Cerca de 400 sem terra iniciaram nesta terça-feira (16) uma marcha em direção à Estância do Céu, parte da Fazenda Southall que foi desapropriada pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). A área de 5 mil hectares fica na cidade de São Gabriel (RS), na Fronteira Oeste, e irá abrigar 270 famílias sem terra.
Os sem terra saíram do município vizinho de Santa Margarida do Sul cedo da manhã e seguiram pela BR-290 até a entrada de São Gabriel, onde irão permanecer em uma área cedida por apoiadores. Na quarta-feira, as famílias irão panfletear no município e, na quinta-feira (18), seguem em marcha para a Fazenda Southall, onde ocorre um ato público com a presença de sindicatos e entidades apoiadoras, assentados e acampados e autoridades.
A integrante da coordenação do Movimento Sem Terra (MST), Luciana da Rosa, avalia que a Fazenda Southall e os demais assentamentos que serão criados na região são importantes. No entanto, lembra que totalizam 600 famílias, menos da metade das duas mil que o Incra se comprometeu a assentar até o final do ano.
"Nós reafirmamos o nosso compromisso em seguir lutando pela outra parte da Southall que ainda não foi desapropriada e pelos outros latifúndios da região. Com a reforma agrária, irá se desenvolver"diz.
Voltar a marchar em direção à São Gabriel e à Fazenda Southall é simbólico para o MST. Em 2003, cerca de 800 pessoas realizaram a Marcha de São Gabriel para tomar posse da fazenda, que havia sido desapropriada no mês de Maio pelo governo federal. No entanto, o proprietário Alfredo Southall discordou da vistoria realizada pelo Incra e recorreu ao Supremo Tribunal Federal, que revogou a desapropriação. Ao mesmo tempo, ruralistas bloquearam a BR-290 em Santa Margarida do Sul e um juiz da região resolveu congelar a área para evitar conflito, impedindo assim que a marcha dos sem terra prosseguisse.
Para Luciana, retomar a marcha de onde parou, há cinco anos atrás, significa também retomar o projeto da reforma agrária na região, marcada por latifúndios. "O projeto da reforma agrária e da agricultura camponesa venceu e a marcha agora é a comemoração da conquista da terra”, defende.
(Por Raquel Casiraghi, Agência Chasque, 16/12/2008)