O aquecimento global nunca é fácil de enfrentar -- mesmo se você for um predador submarino cheio de tentáculos e com 2 m de comprimento. A lula gigante Dosidicus gigas, comum nas águas do oceano Pacífico, deve ficar menos eficaz na sua busca por presas e mais vulnerável a seus inimigos naturais ao longo deste século, tudo por causa do aumento da temperatura do planeta, informa uma pesquisa publicada na edição desta semana da revista "PNAS".
O trabalho, de autoria de Rui Rosa, da Universidade de Lisboa, e Brad Seibel, da Universidade de Rhode Island (EUA), simulou algumas das condições previstas para o futuro dos oceanos -- incluindo mudanças na acidez na água, no conteúdo de gás carbônico e oxigênio e na temperatura -- e colocou alguns exemplares do supermolusco para se virar nesses ambientes.
O grande problema, afirmam os pesquisadores, é que a Dosidicus gigas é um bicho de metabolismo naturalmente muito rápido, o que implica num grande consumo de oxigênio. Ao longo do dia, ela se desloca de cima para baixo, ficando algum tempo em águas mais frias e menos oxigenadas, no fundo, e outra parte do tempo em águas rasas e com mais oxigênio.
Ora, diante das condições projetadas, é como se o ambiente disponível para a lula ficasse "achatado": as águas rasas vão ficar quentes demais e ácidas demais para ela (por causa da grande diluição de gás carbônico, principal gás do aquecimento global, no líquido), enquanto as águas fundas ficarão tão escassas de oxigênio que o bicho terá de passar muito tempo letárgico, sob pena de "ficar sem ar". O resultado provavelmente será uma vida bem mais difícil e arriscada para a caçadora marinha.
(Por Reinaldo José Lopes, G1, 16/12/2008)