Esta coluna cumpre o doloroso dever de informar que os jornalistas ambientais entraram na lista das espécies ameaçadas de extinção. A notícia saiu outro dia em GreenBiz, um site estrategicamente plantado na esquina onde o caminho do planeta para o pronto-socorro cruza com formas mais limpas de ganhar dinheiro. E dali se vê que a crise financeira está batendo em cheio na área verde das redações, segundo o colunista Joel Makower.
Os ventos que soprou as folhas de pessoal nas últimas semanas “foram devastadores”, segundo Makower. A revista Fortune demitiu seus dois especialistas no assunto. A rede CNN desmontou sua equipe de cobertura ambiental, a começar pelo âncora Miles O’Brien. O Weather Channel fechou o departamento responsável pela série Forecast Earth que, em vez de previsões meteorológicas para os próximos cinco dias, trata de adivinhar o destino da terra.
Baixas editoriais
E houve baixas notórias nas editoriais ambientais dos jornais The New York Times, Los Angeles Times e San Francisco Chronicle. Em parte, porque a receita publicitária caiu. E sem dúvida porque há ofertas mais baratas ou gratuitas no mercado de derivativos jornalísticos, onde se acotovelam blogueiros, oferecendo mais ou menos os mesmos serviços.
Tudo isso poderia caber tranquilamente na conta da economia desgovernada, que engole tudo. Mas Makower alega que, assim como as montadoras de carros americanos, o jornalismo ambiental já vinha mal das pernas antes da quebradeira geral. Simplesmente porque envelheceu. Ele herdou dos bons tempos de militância ecológica o faro muito atilado para rastrear más notícias, e não notou a tempo que seu próprio êxito em despertar para a causa a opinião pública conspira contra a obrigação quase diária de tirar novidades da eterna fonte de más notícias.
Convencer o mundo de que qualquer atividade humana – inclusive respirar – tem preço para o equílibrio geral da terra, o repórter especializado começa precisar de reciclagem, sob pena de ir parar no aterro do desemprego vitalício. Denúncia tem limite, numa civilização industrial que até agora foi incapaz de produzir um alfinete, e levá-lo da fábrica ao balcão, sem poluir ou desperdiçar.
Fazer tudo errado é a rotina. E a rotina, em si, não dá notícia. Makower, que tem vinte anos de experiência nesse tipo de cobertura diz que os jornalistas estão perdendo, nesta quebradeira mundial, uma chance história de renovar seu ofício, aprendendo a olhar de perto o que vêm pela frente.
Energia esperta
A indústria automobilística americana, com ou sem respiração boca-a-boca do governo, tende a se transformar radicalmente, ou desaparecer. Depois de entupir as ruas por mais de um século com motores de combustão interna, ela já já estava mesmo no fim da linha, adiando a chegada do carro elétrico e da “energia esperta”. A construção civil, desde a vidada da década, tem fincados em prédios autosustentáveis, que geram eletricidade com seus próprios resíduos e esgotos. As fábricas tratam rapidamente de se livrar dos tóxicos, rejeitados pelos consumidores pelo menos em produtos de ponta.
Se uma só dessas profecias se concretizar, ocorreria o que Makower chama de revolução. E as revoluções sempre foram a notícia favorita de nove entre dez jornalistas.
(Por Marcos Sá Corrêa, OEco, 18/12/2008)