Igreja reforça a sua oposição a fertilização "in vitro", clonagem, pesquisa com células-tronco embrionárias e uso de contraceptivos"A Dignidade da Pessoa", primeiro manual da Santa Sé sobre o tema em 21 anos, registra ainda condenação a congelamento de embriões
O Vaticano lançou ontem o mais abrangente e extenso documento sobre questões bioéticas dos últimos 20 anos. O novo manual leva em conta recentes desenvolvimentos na tecnologia biomédica e reforça a oposição da Igreja Católica à fertilização "in vitro", à clonagem humana, ao teste genético de embriões antes que sejam implantados e à pesquisa com células-tronco embrionárias.
O Vaticano afirma que essas técnicas violam o princípio de que toda vida humana é sagrada e que crianças só deveriam ser concebidas por meio de relações entre casais.
O manual de instrução, de 32 páginas, intitulado "Dignitas Personae", ou "A Dignidade da Pessoa", foi preparado pela Congregação para a Doutrina da Fé, órgão do Vaticano responsável por manter a ortodoxia católica, e aprovado pelo papa Bento 16. O texto foi desenvolvido para oferecer respostas morais a questões bioéticas surgidas nos 21 anos transcorridos desde que a congregação, na ocasião comandada pelo hoje pontífice, havia lançado seu manual anterior sobre o tema. O texto proíbe o uso da pílula do dia seguinte, DIUs e do medicamento abortivo RU 486, alegando que eles podem resultar no equivalente a abortos.
Embriões congeladosA Igreja também objeta o congelamento de embriões, porque isso os expõe a potenciais danos e manipulação e apresenta o insolúvel problema do que fazer com os embriões congelados que não venham a ser implantados. Existem centenas de milhares de embriões nessa situação nos Estados Unidos, um fato que levou os especialistas em ética da igreja a reiterar a oposição à fertilização "in vitro".
"Não existe maneira moralmente lícita de escapar ao beco sem saída criado pelos milhares de embriões congelados que já existem", disse monsenhor Elio Sgreccia, presidente emérito da Academia Pontifical para a Vida.
A audiência visada pelo Vaticano inclui tanto os católicos como médicos, cientistas, pesquisadores médicos e legisladores que possam estar envolvidos na regulamentação de novos desenvolvimentos em tecnologia biomédica.
Nos EUA, o presidente eleito Barack Obama afirmou que ele revogaria as restrições ao financiamento federal de pesquisas com células-tronco embrionárias adotadas durante o governo de George W. Bush.
O documento do Vaticano reitera que a Igreja se opõe à pesquisa com células-tronco derivadas de embriões, mas não se opõe a pesquisas com células-tronco derivadas de adultos, do sangue de cordões umbilicais ou de fetos que tenham "morrido de causas naturais".
Luis Francisco Ladaria Ferrer, secretário da Congregação para a Doutrina da Fé, disse que o documento provavelmente "será acusado de conter muitas proibições". Mas ele as justificou dizendo que "a igreja se sente obrigada a dar voz àqueles que não têm voz".
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Folha de São Paulo, 13/12/2008)