Horas antes do fim da conferência da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre mudanças climáticas, nesta sexta-feira, ambientalistas acusam os negociadores de "andar em passo de lesma", embora admitam que as medidas mais importantes já foram tomadas.
Nesta sexta-feira, o boletim informativo diário Eco, produzido por várias organizações não-governamentais reunidas na Rede de Ação pelo Clima (Can, na sigla em inglês), urge os ministros reunidos em Poznan, na Polônia, a "mudar suas posições" na direção de um acordo "justo e eficiente".
"Nas últimas duas semanas, as negociações andaram em passo de lesma, enquanto o crescente corpo de ciência climática exige nada menos do que pressa", dizem os ambientalistas.
Na abertura da fase ministerial do encontro, os representantes dos países destacaram a necessidade de medidas imediatas e de boa vontade para evitar os desastres que podem ser provocados pelo aquecimento global.
Por outro lado, o secretário-executivo da Convenção da ONU sobre Mudanças Climáticas, Yvo de Boer, destacou na quinta-feira que o encontro de Poznan não deve trazer "espetáculos e reviravoltas", mas disse que já há avanços pragmáticos.
O fato é que, como ponto intermediário entre as reuniões-chave de Bali - onde foi traçada a rota para um novo acordo de redução de emissões - e Copenhague, o fim da linha no ano que vem, Poznan marca a transição entre a fase de idéias e a de negociações.
Negociadores de todos os lados vêm destacando a importância de se ter um documento flexível, para que ninguém se sinta excluído das duras negociações que vão preceder o encontro na Dinamarca.
'Má hora'A hora ruim, do ponto de vista estratégico, em que a reunião acontece - em meio à pior crise econômica em décadas e nos últimos suspiros de um governo americano pouco interessado em participar de esforços ambientais - reforça a necessidade de flexibilidade.
A partir de fevereiro, um equipe de Barack Obama vai entrar em cena, e o presidente-eleito americano já prometeu "liderar o mundo" no combate ao aquecimento global.
Além disso, a União Européia (UE) permanece dividida, enquanto aguarda a decisão dos seus governantes, reunidos em Bruxelas, sobre um acordo para a estratégia conjunto de energia e meio ambiente.
Qualquer compromisso com metas de redução de emissões por parte dos europeus vai depender do que ficar decidido em Bruxelas nesta sexta-feira - e isso pode enfraquecer a mensagem política do documento final em Poznan.
Metas audaciosas de redução de emissões são o sinal que os governantes dos países em desenvolvimento esperam dos seus colegas mais ricos. Logo, sem compromissos claros nessa área, os países em desenvolvimento terão pouco estímulo para serem ambiciosos.
Na mesa de negociações também faltam acordos sobre questões importantes como, por exemplo a operacionalização do Fundo de Adaptação, um instrumento fundamental para financiar a ajuda aos países que já são atingidos pelas mudanças climáticas.
Além disso, é preciso decidir se a aplicação dos recursos provenientes do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) deve abranger projetos de implementação conjunta e troca de emissões de carbono e a inclusão ou não de projetos de Captura e Armazenamento de Carbono (CCS, na sigla em inglês) nos MDL.
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UOL, 12/12/2008)