"Se a Lei de Resíduos Sólidos passar no Congresso da forma como está, iremos separar, prensar e fardar embalagens plásticas apenas para empilhá-las em depósitos, ou mesmo nos próprios lixões, pois não haverá indústrias suficientes para reciclá-las."
Com esta opinião, Vladimir Kurdjawzew, empresário do setor de reciclagem de plásticos, destacou as dificuldades que essas indústrias enfrentam no Brasil. Sem um incentivo específico, elas arcam com os custos de pesquisa e desenvolvimento de novas tecnologias, bem como de abrir mercado para as soluções encontradas, e recolhem todos os impostos, como qualquer indústria regular.
"Todo mundo pensa que, por ser de material reciclado, tem de ser um produto baratinho e não imaginam todo o investimento por trás de seu desenvolvimento. Como podemos sobreviver num cenário como esse?", pergunta Kurdjawzew. O empresário é responsável por uma empresa que investiu R$ 20 milhões para fabricar dormentes, pallets e estacas a partir de plásticos reciclados e agora enfrenta dificuldades para vendê-los ? mesmo que eles tenham maior durabilidade, menor peso e possam, ao final de sua vida útil, ser novamente reprocessados, evitando toneladas de lixo.
"O consumidor precisa valorizar os produtos com material reciclado para gerar mercado. Assim, haverá produtores", enfatizou o empresário, durante o Ecobusiness Show, evento que reuniu, em São Paulo, 600 pessoas em um congresso focado em soluções socioambientais e cerca de 3.500 pessoas na visitação de sua feira.
André Vilhena, diretor-executivo do Compromisso Empresarial para Reciclagem (Cempre), concorda que o setor demanda melhores políticas públicas. Em entrevista durante evento da Fispal, promotora de feiras do setor de alimentos e bebidas, Vilhena destacou que o governo precisa oferecer um tratamento diferenciado para as empresas do setor de reciclagem, promovendo mudanças na tributação de sua cadeia.
Avaliando este cenário, o deputado federal Antônio Carlos Mendes Thame, de São Paulo, com o apoio de mais de 190 parlamentares, apresentou a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 571/2006 para conceder imunidade tributária a produtos reciclados de matéria-prima nacional. Para evitar que seu trâmite leve anos, Thame pede manifestações de entidades civis em apoio ao projeto.
Setor em expansão
Mesmo com os desafios atuais, André Vilhena ressalta que o setor da reciclagem está em franca expansão. Ele movimenta em torno de R$ 3 bilhões por ano e tem crescido entre 10% e 15%, podendo chegar a 25% nos próximos anos.
Também Auri Marçon, diretor da Recipet, uma das quatro maiores recicladoras de garrafas PET do Brasil, considera que esse mercado manterá um bom crescimento. Aos poucos, o país está entendendo e valorizando o setor ao perceber que ele envolve alta tecnologia e produtos finais tão bons ou ainda melhores que os feitos com matéria-prima virgem. Um exemplo disso é a aprovação, em 2007, pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), do uso de PET reciclado na produção de embalagens para alimentos.
De acordo com Vilhena, para que a reciclagem de todos os resíduos avance - inclusive a dos orgânicos, que representam 60% de todo o lixo gerado no Brasil -, não só o setor industrial deve se engajar, mas a infra-estrutura da coleta seletiva precisa ser ampliada. Um desafio para os governos dos 5.564 municípios brasileiros, já que menos de 7% deles a realiza.
(Por Neuza Árbocz, Envolverde, Instituto Ethos, 11/12/2008)