Proposta visa desenvolver um coletor de licor pirolenhoso
A atividade carvoeira, característica das regiões dos rios Caí, dos Sinos, Taquari e Paranhana, é uma alternativa de renda para um grande número de famílias. Somente nas regiões do Sinos, Caí e Taquari, estima-se a existência de dois mil fornos de carvão, sendo destaques os municípios de Salvador do Sul, com 600 fornos, e Brochier, com 450 fornos. Os municípios de Presidente Lucena, Lindolfo Collor e Ivoti possuem 132 fornos. Esse carvão é produzido principalmente a partir da acácia negra, cuja casca é utilizada na produção do tanino.
Com o objetivo de desenvolver um coletor de licor pirolenhoso - substância obtida através da condensação da fumaça do carvão - adaptado à realidade regional de produção de carvão vegetal nas propriedades rurais, a Feevale formalizou um convênio com o governo do Estado, por meio da Secretaria de Ciência e Tecnologia do Estado.
O projeto tem como líder a professora Ângela Beatrice Dewes de Moura. Ela pretende, com o desenvolvimento do coletor versátil de licor pirolenhoso, minimizar os impactos ambientais e possibilitar uma coleta de qualidade comercial. A intenção também é determinar o perfil físico das emissões remanescentes do sistema de coleta (temperatura e velocidade), minimizar lançamentos atmosféricos e determinar o perfil físico-químico das frações obtidas através do sistema de coleta.
Carvão ainda é produzido de forma rudimentar na região
Conforme a pesquisadora Ângela Moura, grande parte da produção de carvão nessas regiões do Estado ocorre em pequenas propriedades agrícolas, de forma quase rudimentar, sem nenhum controle da emissão de poluentes. Devido a isso, a atividade está sofrendo um processo de marginalização, pois os efeitos dessas emissões sobre a saúde dos produtores e dos moradores das proximidades têm preocupado inclusive os órgãos administrativos, ambientais e de saúde pública.
Ângela Moura conta que esses produtores, que muitas vezes também são agricultores, dependem da renda da produção de madeira e de carvão. Como agravante, existem ainda as características topográficas (relevo ondulado) e climáticas de muitos municípios, o que dificulta a dispersão da fumaça proveniente dessa atividade, principalmente nos meses de inverno. Uma alternativa para a minimização do problema seria a coleta do licor pirolenhoso, que hoje já é produzido a partir de outros tipos de madeira, em outras regiões do país e do mundo.
O projeto da Feevale ganha maior importância, ainda, devido à geração de informações e meios que possibilitem a liquefação de boa parte da fumaça. Com isso, haverá uma maximização das quantidades, resultando em uma melhoria da atividade de produção do carvão vegetal (controle de processo de obtenção do subproduto da atividade) na caracterização preliminar do licor pirolenhoso obtido da liquefação de parte das emissões da queima incompleta da acácia negra.
Inovação tecnológica
A comercialização do licor pirolenhoso pode vir a representar uma nova e importante fonte de renda para muitas famílias de pequenos agricultores. Além disso, o produto poderá ser utilizado como fungicida e/ou insumo na própria propriedade, minimizando os custos com insumos na lavoura. "O nosso projeto tem muito a acrescentar, pois possibilita melhorias do processo a partir da adaptação de novas tecnologias para tornar os fornos menos poluentes", afirma Ângela Moura, acrescentando que também estão previstas estratégias de multiplicação dos resultados obtidos a todos os produtores, contribuindo para a melhoria tecnológica da atividade e minimizando impactos ambientais.
Isso já é feito em outras regiões do país, como São Paulo e Minas Gerais, mas no Rio Grande do Sul, mais especificamente nas regiões dos vales do Sinos e do Caí, certamente representará uma inovação tecnológica. Como a atividade no Estado, diferentemente do resto do país, está associada à pequena propriedade e à agricultura familiar, a produção do licor pode se apresentar como uma nova alternativa de renda. Inclusive o projeto está em conformidade com as diretrizes gerais da política de agroenergia do governo federal. As atividades do projeto contam com o apoio da Ascar/Emater, Fetag/RS e da Embrapa.
Alguns benefícios do projeto
- Desenvolvimento da agroenergia a partir do aproveitamento de resíduos e de florestas energéticas cultivadas, objetivando a eficiência e produtividade e privilegiando regiões menos desenvolvidas;
- Promoção da pesquisa e do desenvolvimento de tecnologias agropecuárias adequadas às cadeias produtivas da agroenergia na região do projeto, proporcionando maior competitividade, agregando valor aos produtos e reduzindo impactos ambientais;
- Contribuição para a inserção econômica e social, inclusive com o desenvolvimento de tecnologias apropriadas ao aproveitamento da biomassa energética em pequena escala;
- Interiorização do desenvolvimento, da inclusão social, da redução das disparidades regionais e da fixação das populações ao seu habitat, em especial pela agregação de valor na cadeia produtiva do carvão vegetal e integração às diferentes dimensões do agronegócio;
- Com o aproveitamento dos resíduos do cultivo da acácia negra respeita-se a sustentabilidade dos sistemas produtivos, desestimulando o avanço rumo a sistemas sensíveis ou protegidos, como a Mata Atlântica, e incentivando o uso de matas cultivadas para a produção de carvão e de pirolenhoso;
- Otimização das vocações regionais, uma vez que as regiões já têm a vocação na produção do carvão vegetal, que se dá em pequenas propriedades rurais com oferta abundante de mão-de-obra, propiciando vantagens para o trabalho e para o capital;
- Aderência à política ambiental, pois o projeto, por sua característica de buscar a minimização dos impactos ambientais, está aderente também à política ambiental brasileira e em perfeita integração com as disposições do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) do Protocolo de Quioto, aumentando a utilização de fontes renováveis, com menor emissão de gases de efeito estufa e contribuindo com a mitigação deste efeito por meio do seqüestro de carbono;
- Com os resultados mostrando o nível de qualidade do carvão a partir de florestas plantadas, diminuir a pressão sobre as matas nativas.
(Assessoria de Imprensa e Marketing da Feevale, Texto recebido por e-mail, 16/12/2008)