Sabesp testa equipamento no Parque da Serra do Mar para flagrar focos de desmatamento e construções irregularesVeículo leva vantagem sobre helicóptero, já que consegue se aproximar do solo, permitindo identificar problemas mais rápido
A pouco mais de 30 metros de altura, Luiz Carlos Laghi Filho sobrevoa as copas das árvores e olha atentamente para qualquer movimento suspeito que vê abaixo de seus pés. Ele está em um paramotor (um parapente motorizado), o novo transporte usado em São Paulo para conter o desmatamento.
Ao avistar uma clareira, ele a fotografa e marca as coordenadas no GPS. Quando percebe que pode fazer um flagrante, avisa por um rádio outro membro de sua equipe, que chama a Polícia Ambiental. Na semana passada, conseguiu evitar que duas casas, já com as fundações feitas, fossem construídas em plena área de preservação.
Laghi Filho, 51, é o novo "guardião" da mata atlântica de São Paulo. Piloto profissional de parapente há 18 anos, ele é presidente da ABVL (Associação Brasileira de Vôo Livre), que foi contratada pela Sabesp para sobrevoar o Parque Estadual da Serra do Mar.
O trabalho é parte do projeto De Olho na Mata Atlântica e tem a função de observar focos de desmatamento, construções irregulares e outras ameaças à mata e aos mananciais.
Como o projeto ainda funciona em caráter experimental e o piloto, sozinho, faz os sobrevôos, o monitoramento ainda é restrito a um dos oito núcleos do parque, o do Curucutu -que tem pouco mais de 30 mil hectares (o equivalente a 187 parques do Ibirapuera). O parque estadual inteiro é dez vezes maior, tem 315 mil hectares.
Pelo projeto experimental, a empresa ganhou R$ 8.500. A idéia é ampliá-lo para toda a área do parque e utilizar um grupo de dez parapentistas.
UrbanizaçãoO Curucutu está localizado na divisa de quatro municípios: Itanhaém, Mongaguá, Juquitiba e São Paulo (extremo sul).
"São locais de intensa especulação imobiliária. Há uma pressão da população do entorno do parque [para a ocupação]", conta o gestor do Curucutu, Thales Schmidt.
Ele conta que antes dos vôos de paramotor, o monitoramento aéreo do núcleo dependia, exclusivamente, de um helicóptero da Fundação Florestal, que faz cerca de dois vôos por ano. Desde julho, quando o projeto começou, foram feitos oito vôos de parapente motorizado.
O paramotor ainda tem a vantagem de conseguir se aproximar mais do solo do que o helicóptero e observar focos de desmatamento logo no início. Ele parte do chão -o motor ajuda na suspensão e a manter o objeto no ar. "Percebo que o pessoal encostou [no limite do parque] e só está esperando um descuido [na fiscalização] para invadir", conta Laghi Filho.
Ele já encontrou quatro casas construídas irregularmente na parte da serra que pertence a Mongaguá. Todas de alvenaria. Os proprietários foram multados e estão sendo processados. Os locais, segundo Schmidt, foram desocupados e as casas devem ser derrubadas em breve.
As duas casas com as fundações prontas foram achadas em Itanhaém. Elas serão destruídas. Também na semana passada, foram localizados dois pequenos sítios, com cabanas de caçadores, que também foram desmanchados -a caça de subsistência é comum no parque. Alvo da especulação imobiliária, a serra também é ameaçada por pessoas que sobrevivem da extração de palmito.
A Secretaria Estadual do Meio Ambiente não soube informar quanto da área do parque já foi desmatada. Um relatório da Fundação SOS Mata Atlântica deste ano afirma que Mongaguá perdeu 13% da área original de mata atlântica.
Em Itanhaém, 23% da mata foi desmatada e, em Juquitiba, 36%. São Paulo já perdeu 84% de sua cobertura original.
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Folha de São Paulo, 14/12/2008)