Equipe do presidente dos EUA diz que país fez avanços por conta própria para conter emissão gases do efeito-estufaEm cúpula na Polônia, grupo americano critica Protocolo de Kyoto e diz que debate só avançará agora, com ação concreta de países pobres
Emilio Naranjo/Efe
Protesto em Madrid envia recado a encontro da Polônia, pedindo corte de emissões de CO2
Os Estados Unidos, "vilões" do aquecimento global por não aceitarem a adoção de metas obrigatórias de redução das emissões de gases de efeito estufa do Protocolo de Kyoto, não estão arrependidos. Essa foi a mensagem da delegação do presidente George W. Bush na última Conferência do Clima, em Poznan (Polônia). Na próxima reunião, em março, na Alemanha, os EUA já estarão sob comando de Barack Obama.
Os representantes de Bush tentavam ontem na Polônia até o último minuto -sem muito sucesso- mostrar que o país tem feito algum progresso na área do clima. Para isso, prepararam uma revista com uma espécie de prestação de contas chamada "Estados Unidos: Ações em Mudança Climática".
Em nenhum momento, porém, os americanos demonstraram remorso por terem enfraquecido o Protocolo de Kyoto, para redução dos gases-estufa, ao não ratificá-lo. "Sempre estivemos comprometidos com a Convenção do Clima da ONU", disse Paula Dobriansky, chefe da delegação dos EUA.
"Trabalhamos muito agressivamente e avidamente, tanto com quem apoiou o protocolo quanto com quem não o ratificou."
Segundo ela, Kyoto, que obriga países desenvolvidos a reduzir em cerca de 5% suas emissões de gases-estufa até 2012, não foi tão relevante.
"O que é mais importante aqui é ver a evolução entre onde estávamos alguns anos atrás e onde estamos agora", argumentou Dobriansky. "Há grande urgência e desejo de um acordo internacional ambiental efetivo, do qual os EUA façam parte e países emergentes também empreendam ações."
O país sempre impôs como condição para o acordo que emergentes como China e Índia também adotassem metas de redução de gases. Na Polônia, países em desenvolvimento foram os que mais apresentaram propostas concretas. Com efeito, o presidente do Conselho de Qualidade Ambiental da Casa Branca, James Connaughton, criticou os países desenvolvidos que entraram no Protocolo de Kyoto por assumirem metas que não conseguirão cumprir até 2012.
Com os EUA atravancando as negociações, contudo, soa um pouco cínica a alegada expectativa de Dobriansky sobre o acordo que entrará em vigor após Kyoto: "Teremos um ano empolgante em 2009 para alcançar um muito bem sucedido resultado em Copenhague [sede da última reunião de 2009]".
Lição de moralDiante desse cenário, é estranho os EUA ensinar algo ao Brasil sobre combate a poluentes, mas eles criticam -com razão- a demora de brasileiros para reduzir o nível de enxofre no diesel. Em entrevista à Folha, Connaughton fez questão de enfatizar a ação realizada nos EUA para tornar o combustível mais limpo. "As refinarias [do Brasil] precisam ser modernizadas para remover o enxofre do diesel", disse. "É tecnicamente viável e é acessível."
Quando questionado sobre as alegações das empresas de que a mudança custa caro, ele usou o mesmo argumento que o de especialistas como o médico e professor Paulo Saldiva, da USP. "É caro, mas os benefícios à saúde e em prolongar a vida das pessoas compensam o custo da alteração", afirmou.
De acordo com Connaughton, entre decidir como seria o novo combustível e implementá-lo, os EUA levaram três anos. No caso do Brasil, o prazo concedido foi de sete anos, e ainda assim as montadoras disseram que não haveria tempo hábil para produzir os motores adequados ao diesel limpo. E a Petrobras acatou o atraso.
"Se nós, os maiores consumidores de combustível do mundo, fizemos isso, qualquer nação pode fazer", disse. "É questão de vontade política."
(Folha de São Paulo, 14/12/2008)