Ao menos no caso dos elefantes, a proteção oferecida aos bichos pelos muros de um zoológico parece ser um bocado ilusória. Uma comparação entre os paquidermes que vivem em zôos e populações parcial ou totalmente livres sugere que o confinamento exerce um efeito dramático sobre eles. Para ser mais preciso, os elefantes abrigados por zoológicos têm expectativa de vida média inferior à metade da registrada nas populações livres ou semilivres.
Os números são de cair o queixo: no caso dos elefantes africanos (Loxodonta africana), os animais vivem em média 56 anos na natureza, contra apenas 17 em cativeiro; já os elefantes asiáticos (Elephas maximus) alcançam a idade média de 42 anos numa população semilivre, contra 19 anos quando estão em zôos. Os dados foram obtidos a partir de uma análise de mais de 4.500 animais mundo afora e estão em artigo na edição desta semana da revista "Science".
Para comparação com os elefantes domésticos, a equipe de pesquisadores responsável pela análise usou animais do Parque Nacional Amboseli (Quênia) e "empregados" por uma empresa madeireira de Mianmar, no Sudeste Asiático. Embora na prática os bichos asiáticos sejam cativos, a vida que levam é bem diferente da de um elefante de zoológico, explicou ao G1 Georgia J. Mason, co-autora do estudo e pesquisadora da Universidade de Guelph, no Canadá.
"A diferença principal é que eles estão em boa forma, porque trabalham duro, e os grupos são mais estáveis socialmente: em geral os animais trabalham nos mesmos lugares a vida toda, e as filhas ficam com as mães. Nos zôos, por outro lado, os grupos são bem menores e mais instáveis -- os bichos muitas vezes são passados de um zoológico para o outro, com separação de mães e filhas. Além disso, os elefantes de zôo são bastante gordos", conta ela.
De acordo com Mason, as populações parcial ou totalmente livres escolhidas para comparação são consideradas exemplos de boa saúde e proteção, mas não são excepcionais em nenhum sentido. "Por exemplo, em Amboseli a mortalidade infantil é maior do que em outras populações, e seu crescimento populacional anual é um pouco abaixo da média africana de 4%. Aliás, em alguns locais protegidos da África a taxa pode chegar a 8%", afirma a pesquisadora. "E, se tivéssemos dados de elefantes asiáticos selvagens realmente protegidos, suspeitamos que eles seriam ainda melhores."
Além da provável falta de exercício ligada à obesidade entre elefantes de zôo, Mason considera que uma das causas possíveis para a baixa expectativa de vida seja "a perda da estrutura e estabilidade natural dos bandos matriarcais típicos dos elefantes". "Ao menos no caso dos asiáticos, vemos que ser retirado de um zôo e mandado para outro aumenta os riscos de morte, assim como ser separado cedo da mãe", avalia. Diante disso, seria o caso de pedir uma moratória completa da presença de elefantes em zôos pelo mundo? "Acho que ainda não há problema em ter elefantes em zoológicos, desde que o bem-estar deles possa ser otimizado", diz Mason.
(Por Reinaldo José Lopes, G1, 12/12/2008)