No meio do deserto do Saara, na região argelina de In Salah, um enorme campo de exploração de gás natural funciona nesta terça-feira, 16, como um grande laboratório para amenizar os efeitos dos gases estufa no planeta a partir de uma sofisticada tecnologia. Trata-se do primeiro projeto de grande escala de captura e armazenamento de CO2 em uma jazida de gás.
Segundo Mohamed Keddam, vice-presidente da In Salah Gas, o resultado deste experimento desenvolvido pelas companhias Sonatrach (Argélia), BP (Reino Unido) e Statoil (Noruega) é equiparável ao que se conseguiria se cerca de 200 mil automóveis que percorrem 30 mil quilômetros a cada ano fossem retirados de circulação.
Embora ainda esteja em fase de verificação e controle, o projeto de 30 anos, que teve início em 2004 após um acordo obtido em 2001, já é um sucesso, disse Keddam a um grupo de jornalistas convidados a visitar a instalação.
Para o vice-presidente da companhia, a tecnologia deveria ser aplicada em outras instalações que liberam dióxido de carbono para a atmosfera. No entanto, ele reconhece que se requerem condições nem sempre existentes, como a presença de uma reserva de gás "totalmente íntegra".
Enquanto a União Européia (UE) analisa os riscos desta tecnologia que a Agência Internacional da Energia (AIE) quer promover, cerca de duas mil pessoas já trabalham nisso a 1.700 quilômetros ao sul de Argel, isoladas e protegidas com severas medidas de segurança na paisagem desértica.
A 170 quilômetros da aldeia mais próxima e com temperaturas que no verão superam os 50 graus centígrados, a equipe trabalha 12 horas seguidas todos os dias, durante quatro semanas, alternando um mês de folga, em um serviço que exige máxima concentração.
A instalação para capturar e injetar o dióxido de carbono a dois mil metros debaixo da terra demandou um investimento de US$ 100 milhões. Segundo o presidente da In Salah Gas, Mike Mossmann, o projeto demonstra que é "possível e economicamente aceitável" romper a cadeia entre "o uso de combustíveis fósseis e o dióxido de carbono (CO2)".
Ele explicou que a UE exige que o gás natural importado não contenha mais que 0,3% de dióxido de carbono, mas o gás da rica reserva de In Salah contém uma média de 7% de CO2, e essa foi a razão decisiva para desenvolver este projeto. "A outra opção teria sido liberar para a atmosfera o excedente de CO2 ou não vendê-lo à Europa, mas decidimos capturá-lo e armazená-lo sob a terra", disse Keddam.
Para isso, se utiliza um produto químico que absorve o dióxido de carbono do gás natural, que passa depois por um processo de desidratação e permanece assim para sua exportação, enquanto o CO2 é injetado sob a terra. De acordo com os cálculos, o projeto permitirá recuperar e armazenar 10 milhões de toneladas de CO2.
No ano passado, a Comissão Européia (CE, órgão executivo da UE) lançou uma iniciativa para "analisar os riscos associados" a cada um dos aspectos da captura, do transporte e do armazenamento de dióxido de carbono, tecnologias que poderiam reduzir em até 90% o CO2 produzido nas centrais geradoras de energia.
Por sua vez, o diretor-executivo da AIE, Nobuo Tanaka, defendeu a CCS e, no Fórum Internacional da Energia realizado em abril em Roma, pediu que se mobilizassem os meios para seu desenvolvimento. "Na captura e no armazenamento de carbono necessitaríamos construir pelo menos 20 fábricas até 2020, com um custo de US$ 1,5 bilhão cada uma", disse Tanaka na ocasião.
No entanto, para os dirigentes do projeto, o desenvolvimento desta tecnologia enfrenta um problema: entraria em risco com o barril de petróleo a menos de US$ 30, uma perspectiva que não se descarta em tempos de crise e retrocesso da demanda pela commodity.
(Efe, Estadão, 16/12/2008)