A partir de Janeiro a comunidade científica portuguesa vai iniciar a maior campanha de sempre na Antárctida, com cinco projectos no continente branco que passam pelo estudo do impacto das alterações climáticas no ecossistema. Esta tarde foi apresentada a campanha e o programa “Nova Geração de Cientistas Polares” que atribuirá bolsas a seis jovens investigadores.
A campanha, apresentada pelo Programa Polar Português – estrutura criada em Dezembro de 2007 no âmbito do Ano Polar Internacional – na Culturgest, em Lisboa, estará no terreno com cinco projectos que vão estudar o permafrost (solo permanentemente gelado), a forma como as espécies se estão a adaptar às alterações climáticas e o oceano Antárctico.
José Xavier, da Universidade do Algarve, vai partir em Fevereiro para a Geórgia do Sul e prepara-se para aí passar dez meses. “Queremos saber como é que o oceano antárctico funciona com as alterações climáticas e a que nível os animais se conseguem adaptar, partindo da cadeia alimentar”, explicou o cientista. “Será um estudo desde a alga à baleia”.
Parte da sua campanha vai decorrer durante o Inverno antárctico. “É nessa altura que se registam as maiores mudanças climáticas mas é um período ainda pouco estudado”, comentou.
Paulo Catry vai para a ilha Falkland estudar albatrozes com a ajuda de sistemas GPS. “Vamos fazer contagens de colónias, monitorizar o sucesso reprodutor dos animais, ver como evoluem as populações”. Actualmente, quase todas as 22 espécies de albatrozes estão ameaçadas.
Seis jovens investigadores mais perto da Antárctida
O Programa Polar Português apresentou ainda o programa “Nova Geração de Cientistas Polares” que, através do financiamento da CaixaCarbonoZero, da Caixa Geral de Depósitos, vai atribuir seis bolsas a jovens investigadores que serão integrados em campanhas internacionais na Antárctida.
“Até agora são poucos os jovens que tinham ido aos pólos. Queremos ampliar a massa crítica e reforçar a participação portuguesa” em projectos polares ligados às alterações climáticas, explicou Gonçalo Vieira, do Programa Polar Português. As bolsas representam um investimento de 130 mil euros e terão a duração entre um e dois anos.
João Sentieiro, presidente da Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT), revelou que “está em fase muito avançada de preparação a assinatura do Tratado para a Antárctica” por Portugal. Em Fevereiro de 2007 foi discutida na Assembleia da República uma proposta de adesão de Portugal a esse Tratado, apresentada pelo Partido Ecologista “Os Verdes”.
Segundo João Sentieiro, esta assinatura “facilitará a utilização pelos nossos cientistas das estruturas de outros países, passando a existir uma cobertura institucional para o que actualmente se resume a propostas feitas pelos investigadores a nível pessoal”.
O presidente da FCT reconhece que o trabalho dos portugueses no âmbito do Programa Polar Internacional, que começou em Março de 2007 e termina em Fevereiro de 2009, teve grande influência na decisão do Governo português em assinar o Tratado. “O seu trabalho conseguiu uma grande visibilidade internacional”, salientou.
O Tratado da Antárctida, instituído em 1959, tem como objectivo a protecção do continente gelado do Sul e defende que a sua exploração seja exclusivamente dedicada à paz e à ciência.
Gonçalo Vieira avançou que já está a ser preparado o futuro da comunidade científica polar portuguesa pós-Ano Polar Internacional. João Sentieiro adiantou ao PÚBLICO que deverá ser preparado um programa que dê continuidade ao trabalho já realizado, nomeadamente através de linhas de financiamento específicas.
(Por Helena Geraldes, Ecosfera, 17/12/2008)