As regiões metropolitanas de São Paulo, de Rio de Janeiro e de Vitória desmataram, juntas, o equivalente a 990 campos de futebol como o do Maracanã nos últimos três anos. Os dados dessas regiões indicam que o desmatamento de mata atlântica aumentou entre 2005 e 2008, contrariando a tendência de queda existente no país nos anos anteriores.
Na região metropolitana de São Paulo, por exemplo, o desmatamento passou de 48 hectares entre 2000 e 2005 para 437 hectares entre 2005 e 2008. Ou seja, ocorreu um crescimento de 810%.
Nas outras duas áreas analisadas também houve aumento da destruição da mata atlântica no período. Na região metropolitana do Rio de Janeiro, passou-se de 94 hectares desmatados para 205 hectares --118% de incremento. E, na região metropolitana de Vitória, o desmatamento passou de 86 hectares para 150 hectares (74% de aumento).
As informações são do Atlas de Remanescentes Florestais da Mata Atlântica, realizado pela Fundação SOS Mata Atlântica e pelo Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). O mais alarmante é que quase não existe mais mata atlântica para ser destruída --restaram no Brasil somente 7,26% de florestas nativas desse bioma, ou um total de 9,87 milhões de hectares.
O atlas consegue identificar somente áreas desmatadas acima de 3 hectares --isso significa que desmatamentos menores podem passar despercebidos. "Antigamente, os desmatamentos eram normalmente de 10 a 20 hectares. Hoje, há desmatamentos menores do que 1 hectare. Porém, pegamos com segurança os que possuem até 3 hectares", afirmou o pesquisador Flavio Ponzoni, coordenador do atlas pelo Inpe.
Dados completos do atlas costumavam ser divulgados a cada cinco anos. Agora, o prazo cai para dois anos.
Mesmo assim, Ponzoni ressalta que as informações não servem para questões de fiscalização, que precisam ser mais ágeis e acontecer em períodos muito mais curtos de tempo.
Obras, especulação imobiliária e invasões irregulares podem ser as causas do desmatamento apontado no atlas. Porém, tanto a SOS quanto o Inpe afirmam que é preciso fazer vistorias de campo nas regiões para determinar o que motivou a destruição de florestas.
Em São Paulo, o Rodoanel é um dos grandes responsáveis pelo aumento de desmatamento, já que sozinho somou 201 hectares desmatados.
A serra da Cantareira também teve importância no processo. Sem contar a estrada, foi responsável por metade da destruição da floresta.
No caso do rodoanel, Marcia Hirota, diretora da SOS e coordenadora do atlas, afirma que a preocupação não é somente com o que já foi desmatado. "Sem dúvida é uma obra que tem benefícios sociais. O problema é que o rodoanel é indutor para novas desmatamentos. O poder público precisa ficar muito atento", diz ela.
(Por AFRA BALAZINA, Folha de S.Paulo, 18/12/2008)