O mundo não cumprirá o prazo de fechar um novo acordo contra o aquecimento global até 2009, admitiu na Polônia a principal autoridade das Nações Unidas em mudança climática, o diplomata holandês Yvo de Boer.
"Não obteremos um acordo a longo prazo totalmente detalhado em Copenhague. Não será possível", afirmou, em referência à conferência do clima marcada para o ano que vem na Dinamarca, que deveria produzir o acordo que substituirá o Protocolo de Kyoto após 2012.
Falando a jornalistas ontem em Poznan, na COP-14 (14ª Conferência das Partes da Convenção do Clima da ONU), o secretário-executivo da convenção disse que se deve tomar cuidado em "em ir muito longe e não alcançar nada".
Fechar um acordo em Copenhague é considerado vital para que não haja um "vazio" de regulação para a emissão de gases-estufa após 2012. No entanto, a recusa dos países em adotar cortes altos de emissão, aliada à transição dos EUA e à crise econômica, tem atravancado as negociações em Poznan.
"O que precisamos alcançar em Copenhague é clareza nos pontos políticos chave", disse ele. Isso significa deixar somente os detalhes fora do acordo na Dinamarca, e não os pontos fundamentais.
O objetivo em Poznan é fazer o esboço do compromisso a ser firmado. Mas, segundo De Boer, essa reunião pode não ser suficiente --pode ser necessário mais um encontro em 2009 antes de Copenhague.
As discussões sobre florestas, mais especificamente sobre Redd (Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal, na sigla em inglês), têm aquecido o ambiente gelado de Poznan.
Ainda não há consenso entre as partes, por exemplo, sobre se o pagamento pela conservação virá por meio do mercado de carbono ou não. Por não concordar com o andamento da questão, ontem o Brasil travou a discussão. O país defende um fundo com doações voluntárias para os países em desenvolvimento que evitarem o desmatamento.
Mas outras nações preferem que seja criado um mecanismo de compra de créditos de carbono --o que, segundo o governo brasileiro, encheria o mercado de crédito barato e não obrigaria os países ricos a de fato reduzirem suas emissões.
Thomas Becker, representante da Dinamarca, por exemplo, deu uma amostra da falta de consenso. Ele afirmou ontem à Folha, após um longo suspiro, que "é importante evitar o corte de florestas em países tropicais se queremos reduzir as emissões".
No entanto, ele compara a situação do Brasil com a dos esquimós. "Eles também precisam receber recursos para evitar o derretimento do gelo?", indaga. "É uma questão ética, se as árvores são de todos ou daquele país. É o mesmo que discutir quem possui o mar."
Ontem o Brasil trancou a discussão sobre Redd para evitar um "atropelamento" da questão. Entre os pontos em discórdia está se os projetos serão nacionais (o que o Brasil defende) ou regionais (que Costa Rica e Colômbia preferem).
Para Paulo Adário, do Greenpeace, a posição do Brasil neste caso é "muito boa". Segundo ele, nos projetos regionais pode haver "vazamento" --ou seja, alguém recebe dinheiro por evitar corte raso numa região, compra floresta em um lugar diferente e desmata. "Seria o dinheiro para evitar desmatamento sendo usado para destruir a floresta", disse.
(Por AFRA BALAZINA, Folha Uol, 10/12/2008)