União Européia deve tomar cuidado para não perder sua posição de liderança na proteção climática, alerta o ministro do Meio Ambiente, Sigmar Gabriel. Segundo ele, os EUA estão num caminho melhor com o novo presidente.
DW-WORLD.DE: Sr. Gabriel, o senhor disse que a conferência em Poznan é apenas um evento intermediário entre a última cúpula em Bali e a próxima. Mesmo assim, é preciso fazer algo para que a proteção ao clima não fique paralisada. Mas como garantir isso, se Poznan é apenas uma encontro intermediário?
Sigmar Gabriel: Esta conferência é um passo importante para chegarmos a um acordo para um pacto de proteção climática que deve ser finalizado em Copenhague em 2009. E, como sempre com acordos deste tipo, é preciso não começar tarde demais a definir as estruturas de negociação. Há muitas questões complexas a serem respondidas, por exemplo, como isso tudo deve ser financiado e que países devem reduzir em que medida suas emissões de CO2. Tratamos dessas questões em Poznan.
Mas não tomaremos aqui decisões pioneiras, pois decisões como estas levantam ainda mais perguntas. Quem tem quais interesses econômicos e como se gera um equilíbrio de interesses entre países em desenvolvimento, mercados emergentes e nações industrializadas? São questões que serão respondidas ao longo do ano.
O senhor mencionou países em desenvolvimento e emergentes, que também enviaram representantes a Poznan. O chamado Fundo de Adaptação, através do qual países ricos procuram ajudar os mais pobres a lidar com as conseqüências da mudança climática, era tido como fato consumado um ano atrás. Agora este tópico voltou a ser foco de debate. Por quê?
Porque os países em desenvolvimento solicitaram que o comprometimento financeiro aumentasse. Sabemos que precisamos fazê-lo e estamos dispostos a isso, mas nossa escala de envolvimento dependerá do engajamento destes países para com a proteção climática. No entanto, como eles próprios só tomarão essas decisões em 2009, só então poderemos dar garantias concretas de financiamento. O que podemos decidir aqui em Poznan é quais nações estão aptas a receber parte do fundo e de que forma.
Alguns países emergentes importantes, como Brasil, México e África do Sul, apresentaram iniciativas próprias. Isso não aumenta a pressão para que também a União Européia adote uma posição clara?
Em princípio, acho bom que façam isso. Especialmente os sul-africanos, mexicanos e brasileiros são muito progressistas neste sentido. E a União Européia precisa tomar cuidado para não perder sua posição de liderança na proteção climática e dar a impressão de que não leva o assunto a sério. Já os norte-americanos estão num caminho muito melhor com o novo presidente.
Nesta semana, a UE vai decidir com que seriedade deve ser vista quando o assunto é clima internacional. Por isso, é importante que sejam confirmadas em Bruxelas não apenas suas metas, mas também os instrumentos que permitirão torná-las possíveis.
Qual é a importância de um preço razoável para o carbono num esquema de comércio de emissões?
Se não houver um preço razoável, não haverá incentivos para os que planejam investir numa economia de baixas emissões. Enquanto as emissões de carbono na atmosfera forem gratuitas ou baratas, ninguém vai se interessar em poupar dióxido de carbono. Esta é uma questão central para o mercado de carbono. Mas o que é um bom preço? É um preço que nos mostre a escassez de espaço na natureza onde se pode depositar dióxido de carbono.
Quais são suas objeções às propostas francesas para o setor energético?
Não há uma proposta francesa. Há uma proposta da presidência rotativa da União Européia aos países do Leste Europeu, que reflete as dificuldades destes membros em cumprir a redução das emissões de dióxido de carbono durante o período de transição ou durante o período em que registram um crescimento econômico que é muito superior ao dos antigos membros do bloco.
Mas este não é o problema. O problema é que, se esta proposta tiver um impacto, por exemplo, sobre o leilão de emissões entre os antigos países do bloco, os da porção ocidental, isso poderia criar dificuldades para todo o sistema. Não será necessariamente assim, mas os chefes de Estado e governo precisam ter em mente as possíveis dificuldades.
Há um risco de a Alemanha ser prejudicada neste sistema?
Não, acho que não.
(Por Henrik Böhme e Nathan Witkop, DW, 11/12/2008)