ONGs esperavam metas concretas, mas em meio à crise financeira ninguém quer assumir a conta do aquecimento.
A 14ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 14), que começou no dia 1º de dezembro na cidade de Poznan, Polônia, foi aberta com um apelo do primeiro-ministro polonês Donald Tusk, pedindo solidariedade entre os países para a definição de novas medidas contra o aquecimento global. “O lema desta conferência será a solidariedade”, disse, lembrando o movimento polônes Solidarietat, que lutou contra a ditadura comunista nos anos 80.
Passadas duas semanas, no dia 12, o secretário-geral da Convenção do Clima, Yvo de Boer, resumiu o estado de nervos em que estavam as delegações no último dia da reunião. “Os países estão endurecendo suas posições, as negociações estão começando para valer”, afirmou em coletiva de imprensa, depois que o Grupo dos 77 países em desenvolvimento (G77+China) entrou em choque com as maiores economias do mundo – Austrália, União Européia, Russia e Estados Unidos.
A razão para a disputa? Os 'pobres' queriam aumentar as taxas sobre o comércio de créditos de carbono para garantir mais recursos ao Fundo de Adaptação, um instrumento criado pelo Protocolo de Kyoto, em 1997, para financiar medidas contra impactos imediatos da mudança do clima, como secas e tormentas devastadoras, nas nações mais pobres do mundo.
A solidariedade não imperou em Poznan. Mesmo assim, Boer considerou o resultado da reunião positivo. Como foi dito muitas vezes, a COP 14 foi o meio do caminho entre a reunião de Bali – onde foram definidos os termos do novo acordo climático – e a de Copenhague, que ocorrerá em 2009 e representa o prazo final para um consenso em torno de novas metas de redução de gases de efeito estufa.
Como 'meio do caminho', Poznan “apresentou exatamente o que se esperava dela”, explicou o secretário da Convenção: um plano de trabalho para o ano que vem e um documento resumindo todas as propostas que já foram colocadas à mesa. Se isso será suficiente para garantir um acordo no próximo ano foi uma das perguntas que ficaram sem resposta durante o encontro.
“Visão compartilhada”
O resumo das propostas que serão negociadas em 2009 foi fechado em um documento elaborado pelo diplomata brasileiro Luiz Alberto Figueiredo, que preside o grupo de trabalho sobre o acordo de longo prazo. A negociação em torno das metas futuras é conhecida como 'visão compartilhada'. Em Poznan, ela só indicou linhas gerais, como, por exemplo, quais serão os países desenvolvidos que deverão assumir metas obrigatórias para a redução de gases estufa até 2020 .
Figueiredo explicou que as propostas que estão sendo discutidas já possuem um certo grau de convergência, o que ainda não significa consenso. É possível, por exemplo, afirmar que os países membros da convenção do clima já aceitam que a média global das emissões de gases estufa devem atingir um pico em 2015. Para que isso acontença, países como Estados Unidos, Canadá e membros da União Européia terão de aceitar metas drásticas sobre setores como energia e transporte.
O tamanho destas metas e como elas serão cumpridas não entraram na pauta de Poznan. Isso não agradou nem um pouco às ONGs ambientalistas. Para elas, o encontro na Polônia foi puro blá-blá-blá. Durante a última coletiva com a Rede de Ação Climática - que reúne representantes das maiores ONGs - o que mais se ouvia era que o texto de Poznan era apenas “um copia e cola” do que fora acordado em Bali.
“Esse era o momento em que os líderes teriam de tomar posições. Mas, ao invés disso, paises industrializados fizeram sermões sobre a importância de combater o aquecimento, enquanto não fazem nada a respeito em seus países – um sério sinal de hipocrisia”, diz Kim Carstensen, da Iniciativa Global do Clima da WWF.
Uma questão de dinheiro
Por trás da falta de medidas concretas, cobradas pelas ONGs, está um cenário de crise financeira. O choque entre delegações dos países desenvolvidos e economias emergentes no último dia da reunião foi exemplo claro disso. Portanto, a grande questão a ser resolvida em 2009 é quem pagará a conta do combate à mudança climática. A fatura não é pequena.
Para interromper as emissões de gases estufa provenientes de desmatamento em florestas tropicais estima-se algo entre 25 bilhões e 30 bilhões de dólares ao ano. Quando se fala em promover a adaptação dos países mais vulneráveis às catástrofes climáticas, soma-se pelo menos mais 50 bilhões de dólares/ano. E nessa conta ainda tem de entrar recursos para a transferência de tecnologias verdes entre países ricos e pobres.
Até Ban Ki Moon, secretário-geral da ONU, foi à Poznan nos últimos dias para dizer que os países deveriam pensar em reverter a crise financeira com investimentos em energia limpa. O recado, no entanto, não foi bem absorvido, garante Meena Raman, da Third World Network, uma rede de ONGs de países pobres. “O que estamos vendo é os países desenvolvidos jogando mais responsabilidade em economias pequenas.”
“Uma União Européia passiva se uniu aos Estados Unidos, enquanto Canadá, Japão, Russia, Australia e Arábia Saudida impediram progresso”, afirma Cartensen, da WWF. “Estes países precisam levar a sério o esverdeamento de suas economias, além de prover conhecimento e recursos financeiros para os países em desenvolvimento. Do contrário, qualquer prospecto para um novo acordo climático continuará difícil”, concluiu.
(Por Gustavo Faleiros, OEco, 15/12/2008)