Fenômeno pode estar ligado às enchentes de novembro em Santa Catarina
A mancha avermelhada que surpreendeu os gaúchos ao pintar uma extensão de 20 quilômetros do mar no Litoral Norte desde quarta-feira trata-se de uma floração de algas pouco comuns no Estado. A Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) analisou ontem amostras de água marinha coletadas em Tramandaí a quase um quilômetro da orla.
Os microorganismos encontrados, cuja proliferação pode estar relacionada às enchentes em Santa Catarina, não costumam ser tóxicos.
Por iniciativa própria, uma equipe de biólogos do Centro de Estudos Costeiros, Limnológicos e Marinhos (Ceclimar) da UFRGS, em parceria com a Brigada Militar e a Petrobras, utilizou uma embarcação da estatal para avançar cerca de 800 metros mar adentro e fazer duas coletas do material – utilizando uma espécie de rede e uma garrafa. A análise preliminar feita pela bióloga Luciana de Souza Cardoso apontou a presença de uma quantidade elevada de células de uma alga chamada Noctiluca scintillans.
Esse tipo de microorganismo, conforme a especialista, pode formar populações densas em um fenômeno conhecido como Maré Vermelha pela tonalidade que seus pigmentos emprestam à água. Uma maré deste tipo não é necessariamente tóxica – como a que atingiu o Litoral Sul há 30 anos.
– Não conheço registros de florações de Noctiluca tóxicas, mas estou averiguando na base de dados de trabalhos mundiais. A amostra coletada apresentou quantidade considerável de zooplâncton (grupo predador das algas) sem qualquer efeito causado por eventual toxina – sustenta.
A espécie flagrada esta semana no Litoral Norte não é comum na costa do Estado, mas já havia provocado surpresa em janeiro de 2005. Naquela ocasião, em vez de chamar a atenção pela coloração avermelhada, ela atraiu a curiosidade da população ao emitir brilho à noite. Esse brilho se devia a uma reação química devido ao atrito com as ondas. Geralmente, a proliferação de algas a ponto de criar manchas vermelhas está associada a algum tipo de distúrbio no ambiente, como excesso de nutrientes trazido por correntes marítimas ou presença de esgoto doméstico.
– Pode estar relacionado ao aumento de cargas de nutrientes no mar devido a correntes marítimas vindas de Santa Catarina. A enchente certamente fez com que grande quantidade de terra, com nutrientes para as algas, fosse carregada para o mar – avalia a bióloga.
Na quarta-feira, a mancha foi avistada pelo menos desde Capão da Canoa até os arredores de Tramandaí. Ontem, voltou a aparecer nas proximidades de Tramandaí e Cidreira. Não houve registro de morte de animais marinhos.
(Por Marcelo Gonzatto, ZH, 19/12/2008)