Até o final de 2009, cinco novos parques eólicos serão construídos no país com investimentos do Proinfa. Depois desse período, o governo precisará criar novos incentivos para atrair os empreendedores para o Brasil - seja por meio de leilões de energia eólica ou de uma nova versão do programa
Investimentos bilionários para a construção de cinco parques eólicos irão gerar 342 megawatts de potência no Brasil no próximo ano – fazendo com que o país mais do que dobre a capacidade atual instalada. A Siif Énergies, empresa de capital norte-americano e com sede em Fortaleza, irá investir R$ 1,7 bilhão na construção de quatro parques eólicos no estado do Ceará e um no Rio de Janeiro. A força dos ventos tem crescido no país, mas o setor ainda precisa de um sopro mais forte para deslanchar.
A maior parte dos recursos para os novos parques eólicos (70%) vem do Proinfa – o programa do governo federal de incentivos às fontes renováveis, que assegura a compra de energia por um prazo de 20 anos a preços atrativos (no caso da eólica, acima de R$ 200 o megawatt/hora).
O coordenador do Grupo de Recursos Renováveis do Greenpeace Brasil, Ricardo Lacerda Baitelo, afirma que a iniciativa do governo realmente impulsiona a energia eólica no país, mas adverte que o Proinfa deve vigorar apenas por mais um ou dois anos e que é preciso pensar numa continuidade do programa para garantir o desenvolvimento do setor.
“O problema é que depois disso, novos empreendedores não entram no mercado se não houver ou um leilão ou um programa específico”, afirma. Baitelo ressalta que o Brasil possui um grande potencial e que é fundamental a participação da energia eólica nos leilões de energia, dos quais somente térmicas a carbono têm participado ultimamente.
Os empreendedores também destacam a importância dos incentivos governamentais para a instalação de usinas no Brasil. “Há pouco menos de três anos, os projetos eólicos em todo o país somavam apenas 17 megawatts de potência”, lembra Marcelo Picchi, diretor da Siif Énergies. "Graças ao Proinfa, esse número saltou para 200 megawatts este ano e chegará até 1,4 mil megawatts no fim de 2009", declara em entrevista ao jornal Gazeta Mercantil na semana passada.
O mercado de tecnologia para energia eólica cresce na taxa de 30% no mundo. No Brasil, as regiões Sul e Nordeste são as mais privilegiadas com ventos fortes e constantes. Picchi diz que o potencial de geração deste tipo de energia renovável no país é estimado em 143 gigawatts - ou mais de dez vezes a geração da usina hidrelétrica de Itaipu.
"Somente a região Nordeste tem potencial para desenvolver 75 gigawatts de energia eólica, sendo que, sozinho, o Ceará responderia por 40 gigawatts", afirma o diretor da empresa norte-americana em matéria da Gazeta Mercantil.
Para Baitelo, os grandes benefícios da energia eólica são manter o nível de água nos reservatórios e eliminar a necessidade das termelétricas fósseis (que são mais caras) operarem. “Além disso, tem o benefício econômico, a geração de empregos e a possibilidade de o Nordeste passar a ser exportador de energia”.
Pequeno
Apesar do grande potencial, os ventos ainda possuem uma participação irrisória na matriz energética brasileira, em grande parte devido aos custos dos equipamentos, que são na maioria importados. A falta de fabricantes no Brasil dificulta a vida das empresas que investem por meio do Proinfa, pois o programa exige que 60% de cada projeto sejam de conteúdo nacional.
O coordenador do Greenpeace diz que o país gera dois milésimos do seu potencial bruto teórico. “O Brasil está em 29º lugar entre os 30 maiores geradores, está lá atrás, poderia gerar muito mais”, enfatiza.
Ele sugere que o país siga o caminho trilhado por China e Índia, que, há cerca de cinco anos, possuíam um aproveitamento como o brasileiro, de pequena geração. “Com políticas pesadas de investimento industrial e uma tarifa fixa, que é o que a gente propõe, hoje eles são o quarto e o quinto maiores geradores de energia eólica”.
Baitelo reforça que os países asiáticos não estão focados apenas na geração nacional, mas também na exportação da tecnologia. “Nós exportamos tecnologias de aviação, somos exemplo no caso do álcool. Também poderíamos exportar perfeitamente energia eólica”, avalia.
PerspectivaO custo é ponto negativo que deve ser revertido em breve, acredita o coordenador do Greenpeace. “Em termos econômicos, tanto a energia eólica quanto a solar apresentam uma curva de aprendizado que indica que o preço deve cair”.
Hoje o valor da energia eólica já é muito mais acessível na Europa e nos Estados Unidos do que no Brasil, sendo que nos EUA está em torno de R$ 140 o megawatt/h, afirma Baitelo, lembrando que esse é o preço das usinas térmicas. “Atualmente o preço da energia eólica no Brasil é de R$ 240 por megawatt/h, mas dependendo da proposta que se adote, é possível que caia para menos de R$ 200”.
(Por Sabrina Domingos
, Carbono Brasil, 15/12/2008)