de Maria Adelia e do geógrafo Milton Santos (1926-2001). De acordo com a professora, as pesquisas aprofundadas desde então foram discutidas em um evento que foi a base do livro: o seminário “A metrópole e o futuro: dinâmicas do lugar e a metropolização”, realizado em 2006, em Campinas.

“Acompanho muito de perto os trabalhos feitos na área urbana da sociologia, da antropologia e do planejamento. Vejo que a produção é riquíssima do ponto de vista empírico e analítico, mas está muito envelhecida do ponto de vista teórico. Por isso, o livro tem esse tom de atualizar a epistemologia do conhecimento sobre metropolização”, disse à Agência Fapesp.

Segundo Maria Adelia, a maioria esmagadora dos trabalhos atuais é feita com base nas teorias do entendimento da urbanização e da metropolização de uma perspectiva funcionalista, assentada sobre a doutrina urbanística da Carta de Atenas, o manifesto urbanístico concebido por Le Corbusier em 1933.

“Muitas vezes o discurso é sofisticado, mas, como as teorias não dão conta da realidade contemporânea, os estudos acabam sempre concluindo que os problemas das cidades se resumem a aspectos setoriais como transportes, enchentes ou saneamento básico. Por isso, sempre procuramos desenvolver novas teorias”, destacou.

Território: espaço vivido

Para Maria Adelia, é impossível, atualmente, pensar em metrópole e urbanização sem considerar o território como um todo. “Não entendemos a metrópole como um organismo fechado em si mesmo – ela não se confunde, portanto, com o que chamamos de município ou de região metropolitana. O conceito que usamos é o da metrópole corporativa e fragmentada. É um sistema aberto no qual as corporações tratam de instituir e criar os territórios metropolitanos. São Paulo, por exemplo, não se limita às suas divisas, mas estende seus tentáculos por todo o Brasil”, explicou.

Na maior parte das vezes, no entanto, a idéia de território é utilizada em uma concepção antiga, ligada a um enunciado político-administrativo. “O território, para nós, não é um espaço vazio, é território usado. É um plano de existência. Tudo o que acontece no território é prática vivida. E o uso não significa presença – a Amazônia é quase vazia, mas é um fantástico território usado, na medida em que é território conhecido”, disse.

O uso do território – que, segundo Maria Adelia, é a principal novidade do período histórico atual – define outro conceito: o lugar. “Não confundimos o conceito de lugar com o de município, por exemplo. O lugar é definido como o espaço do acontecer solidário”, apontou.

Essa solidariedade, segundo ela, pode ter diferentes naturezas: ela pode se dar entre as pessoas, a fim de viver e garantir a existência, mas pode ser também uma solidariedade organizacional, criada entre as empresas para promover o uso do território de acordo com seus interesses.

“Pode ser também uma solidariedade institucional, que é um fato novíssimo no mundo: os estados nacionais se solidarizando e criando os mais de 200 mercados comuns existentes hoje no mundo, por exemplo”, disse.

Para a professora, o conceito do território da geopolítica – que se configura em entidades como município, estado e país – não dá mais conta da dinâmica atual do mundo. “Com essas categorias não se pode estudar as transnacionalização das empresas nos territórios. As empresas se solidarizam com outras empresas e ignoram as fronteiras do conceito geopolítico de território”, afirmou.

Segregação socioespacial

Por outro lado, o território brasileiro, por exemplo, se encaixa no conceito de “território normado”. A norma, no caso, é a Constituição, que delimita um território nacional que, em tese, pertence a todas as pessoas, organizações e instituições que possuem aquela nacionalidade.

“Mas sabemos que isso não acontece. As metrópoles hoje são um conjunto de lugares e apenas alguns desses lugares, dentro dos organismos metropolitanos, constituem-se em espaços da globalização. A globalização, ao escolher usos específicos dentro do território metropolitano, acaba gerando um intenso e acelerado processo de segregação socioespacial”, indicou.

Segundo ela, a globalização vive em função do desenvolvimento tecnológico, que tem na metrópole seu território preferido. Mas nesse território há espaços cada vez mais modernizados e extensões cada vez maiores de pobreza.

“Esse processo contemporâneo de formação da metrópole engendra o aumento da pobreza. As metrópoles não são mais ricas, nem nunca mais o serão, se não discutirmos o novo modelo civilizatório, pois o atual está se exaurindo”, disse.

A geógrafa alerta que os governos continuam tratando as cidades como se elas estivessem na década de 1960, priorizando itens como o transporte em suas políticas. Segundo ela, a gestão e as políticas públicas não deviam ser setoriais, mas territoriais, pois o território é a expressão da totalidade.

“O transporte serve para aumentar a fluidez. Mas a quem interessa isso? Os trabalhadores precisam fluir para ir ao trabalho. Mas não há mais trabalho. Então priorizar o transporte serve apenas para fazer circular as idéias e as mercadorias. As prioridades não deveriam ser setoriais, mas territoriais”, disse.

A metrópole e o futuro – Refletindo sobre Campinas
Autora: Maria Adelia Aparecida de Souza (org.)
Lançamento: 2008
Preço: R$ 60
Páginas: 552
Mais informações na Livraria Cultura .

(Por Fábio de Castro, Agência Fapesp, 18/12/2008)

desmatamento da amazônia (2116) emissões de gases-estufa (1872) emissões de co2 (1815) impactos mudança climática (1528) chuvas e inundações (1498) biocombustíveis (1416) direitos indígenas (1373) amazônia (1365) terras indígenas (1245) código florestal (1033) transgênicos (911) petrobras (908) desmatamento (906) cop/unfccc (891) etanol (891) hidrelétrica de belo monte (884) sustentabilidade (863) plano climático (836) mst (801) indústria do cigarro (752) extinção de espécies (740) hidrelétricas do rio madeira (727) celulose e papel (725) seca e estiagem (724) vazamento de petróleo (684) raposa serra do sol (683) gestão dos recursos hídricos (678) aracruz/vcp/fibria (678) silvicultura (675) impactos de hidrelétricas (673) gestão de resíduos (673) contaminação com agrotóxicos (627) educação e sustentabilidade (594) abastecimento de água (593) geração de energia (567) cvrd (563) tratamento de esgoto (561) passivos da mineração (555) política ambiental brasil (552) assentamentos reforma agrária (552) trabalho escravo (549) mata atlântica (537) biodiesel (527) conservação da biodiversidade (525) dengue (513) reservas brasileiras de petróleo (512) regularização fundiária (511) rio dos sinos (487) PAC (487) política ambiental dos eua (475) influenza gripe (472) incêndios florestais (471) plano diretor de porto alegre (466) conflito fundiário (452) cana-de-açúcar (451) agricultura familiar (447) transposição do são francisco (445) mercado de carbono (441) amianto (440) projeto orla do guaíba (436) sustentabilidade e capitalismo (429) eucalipto no pampa (427) emissões veiculares (422) zoneamento silvicultura (419) crueldade com animais (415) protocolo de kyoto (412) saúde pública (410) fontes alternativas (406) terremotos (406) agrotóxicos (398) demarcação de terras (394) segurança alimentar (388) exploração de petróleo (388) pesca industrial (388) danos ambientais (381) adaptação à mudança climática (379) passivos dos biocombustíveis (378) sacolas e embalagens plásticas (368) passivos de hidrelétricas (359) eucalipto (359)
- AmbienteJá desde 2001 -