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eucalipto no pampa silvicultura passivos da silvicultura
2008-12-19
Muito tem se dito e escrito sobre o bioma Pampa e a monocultura de eucaliptos nos últimos tempos, como se a coexistência entre a árvore e os campos fosse impossível. É salutar a preocupação de inúmeras pessoas e organizações não-governamentais, mas raramente existe coerência entre as críticas e a real proporção dos projetos florestais dentro dos campos sulinos. A ouvidos incautos e mentes ansiosas por uma causa, anuncia-se a “invasão” do Pampa, mas não se explica satisfatoriamente o que significa em termos reais esta “invasão”. Em recente artigo, militante ambiental informa que o Bioma Pampa ocupa 180 mil km2 do Rio Grande do Sul - 18 milhões de hectares - e que apenas 0,46% está protegido em Unidades de Conservação - 82.800 de hectares. Ainda segundo o texto, 4,7 milhões de hectares foram modificados entre 1970 e 2005. Haverão de convir que isso ocorreu antes do início dos projetos florestais na Metade Sul.

Hoje, o Rio Grande do Sul tem cerca de 500 mil hectares de florestas plantadas (pinus, eucaliptos e acácia) e pode-se estimar que dois terços dessa área, quando muito, estariam na região do Pampa, portanto cerca de 330 mil hectares. Se todos os projetos florestais projetados – os já anunciados e outros complementares - se concretizarem, essa área se duplicaria e, portanto, ter-se-iam 660 mil hectares, equivalente a 3,7 % do Pampa ocupados para produzir madeira e alimentar fábricas de celulose, indústrias de madeira como MDF e outros produtos similares, serrarias, fábricas de móveis e madeira para a construção civil, etc. Parece óbvio que, ante o percentual de ocupação de 3,7%, esta rejeição ao cultivo de eucalipto é desmedida, para não falar da divulgação deliberada de informações incorretas.

É regra elementar do setor florestal brasileiro não converter remanescentes de vegetação nativa para plantios de árvores. Em geral, utilizam-se somente áreas antropizadas e degradadas, a maioria de difícil aproveitamento econômico ou recuperação ambiental. No caso gaúcho, a não-ocupação de áreas de campo nativo é, inclusive, um dos condicionantes das licenças ambientais para a silvicultura, licenças estas bastante rígidas, com mais de três dezenas de condicionantes, diferentemente das acusações de “flexibilização” no órgão ambiental.

É lamentável que alguns setores radicais do movimento ambiental omitam o modelo atual de plantações florestais, que ocupa somente em torno de 50% das propriedades, destinando os outros 50% restantes para conservação - incluindo áreas de preservação permanente (APPs) e reserva legal (RL) exigidas em lei e cumpridas rigorosamente pelo setor florestal. Mais do que isso, menospreza-se que, com esse modelo de ocupação, a silvicultura estará gerando 660 mil hectares de áreas protegidas no Rio Grande do Sul. E efetivamente protegidas, com trabalhos ativos de regeneração e conservação. Somente com essa contribuição, o setor florestal manterá 7,8 vezes mais do que a atual extensão das Unidades de Conservação existentes. Seria isso condenável do ponto de vista ambiental, sabendo-se que o aparato estatal brasileiro não apresenta condições de gerar e manter essa extensão de UCs?

O eucalipto tem sido demonizado por alguns segmentos sociais, que se apóiam na desinformação e em histórias da carochinha. Batem insistentemente que eucalipto é bom para secar banhado. Curioso que, entre os técnicos que planejam e executam plantios, é consenso que excesso de água acaba por enfraquecer a planta e matá-la “afogada”. Também se diz que é um ser exótico ao Pampa, mas esquecem que arroz, milho, trigo, soja, o gado e muitos dos "gringos" que construíram o Rio Grande do Sul também o são. A respeito de exóticos e nativos, Frei Leonardo Boff, pai da Teologia da Libertação, dá uma valiosa lição no livro Mundo Eucalipto: “Mais importa considerar os ecossistemas dentro do grande sistema-Terra. Eles são expressões da vitalidade de Gaia. Ela é o grande sujeito, alimentador de todos os biomas com suas respectivas espécies e indivíduos. Para a Terra não há seres exóticos. Todos são seus filhos e filhas, nascidos de seu grande e generoso ventre.”

Passados três anos de intenso debate e discussão, inclusive com diversas ações judiciais em andamento, pergunto-me por que o valoroso movimento ambiental gaúcho, que se espelha no legado de Lutzenberger (que pediu e foi sepultado à sombra de eucaliptos, no Rincão Gaia), dê as costas para questões mais graves e importantes do que os possíveis impactos da silvicultura no Pampa. Se contra o eucalipto sobram seminários, artigos, palestras e impropérios – sem falar nas ações de foices e machados -, resta o beneplácito a outras pragas e a resignação da sociedade frente aos próprios problemas ambientais que gera. Naturalmente é mais fácil eleger empresas de atuação global como alvo, porque dá ares de que a “causa” é grande e de que não faltarão apoiadores para repetir slogans estapafúrdios como o famigerado “deserto verde” e para buscar recursos onde quer que seja para suas ações, no Brasil e no Exterior.

Enquanto baterias continuam apontadas contra o eucalipto, que há mais de cem anos fornece madeira para o homem no Pampa, a arenização corre frouxa na Fronteira Oeste, os rios estão cada vez mais assoreados e o capim-annoni cavalga ligeiro pelas coxilhas pampeanas. Sobre o annoni, recente estudo do Instituto Hórus divulgado pelo jornal Folha de S.Paulo informou que 2 milhões de hectares do Pampa já estão infestados por essa praga. Quer dizer, temos uma monocultura de annoni, dotado de propriedades alelopáticas que o fazem um voraz exterminador de campo nativo. A perspectiva do Instituto Hórus, conforme divulgado pela imprensa, é de que em 2015 sejam 4,5 milhões de hectares de capim-annoni sobre o Pampa. Se a silvicultura alcançar 1 milhão de hectares no Rio Grande do Sul até 2015, ainda assim estará em enorme desvantagem, pois serão quatro hectares de annoni para cada um de eucalipto.

Enquanto os olhos dos movimentos ideológico-ambientais continuam mirando somente a copa dos eucaliptos e logotipos corporativos, o capim vai devorando sorrateiramente os remanescentes do Pampa. Por essas e por outras, é evidente que o eucalipto não é uma ameaça em se tratando da sustentabilidade do Pampa. Assim como sua escolha como alvo preferencial não é apenas uma causa ambiental.

(Por  Paulo Damião*, texto recebido por e-mail, 19/12/2008)
*Relações Públicas e diretor da CL-A Comunicações

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