O fim da atividade de mineração sempre causa enorme impacto na população do entorno. As maiores empresas do setor começam a se mexer para amenizar o problema
O Brasil é um dos países com maior potencial de mineração do planeta. Suas terras abrigam mais de 50 tipos de minerais de valor comercial, como o ferro, o manganês e a bauxita, dos quais o país possui a segunda maior reserva mundial. Em 2007, o setor de mineração movimentou 70 bilhões de dólares no país, o equivalente a pouco mais de 5% do PIB. Apesar da pujança, essa atividade econômica tem um lado sombrio — que aparece, sobretudo, quando se esgota a exploração de uma mina. Não raro, grandes minas são o maior pólo de atratividade de uma região. Cidades inteiras passam a viver em função da atividade mineradora, que gera empregos, moradias, escolas, saneamento básico, iluminação, estradas e, não menos importante, impostos. Quando a mina se exaure e é desativada, os impactos econômicos e sociais no entorno são enormes. “É preciso fazer uma análise global do fechamento e estudar as questões críticas da região para que, quando a mineradora se retirar, não haja uma derrocada econômica”, afirma a bióloga Maria Sulema Pioli, da consultoria internacional ERM, especializada em recursos ambientais.
Até pouco tempo atrás, quando a atividade mineradora acabava, as empresas simplesmente iam embora. Um exemplo é a vila das minas do Camaquã, no município de Caçapava do Sul, no Rio Grande do Sul. Operada desde 1942 pela Companhia Brasileira do Cobre (CBC), a mina teve suas atividades encerradas em 1996 e toda a estrutura existente — casas, hotel, cinema, clube — foi simplesmente abandonada. “Hoje as empresas são obrigadas pela legislação a reparar as áreas degradadas, ou seja, têm de deixar o terreno o mais próximo possível do que era antes”, diz o engenheiro de minas Victor Eilers, também consultor da ERM. Como o terreno resultante da mineração é muito pobre, recuperá-lo é uma atividade trabalhosa. Pela legislação, o plano de recuperação ambiental de áreas degradadas deve ser traçado antes mesmo do início das operações — e é um requisito para obter o licenciamento. “As companhias mais preocupadas com sua imagem têm feito o chamado plano social de fechamento, que, além da questão ambiental, leva em conta os aspectos socioeconômicos do encerramento da atividade”, diz Eilers.
Um dos exemplos mais notáveis é o projeto de implantação de um complexo urbano na extinta mina de Águas Claras, no município de Nova Lima, na região metropolitana de Belo Horizonte. Durante 30 anos, a mina foi explorada pela MBR, empresa controlada pela Vale. No início de 2003, a mina foi fechada — após a retirada de quase 300 milhões de toneladas de minério de ferro ao longo de três décadas. Em seu auge, na década de 80, a mina empregou 2 000 trabalhadores. Na época de seu fechamento, esse número havia se reduzido a 500. A estimativa da empresa era que o fim da atividade de mineração iria afetar a vida de quase 200 000 moradores do entorno. Em vez de esperar o prazo se esgotar para então definir o que fazer, a MBR decidiu se antecipar. O primeiro passo foi dado em 1999, quando a empresa contratou o consultor e professor da Fundação Dom Cabral Michel Abras para coordenar um estudo que identificasse maneiras de reduzir os impactos do fechamento da mina. O trabalho envolveu 40 profissionais de diversas áreas — de consultorias ambientais a escritórios de arquitetura e urbanismo.
(Por Serena Calejon, Guia Exame de Sustentabilidade, Planeta Sustentável, 12/12/2008)