Enquanto as frotas baleeiras do Japão se dirigem ao sul para a temporada anual de caça, a organização ambientalista Greenpeace e o governo da Austrália concentram sua batalha contra essa prática na diplomacia e em convencer a opinião pública japonesa. Nem Austrália nem Greenpeace enviarão navios ao oceano Antártico este ano. “Cremos que devemos focar todos nossos esforços no Japão, e que as coisas fora desse cenário apenas desviariam nossa atenção”, disse Reece Turner, da campanha pelas baleias do Greenpeace Austrália Pacífico. A entidade mudou de tática este ano para exercer mais pressão sobre os baleeiros japoneses.
Turner disse que o Greenpeace, que em nove dos últimos 20 anos seguiu de perto e boicotando a atividade dos baleeiros, “agora está onde tudo acontece, no Japão”. O que motivou esta mudança – disse Turner À IPS – foi a denúncia feita em maio por ativistas da organização sobre carne de baleia vendida no mercado negro por membros do navio baleeiro Nisshin Maru. Ambos foram detidos e devem ser julgados no Japão no próximo ano acusados de roubar a carne. Turner disse que o escândalo colocou sob as luzes a indústria baleeira. “Isto despertou um enorme interesse sobre o tema e agora são feitas perguntas que não se fazia antes”, acrescentou.
O Greenpeace disse que isto coincidiu com a queda do apoio público no Japão ao programa baleeiro nacional. A organização ambiental informou que 71% dos japoneses estão contra. Além disso, notícias recentes anunciam o iminente fechamento do restaurante Yushin, em Tóquio, por razões financeiras. O Yushin é propriedade do Instituto de Pesquisa Cetácea, organização sem fins lucrativos responsável pelo estudo de baleias no Japão. O Greenpeace destacou que há uma crescente publicidade contrária à indústria baleeira devido ao escândalo da carne.
Segundo a organização, o barco que reabastece de combustível a frota baleeira japonesa, o Oriental Bluebird, que tinha bandeira panamenha, foi desautorizados por esse país centro-americano. “Se não puderem conseguir um navio de reabastecimento em um curto espaço de tempo, não poderão caçar metade da cota de baleias que desejam”, afirmou Turner. Entretanto, nesta temporada, os baleeiros pretendem caçar cerca de mil animais, a maioria baleias mink. Pela segunda temporada consecutiva, o Japão se absterá de calar baleias humpback.
Embora tenha sido implementada uma moratória sobre a caça comercial pela Comissão Baleeira Internacional em 1986, o Japão aproveita um vazio no acordo para realizar sua atividade “científica”. E enquanto o Instituto de Pesquisa Cetácea insiste em dizer que sua atividade lhe permite saber mais sobre a situação desses animais, ambientalistas e vários governos, como o da Austrália, vêem nessa atividade um pretexto para o comércio de carne de baleia. O governo australiano, que enviou um navio aduaneiro, o Oceanic Viking, para acompanhar de perto a atividade da frota japonesa no oceano Antártico na temporada passada, não fará o mesmo desta vez.
Canberra explicou que a embarcação cumpriu seus objetivos na temporada passada. “O Viking completou com sucesso sua missão no começo deste ano. Dissemos que vigiaríamos as atividades baleeiras. O fizemos e coletamos evidências com vídeos e fotos de alta resolução para seu possível uso em ação legal”, disse o ministro do Meio Ambiente, Peter Garrett, em uma entrevista dada no mês passado à rádio ABC. Por outro lado, a Austrália concentrará seus esforços na diplomacia e em sua própria pesquisa científica das baleias, que, ao contrário do programa japonês, não é letal.
Garrett acaba de anunciar a decisão de destinar US$ 41,1 bilhões para financiar esse programa. “A Austrália não acredita que seja necessário matar baleias para entendê-las. A pesquisa moderna usa técnicas genéticas e moleculares, bem como detectores via satélite, métodos acústicos e estudos aéreos em lugar de arpões”, disse o ministro em uma declaração feita no mês passado.
(Por Stephen de Tarczynski, IPS, Envolverde, 17/12/2008)