Se para a Polícia Federal e para a Funai os garimpos ilegais na Raposa/ Serra do Sol são ações isoladas, para índios ouvidos pela reportagem são um meio antigo de sobrevivência, apesar de não tornarem nenhum indígena rico.
"Eles [garimpos] estão todos na beira do rio, [fazemos] com peneira mesmo. Mas é só para comprar uma roupa, uma rede para nós", disse Audésio Lima Pereira, 21, que até dois anos atrás também tentava, manualmente, achar pepitas de ouro ou pequenas pedras de diamante. Desistiu porque, afirmou, não dava muito dinheiro.
Segundo o IBGE, apenas de ouro há 26 locais de exploração, que, diz a Constituição, só pode ser feita em terras indígenas com autorização do Congresso.
Lima e outros dois índios garimpeiros disseram que a prática, segundo seus familiares mais velhos, remonta ao começo do século 20, quando os não-índios começaram a chegar em maior número à região. "Tinha tanto ouro que o pessoal usava para fazer bala para espingarda", afirmou Edilson da Silva, 42, lembrando que seus antepassados não tinham noção do valor.
Hoje, quando um índio consegue achar algum mineral de valor em um dos rios da reserva, tentam revender em cidades próximas, como Uiramutã, Pacaraima ou Boa Vista.
"Se for ouro, vende em qualquer lugar. Se for diamante, precisa conhecer alguém", disse Silva, que não soube dizer quanto se ganha em média por mês com a exploração.
Segundo a Funai, os próprios índios avisam a fundação quando vêem alguém garimpando, já que boa parte das comunidades tem estação de rádio.
Isso, dizem os índios, não impede que "homem branco" entre na reserva para a atividade. "Mas antes da homologação era pior, porque não deixavam a gente nem chegar perto [do garimpo]", disse Lima.
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Folha de São Paulo, 14/12/2008)