As borboletas da Europa vão fugir para Norte por causa do calor. Teme-se que as mudanças climáticas provoquem grandes alterações no habitat das espécies e a ordem dos Lepidoptera (borboletas) pode ser das primeiras a reagir.
Um estudo europeu reuniu informação recolhida por milhares de voluntários sobre a distribuição das borboletas europeias e aplicou modelos climáticos para prever a reacção deste grupo de animais à subida da temperatura média do planeta neste continente. O resultado está compilado num livro chamado Climatic Risk Atlas of European Butterflies.
“A maioria das espécies vai ter de alterar radicalmente a sua distribuição. A forma como as borboletas mudam vai indicar a possível resposta de muitos outros insectos, que em conjunto totalizam dois terços de todas as espécies”, disse, citado num comunicado de imprensa, o principal autor do atlas, Josef Settele, do Centro de Helmholtz para a Investigação do Ambiente, na Alemanha.
A principal conclusão do estudo é que as borboletas vão ter que migrar para locais mais frios, quando a temperatura começar a subir demais.
Os investigadores projectaram dois cenários. O pior, que conta com uma subida da temperatura média da Europa de 4,1 graus em 2080, prevê que 95 por cento da terra que actualmente está ocupada por 70 borboletas diferentes vai tornar -se demasiado quente para estas espécies. O cenário menos radical, com uma subida da temperatura de 2,4 graus, prevê que metade das áreas onde vivem 147 espécies de borboletas vai ficar inabitável.
As borboletas têm vindo a ser ameaçadas por uma fragmentação progressiva das áreas onde vivem e pela introdução de monoculturas. Se forem obrigadas a fugir do seu habitat, ninguém sabe se conseguirão encontrar novos locais para colonizar, até porque muitas alimentam-se de uma única espécie vegetal.
O desaparecimento destes insectos pode ter um grande impacte no ecossistema. “As borboletas são importantes na cadeia alimentar, são o alimento de morcegos, aves”, disse ao PÚBLICO Maria João Verdasca, bióloga e uma das responsáveis pelo Lagartagis, o jardim das borboletas do Botânico de Lisboa. Para além disso, as borboletas “são excelentes polinizadores, se desaparecerem a polinização pode diminuir”. A informação do livro poderá ser utilizada para futuras políticas de conservação.
(Por Nicolau Ferreira, Ecosfera, 12/12/2008)