A Fundação SOS Mata Atlântica e o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), acabam de anunciar os dados do Atlas dos Remanescentes Florestais da Mata Atlântica de 2005 a 2008 referentes às regiões metropolitanas de São Paulo, Rio de Janeiro e Vitória (ES), que apresentaram um aumento expressivo nos últimos três anos, contrariando a queda na taxa entre 2000-2005. Juntas, essas regiões desmataram 793 hectares do Bioma Mata Atlântica, equivalente a cerca de 990 campos de futebol iguais ao do Maracanã. “A supressão de florestas nativas em áreas potencialmente importantes é preocupante e um fator de risco para a sadia qualidade de vida das pessoas que vivem nas regiões metropolitanas. Essa pressão que a metrópole exerce precisa ser melhor controlada com políticas locais e mobilização da sociedade. ”, comenta Marcia Hirota, diretora de Gestão do Conhecimento da SOS Mata Atlântica.
A região metropolitana de São Paulo foi a campeã de desmatamento em relação às outras duas regiões mencionadas, já que nos últimos três anos, 437 hectares foram suprimidos, ou seja, nove vezes mais que no período de 2000 a 2005, quando o número foi de 48 hectares. Quase metade dessas últimas ocorrências aconteceu na região da Cantareira, responsável por abastecer mais da metade da população da região metropolitana de São Paulo. Estão contabilizados neste total os 201 hectares desmatados no Rodoanel. A taxa anual de desmatamento entre o período 2005-2008 aumentou 14 vezes comparado com o período de 2000-2005.
Já na região metropolitana do Rio de Janeiro, o desmatamento dobrou, de acordo com a pesquisa. O número absoluto de supressão de floresta nativa na região é de 205 hectares nos últimos três anos, contra os 94 relatados entre 2000 e 2005. Os municípios de Itaboraí e Nova Iguaçu são os mais críticos, com desmatamentos no entorno da Reserva Biológica do Tinguá. A taxa anual de desflorestamento entre o período 2005-2008 aumentou 3,6 vezes comparado com o período de 2000-2005.
Os dados anunciados mostram que na região metropolitana de Vitória, no Espírito Santo, 150 hectares foram suprimidos, sendo que 68 foram no município de Guarapari, enquanto no período anterior o número foi de 86 hectares.
Neste último levantamento não foram identificadas alterações em áreas de mangue e restinga, apenas em florestas nativas, o que resulta em uma maior fragmentação do Bioma. Foram computados nos números áreas de desmatamento a partir de três hectares, embora o sistema permita visualizar os desmatamentos com áreas menores.
Em maio de 2009, serão divulgados os dados completos do Atlas dos Remanescentes Florestais da Mata Atlântica. Os mapas de mais de 3,4 mil municípios abrangidos pela Mata Atlântica serão disponibilizados para que os novos prefeitos ou prefeitos reeleitos, vereadores, bem como toda sociedade possam se apropriar desses dados e contribuir para a proteção da Mata Atlântica, que requer um esforço coletivo.
A SOS Mata Atlântica e o INPE, passarão a anunciar o monitoramento a cada dois anos, e a cada quatro anos fará um balanço correspondente àquela gestão municipal ou estadual. “Já estão disponíveis os dados das cidades que compõem o Bioma Mata Atlântica tendo como ano base 2005 e em maio teremos toda a base atualizada”, afirma Flavio Ponzoni, coordenador do Atlas pelo INPE. “Estamos aprimorando cada vez mais nossas ferramentas de monitoramento para obter dados mais precisos e mais rapidamente, disponibilizando para a sociedade em nossos portais www.sosma.org.br e www.inpe.br”.
A Mata Atlântica é aqui
A Mata Atlântica, complexo e exuberante conjunto de ecossistemas de grande importância, abriga parcela significativa da diversidade biológica do Brasil, reconhecida nacional e internacionalmente no meio científico. Lamentavelmente, é também um dos biomas mais ameaçados do mundo devido às constantes agressões ou ameaças de destruição dos habitats nas suas variadas tipologias e ecossistemas associados.
Distribuída ao longo da costa atlântica do país, atingindo áreas da Argentina e do Paraguai na região sudeste, a Mata Atlântica abrangia originalmente 1.300.000 km² no território brasileiro. Seus limites originais contemplavam áreas em 17 Estados, (PI, CE, RN, PE, PB, SE, AL, BA, ES, MG, GO, RJ, MS, SP, PR, SC e RS), o que correspondia a aproximadamente 15% do território do Brasil, segundo Decreto Federal 750/93 e Lei específica, a 11.428/06, que dispõe sobre a utilização e a proteção da vegetação nativa do Bioma Mata Atlântica.
Nessa extensa área, vivem atualmente 67% da população brasileira (IBGE, 2007), ou seja, mais de 122 milhões de habitantes, em 3,4 mil municípios abrangidos, que correspondem a 61% dos existentes no Brasil (IBGE, 2005).
Atlas dos Remanescentes Florestais da Mata Atlântica
A realização do "Atlas dos remanescentes florestais e ecossistemas associados do Bioma Mata Atlântica nos períodos 1985-1990, 1990-1995, 1995-2000, 2000-2005", desenvolvido pela Fundação SOS Mata Atlântica e o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), órgão vinculado ao Ministério da Ciência e Tecnologia, representa um grande avanço na compreensão da situação em que se encontra a Mata Atlântica.
O primeiro mapeamento do Atlas dos Remanescentes Florestais da Mata Atlântica, publicado em 1990 pela SOS Mata Atlântica e o INPE, com a participação do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), teve o mérito de ser um trabalho inédito sobre a área original e a distribuição espacial dos remanescentes florestais da Mata Atlântica e tornou-se referência para pesquisa científica e para o movimento ambientalista. Foi desenvolvido em escala 1:1.000.000.
Em 1991, a SOS Mata Atlântica e o INPE deram início a um mapeamento em escala 1:250.000, analisando a ação humana sobre os remanescentes florestais e sobre as vegetações de mangue e de restinga entre 1985 a 1990. Publicado em 1992/93, o trabalho avaliou a situação da Mata Atlântica nos dez Estados - Bahia, Espírito Santo, Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso do Sul, São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul - que apresentavam a maior concentração de áreas preservadas. Os estados do Nordeste não puderam ser avaliados pela dificuldade de obtenção de imagens de satélite sem cobertura de nuvens.
Uma nova atualização ocorreu em 1998, desta vez cobrindo o período de 1990-1995, com a digitalização dos limites das fisionomias vegetais da Mata Atlântica e de algumas Unidades de Conservação federais e estaduais, elaborada em parceria com o Instituto Socioambiental.
Entre o período de 1995-2000, fez-se uso de imagens TM/Landsat 5 ou ETM+/Landsat 7 analisadas diretamente em tela de computador, permitindo a ampliação da escala de mapeamento para 1:50.000 e conseqüentemente a redução da área mínima mapeada para 10 hectares. No levantamento anterior, foram avaliadas as áreas acima de 25 hectares. Os resultados revelaram novamente a situação da Mata Atlântica em 10 dos 17 estados - a totalidade das áreas do bioma de Goiás, Minas Gerais, Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo, Mato Grosso do Sul, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul e áreas parciais da Bahia - que abrangeram nesta etapa 1.185.000 km2, ou seja, 94% da área total do Bioma Mata Atlântica.
Em 2004, a SOS Mata Atlântica e o INPE lançaram o “Atlas dos Municípios da Mata Atlântica”, de forma a fornecer instrumentos para o conhecimento, o monitoramento e o controle para atuação local. A partir da identificação e da localização dos principais remanescentes florestais existentes nos municípios abrangidos pela Mata Atlântica, cada cidadão, diferentes setores e instituições públicas e privadas puderam ter fácil acesso aos mapas por meio da internet e se envolver e atuar em favor da proteção e conservação deste conjunto de ecossistemas. O desenvolvimento da ferramenta de publicação dos mapas na internet foi realizado pela ArcPlan, utilizando tecnologia do MapServer (Universidade de Minnesota), com acesso nos portais www.sosma.org.br e www.dsr.inpe.br
Ao final de 2004, as duas organizações iniciaram a atualização dos dados para o período de 2000 a 2005. Esta edição também foi marcada por aprimoramentos metodológicos e novamente foram revistos os critérios de mapeamento, dentre os quais se destaca a adoção do aplicativo ArcGis 9.0 que permitiu a visualização rápida e simplificada do território de cada Estado contido no Bioma Mata Atlântica. Isso facilitou e deu maior segurança nos trabalhos de revisão e de articulação da interpretação entre os limites das cartas topográficas.
A quarta edição do "Atlas dos Remanescentes Florestais da Mata Atlântica” apresentou dados atualizados em 13 estados abrangidos pelo bioma (PE, AL, SE, BA, GO, MS, MG, ES, RJ, SP, PR, SC, RS). Um relatório apresentou a metodologia e os resultados quantitativos da situação dos remanescentes nesses estados e os desflorestamentos ocorridos no período de 2000-2005 em 10 estados, da Bahia ao Rio Grande do Sul. Esta fase manteve a escala 1:50.000, e passou a identificar áreas acima de três hectares e o relatório técnico, bem como as estatísticas e os mapas, imagens, fotos de campo, arquivos em formato vetorial e dados dos remanescentes florestais, por Município, Estado, Unidade de Conservação, Bacia Hidrográfica e Corredor de Biodiversidade.
Em 2008, foram divulgados os números atualizados a partir de análises da quarta edição do Atlas, incluindo os Estados de Bahia, Minas Gerais, Alagoas, Pernambuco e Sergipe, que somados ao mapeamento dos estados de Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará, gerados pela ONG Sociedade Nordestina de Ecologia, totalizam 16 dos 17 Estados onde o Bioma ocorre, ou 98% de Mata Atlântica.
Para o monitoramento e análise da situação da Mata Atlântica desde 1989, foram investidos recursos na ordem de R$ 6 milhões, provenientes da iniciativa privada. A quarta fase contou com recursos do Banco Bradesco e da Colgate-Palmolive/Sorriso Herbal. A execução técnica foi da Arcplan.
Sobre o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE)
O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) foi criado em 3 de agosto de 1961, denominado originalmente Grupo de Organização da Comissão Nacional de Atividades Espaciais (Grocnae). Situado em São José dos Campos (SP), tem unidades de pesquisa e desenvolvimento em Cachoeira Paulista (SP), Atibaia (SP), Cuiabá (MT), Natal (RN), São Luís (MA), São Paulo (SP), São Martinho da Serra (RS), Santa Maria (RS), Brasília (DF) e Eusébio (CE).
O INPE desenvolve tecnologia de satélites de sensoriamento remoto, coleta de dados científicos, além de aplicações e pesquisas científicas na área espacial. Forma recursos humanos nessas áreas, através de cursos de pós-graduação. O programa completo de satélites do INPE envolve, além do desenvolvimento, montagem, integração e testes, um leque mais amplo de atividades, que vai desde a definição da missão do satélite, até o controle de vôo e órbita, a recepção de imagens e dados, o processamento de dados para efeito de estudos, análises, pesquisa científica e previsão de tempo e clima, e a distribuição de imagens e dados. O INPE desenvolveu e colocou em órbita quatro satélites, sendo dois de coleta de dados ambientais (SCD1 e SCD2), ambos operacionais, com concepção, projeto e execução nacionais, e dois de sensoriamento remoto, CBERS 1 (inoperante) e CBERS 2 (operacional), desenvolvidos em parceria com a China. Outros três satélites da família CBERS estão em desenvolvimento: CBERS 2B, CBERS 3 e 4. Na área de infra-estrutura, o INPE mantém o Laboratório de Integração e Testes (LIT) e o Centro de Rastreio e Controle (CRC). Outro objetivo importante do programa é o envolvimento da indústria nacional na fabricação dos subsistemas.
A Missão do INPE é promover e executar estudos, pesquisas científicas, desenvolvimento tecnológico e capacitação de recursos humanos, nos campos da Ciência Espacial e da Atmosfera, das Aplicações Espaciais, da Meteorologia e da Engenharia e Tecnologia Espacial, bem como em domínios correlatos, conforme as políticas e diretrizes definidas pelo Ministério da Ciência e Tecnologia.
Sobre a Fundação SOS Mata Atlântica
A Fundação SOS Mata Atlântica é uma organização não-governamental privada, sem vínculos partidários ou religiosos e sem fins lucrativos. Criada em 1986 por cientistas, empresários, jornalistas e ambientalistas, foi uma das primeiras ONGs destinadas a proteger os últimos remanescentes de Mata Atlântica no País. Sua missão é promover a conservação da diversidade biológica e cultural do Bioma Mata Atlântica e ecossistemas sob sua influência, estimulando ações para o desenvolvimento sustentável, bem como promover a educação e o conhecimento sobre a Mata Atlântica, mobilizando, capacitando e estimulando o exercício da cidadania socioambiental.
Nesses 22 anos de existência, a SOS Mata Atlântica obteve diversas conquistas. Logo no início, popularizou o termo Mata Atlântica por meio de uma grande campanha nacional, incorporado no vocabulário cotidiano do brasileiro. Além disso, conseguiu após 14 anos de tramitação no Congresso, que a Lei da Mata Atlântica – originalmente apresentada pelo então deputado federal Fabio Feldmann - fosse sancionada em 2006. Com os programas Florestas do Futuro e Clickarvore, a Fundação já soma cerca de 20 milhões de árvores plantadas em áreas de reflorestamento. Duas Estradas Parque foram criadas, uma no Guarujá (SP) e outra em Itu (SP) e cerca de 300 grupos foram mobilizados para realizar o monitoramento da qualidade da água do Rio Tietê, uma metodologia que vem sendo replicada também em outras bacias hidrográficas; e centenas de voluntários estão integrados às ações da instituição.
(Lead Comunicação Organizacional, Texto recebido por e-mail, 17/12/2008)