As mudanças climáticas podem fazer explodir o número de famintos no mundo nas próximas décadas e promover uma revolução na geografia da produção mundial de grãos e alimentos. A ONU estima que o aquecimento do planeta geraria 600 milhões de novos famintos até 2080, além dos quase 1 bilhão que já sofrem hoje com a baixa nutrição.
Enquanto a população mundial promete crescer 30% até 2080, a produção agrícola pode sofrer uma queda de até 16%. No Brasil, a previsão é de uma queda de até 17% na produção.
O alerta faz parte de um levantamento feito pelo Peterson Institute, um dos mais reconhecidos internacionalmente por seus estudos sobre o comércio mundial. O estudo foi considerado como a base de um relatório divulgado hoje (17) pela ONU sobre os riscos para a agricultura nas próximas décadas. "A maior ameaça no campo hoje é a degradação ambiental e as mudanças climáticas", afirmou Olivier de Schutter, relator da ONU contra a fome.
Segundo o levantamento, os países em desenvolvimento sofrerão uma queda que irá variar entre 10% e 25% em sua produtividade até 2080. No mundo, a queda de produção será de 3% a 16%.
O principal motivo seria o aquecimento do planeta e a mudança nos regimes das chuvas. A desertificação também seria um dos motivos.
Na Índia, a queda da produção agrícola pode chegar a 40%. "Alguns países pequemos podem ter colapso na produção", afirma o estudo. No Sudão, a queda de produção seria de até 56%, contra 52% no Senegal. O levantamento estima que a produção no Brasil também sofrerá com as mudanças climáticas e que o País considerado como celeiro do mundo pode perder esse título. No geral, a produção brasileira poderia cair entre 4% e 17% até 2080.
A região mais afetada seria a da Amazônia, com queda de produção variando entre 16% a 27%. No Nordeste, a queda seria de 7% a 19%. Já nos Estado do Sul, a redução seria menor, variando entre 3% e 16%.
Já nos países ricos, a produção pode até aumentar diante das temperaturas mais moderadas no Hemisfério Norte. Mas não seriam capazes de compensar a perda de produção dos países emergentes. Em algumas regiões dos Estados Unidos, o impacto poderia ser tão duro como nas regiões tropicais. No sudeste dos Estados Unidos, a queda pode chegar a 35%.
Para especialistas, o temor é de que as mudanças climáticas possam de fato gerar um número ainda maior de famintos. Hoje, 963 milhões de pessoas são consideradas mal-nutridas, um a cada seis habitantes do planeta.
Em apenas um ano, o número de famintos aumentou em 100 milhões diante da crise gerada pela alta nos preços dos alimentos. E a expectativa é de que a população mundial passe dos atuais 6,6 bilhões para cerca de 9,5 bilhões até 2080.
Diretor do Peterson Institute, Fred Bergsten alerta que o levantamento deve servir de base para que governos entendam que a questão do aquecimento do planeta terá um impacto social bem mais profundo do que se imagina. "Os governos que estão preocupados em lutar contra a pobreza também terão de lutar contra crimes ambientais", alertou o executivo. (AE)
(Por Jamil Chade, Reporter Diário, 17/12/2008)