Mãe e filha atenuam prejuízo da seca com manejo diferente do soloDe um lado da estrada, as plantações de milho secas são um sinal de quanto a falta de chuva é impiedosa com os agricultores. Do outro, a lavoura da família Ruchs está viçosa. E choveu a mesma quantidade em ambos os lados, em Lajeado Silva, interior de Independência, no noroeste do Estado.
A diferença é que Irmtraude, 68 anos, e sua filha Haidy, 48 anos, prepararam o solo de uma maneira diferente antes de cultivar o milho, com plantio direto, sem dessecante. As duas decidiram semear quatro hectares do grão numa área onde estava cultivado antes nabo forrageiro e aveia. Mas não retiraram as plantas, apenas as derrubaram quando estavam na fase de floração. Em cima da palha delas, o milho se desenvolveu.
– A palha reduziu o aquecimento do solo, fixou nutrientes nele e impediu a evaporação da água, tão em falta desde novembro – explica Paulo Sartori, extensionista da Emater.
Associado a isso, elas reduziram a adubação química e não utilizaram herbicidas. Esses produtos diminuem a vida microbiana da terra, como as de fungos que auxiliam a raiz da planta a absorver água. O resultado disso é uma lavoura verdejante em meio a plantações amareladas. Como a chuva é essencial sempre, elas terão perdas. Mas menores que de seus vizinhos.
– Diziam que o milho não ia germinar. Chegaram a apostar cerveja. Agora tem bastante gente querendo fazer igual– ri Haidy.
Outros produtores gaúchos que não se precaveram contra a estiagem estão tendo motivo de dor de cabeça. Conforme a Central de Meteorologia, a previsão é de tempo quente e seco até o final do ano. O verão será de chuvas abaixo da média.
Engenheiro agrônomo da Emater, Dulphe Pinheiro Machado Neto diz que nessa época do ano não há mais como evitar ou reparar perdas:
– O que sempre aconselhamos é que os produtores façam o plantio em épocas diferentes para terem as lavouras em estágios diferentes e não sofrerem com perda total. Agora não há mais alternativas para quem não investiu em ferramentas como a irrigação.
Seis municípios decretaram situação de emergênciaA escassez de chuvas é maior no Oeste e no Sul. No Estado, até ontem seis municípios já haviam decretado situação de emergência: Iraí, Novo Barreiro, Gramado dos Loureiros, Trindade do Sul, Engenho Velho e Novo Xingu. Também até ontem, já haviam chegado à Emater de Santa Rosa cerca de mil solicitações do Proagro (seguro agrícola acionado pelos agricultores familiares quando existe a expectativa de que a produção não pague o custeio da lavoura).
A boa notícia de ontem foi o anúncio de que 85 empresas vão participar da construção de pelo menos 500 açudes em 56 municípios. O governo estadual investirá R$ 5 milhões nas obras de irrigação, concentradas nas regiões Sul, Noroeste e Norte. Os beneficiados entrarão com 20% do valor da empreitada.
O mapa da secaNORTE
A situação em cada região e de suas principais lavouras (confira o quadro específico das principais culturas e leia mais sobre tipos de irrigação em www.zerohora.com):
Destaque: soja
Situação: Nesta semana, chuvas atingiram a maior parte da região. Mas essas precipitações são irregulares – em alguns municípios foram registrados 15 milímetros e em outros só 3 milímetros. A situação do milho e do feijão nas áreas próximas a Santa Catarina é crítica. A soja já teve que ser replantada em algumas propriedades.
NOROESTE
Destaque: soja
Situação: o plantio deveria estar praticamente encerrado na região, mas ainda há 20% das lavouras esperando por umidade para serem semeadas. As plantas que já germinaram estão com desenvolvimento adequado. O quadro mais grave é no milho. A seca já provoca perdas de 30%.
CAMPANHA
Destaque: arroz
Situação: Todas as áreas destinadas ao arroz já se encontram semeadas e em fase de germinação. Já os produtores de milho iniciaram a semeadura – procedimento feito de forma tardia.
FRONTEIRA OESTE
Destaques: arroz e pecuária
Situação: Quem plantou arroz cedo não está com problemas, pois o tempo seco é favorável ao desenvolvimento vegetativo. Já na pecuária, poucos produtores conseguiram plantar pastagem de verão, pois choveu bastante em outubro e em novembro o tempo ficou seco.
SUL
Destaques: arroz e pecuária
Situação: a chuva que atingiu Santa Vitória do Palmar, há 10 dias, ajudou a reanimar os arrozeiros. Muitos tiveram aumento de custo com banhos nas lavouras, outros já recorriam ao plantio de culturas secas, como milho e sorgo. Os pecuaristas começam a plantar as pastagens de verão.
VALE DO RIO PARDO
Destaque: fumo
Situação: desde o início de novembro, cerca de 30% já foi colhido. O fumo é um pouco mais resistente à seca, mas as folhas não estavam agüentando o calor intenso. Com a chuvarada desta semana, a situação ficou amenizada.
VALE DO TAQUARI
Destaque: milho
Situação: depois da estiagem registrada na segunda quinzena de novembro – que não chegou a resultar em perdas, apenas na queda da qualidade do grão –, as plantações da região foram recuperadas com a chuva dos últimos dias.
VALE DO JACUÍ
Destaque: arroz
Situação: com a chuva que atingiu a região esta semana, o plantio dos cerca de 39 mil hectares conseguiu ser finalizado. A precipitação levou umidade ao solo, mas não foi suficiente para encher os mananciais. E é isso que preocupa a Emater, já que boa parte do arroz plantado depende de açudes e pequenos rios.
VALE DO CAÍ E DO SINOS
Destaques: bergamota e laranja
Situação: Com as chuvas dos últimos dias, o desenvolvimento das bergamotas e laranjas está normalizado. Neste período, as frutas estão em crescimento (verdes). A laranja pode ter mais prejuízo em caso de estiagem de grande intensidade.
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Zero Hora, 13/12/2008)