Contaminação das águas por efluentes, ressecamento de mananciais e êxodo rural são alguns dos impactos da monocultura de eucalipto e das fábricas de celulose no Uruguai. O tema é retratado pelo jornalista Victor Bacchetta em seu livro, “A Fraude da Celulose”, lançado recentemente no país vizinho.
Em 10 anos de monocultura de eucalipto, o Uruguai acumula um forte esvaziamento do campo e a substituição de cultivos de grãos, de animais e do turismo pelo setor. Ao mesmo tempo, as empresas não geraram todos os empregos prometidos.
Dados do Censo Agropecuário de 2000 apontam que para cada mil hectares, o plantio de eucalipto emprega até cinco trabalhadores. Número menor do que a própria pecuária, que emprega em média até 6 trabalhadores e a fruticultura, que chega a 71 trabalhadores por mil hectares.
“Isso produziu uma segunda onda de esvaziamento do campo. Tem se fechado escolas rurais. Verifiquei povos pequenos que trabalham com as fazendas vizinhas tem sido fechadas [abandonadas] porque ficaram sem água. Os poços ficaram secos”, conta.
Bacchetta também derruba alguns mitos ambientais da cadeia produtiva da celulose. Nas lavouras de eucalipto, denuncia o alto consumo de água e a contaminação pelo uso de agrotóxico. Nas fábricas, apesar de usarem tecnologias mais modernas, os efluentes ainda são largados com cloro e, principalmente, nitrogênio e potássio nos rios. Pesquisas demonstram que os efluentes lançados pela fábrica da empresa Botnia no rio Uruguai correspondem ao esgoto sem tratamento de uma cidade de 65 mil habitantes.
O jornalista denuncia ainda que as lavouras de eucalipto não produzem créditos de carbono, como as empresas propagandeiam.
“Tem uma pesquisa científica de um pesquisador uruguaio mostra que o campo captura muito mais carbono do que a plantação. O que acontece é que no campo [pastizado] o carbono é capturado pelo solo e na plantação vai embora, é liberado”, afirma.
O jornalista prevê tempos mais sombrios para os uruguaios. Apenas para suprir a produção de 1 mi de toneladas anuais da fábrica da Botnia, em Fray Bentos, há 1 mi de hectares de eucalipto plantados. Para as próximas fábricas da Ence, Stora Enso e Portucel, estimativas apontam um crescimento para 4 mi de hectares de eucalipto, um quarto das terras agricultáveis do país.
(Por Raquel Casiraghi, Agência Chasque, 16/12/2008)