Após o incidente que culminou em dois assassinatos na comunidade Quilombo dos Alpes, bairro Glória, na semana passada, os vereadores da Comissão de Defesa do Consumidor, Direitos Humanos e Segurança Urbana (Cedecondh) da Câmara Municipal de Porto Alegre solicitaram mais segurança das autoridades para garantir a integridade das famílias do local. Na manhã desta quinta-feira (11/12), a comunidade esteve presente na Câmara para reivindicar proteção e a prisão do autor dos crimes.
Conforme Rosângela da Silva Ellias, sobrevivente do atentado aos quilombolas, a polícia demora muito para agir em casos que atingem gravemente os moradores. “Somos pessoas humildes, mas acima de tudo, cidadãos. Existe um monstro a solta assombrando nossas famílias e o poder público não faz nada”, afirmou. Ao relatar o conflito, emocionada, Rosângela reiterou que o acusado dos assassinatos ainda ameaça a comunidade. “É um sofrimento sem fim. Já perdemos dois membros da nossa família e ainda assim parece que somos vistos como bandidos, acuados em um ambiente desprotegido”, exclamou aos prantos.
O advogado Onir Araújo revelou que há pelo menos um ano as famílias registraram ocorrência policial contra Pedro Paulo Back, suspeito dos crimes, “mas foram claramente desprezadas pelas autoridades”. Segundo ele, a situação tende a se agravar se o caso não for resolvido. “Há um flagrante exemplo de racismo institucional por parte de todos os órgãos e instâncias deste país. Mesmo com dificuldades na estrutura, é inconcebível que diante de um crime hediondo e com autoria declarada, a Polícia Militar se exima disto”, esbravejou.
Os quilombolas presentes fizeram solicitação à Cedecondh para que a presença efetiva da BM seja garantida no local antes que ocorram novos crimes. “Querem nos tirar um direito garantido pela Nação. Conquistamos a nossa terra com sacrifício depois de anos de escravidão e discriminação”, completou o irmão das vítimas, Valdir da Silva Ellias. Residem no Quilombo cerca de 74 famílias. O terreno de 142 hecatres pertence à família Ellias há 160 anos e foi reconhecido pelo Governo Federal como área de quilombolas.
InvestigaçãoO delegado da Polícia Civil Aníbal Germani noticiou que as apurações sobre as mortes estão em curso. “Temos um grupo específico que está investigando este caso e vai capturar o criminoso”, esclareceu ao anunciar que a prisão do acusado já foi decretada. De acordo com o major Jorge Renato Maia, da Brigada Militar, os policiais têm se esforçado para resolver a insegurança no Quilombo. “Temos uma estrutura precária, mas estamos empenhados em solucionar este crime bárbaro”, frisou. Segundo ele, algumas viaturas já começaram a rondar o local para proteger os moradores.
O secretário-adjunto da Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Segurança Urbana (SMDHSU), Miguel Barreto, comprometeu-se a ajudar a Brigada Militar com o envio de guardas municipais para auxiliar as famílias.
ProteçãoO presidente da Comissão, vereador Guilherme Barbosa (PT), lamentou que mesmo com uma semana após os assassinatos, o criminoso não tenha sido capturado. "Precisamos evitar a morte anunciada que ronda o Quilombo. A segurança deve ser agilizada", enfatizou. Segundo ele, o terreno é centro de disputas, principalmente por parte da especulação imobiliária que tem interesse na região. "É necessário que se encare este problema de frente e se respalde homens, mulheres e crianças fragilizados neste momento".
Acompanharam a reunião, os vereadores Carlos Todeschini (PT) e Maristela Maffei (PCdoB), o deputado estadual Raul Carrion (PCdoB), a Procuradoria-Geral da União, o Movimento Negro Unificado, a Fundação de Assistência Social e Cidadania (Fasc), a Federação das Associações dos Quilombolas e representações dos gabinetes do senador Paulo Paim (PT), da deputada federal Maria do Rosário, e do deputado estadual Adão Villaverde (PT).
(Por Ester Scotti,
Ascom CMPA, 11/12/2008)