Podemos creditar os acontecimentos ocorridos em Santa Catarina a alterações significativas no sistema climático ao Sul da América Latina. Os registros apresentam um aumento da variabilidade dos acontecimentos climáticos, tornando-se mais freqüentes, e também mais intensos. Seria o que especialistas chamam de “aumento dos extremos climáticos”.
A principal causa dos danos à população catarinense foi decorrente dos deslizamentos das encostas íngremes, áreas de preservação ambiental permanente geralmente ocupadas por construções irregulares.
Parece-me óbvio que essa tragédia está diretamente relacionada ao fracasso das políticas públicas de acesso à moradia e à inexistência de planos de ordenamento do espaço urbano.
A especulação imobiliária e a ocupação irregular foram os fatores decisivos para os números da tragédia. E poderiam ser maior se outras regiões mais densamente povoadas e de similar fragilidade fossem afetadas com tal magnitude; regiões que não estão salvas de possíveis enxurradas, mas também áreas onde semanalmente ocorrem deslizamentos e soterramentos, com vítimas e prejuízos materiais.
As mudanças climáticas, proporcionalmente à utilização e disponibilidade dos recursos naturais, são um fenômeno que distingue pobres e ricos.
Atualmente alguns sócioambientalistas têm utilizado o termo de “Justiça Climática”, e não “Mudanças Climáticas”, para se referirem às alterações no clima em nível global. Afinal, os efeitos e a dimensão dos acontecimentos são distintos para países periféricos e centrais, bem como o acesso e a perspectiva de soluções economicamente viáveis.
As alterações climáticas são fatores de exclusão social. Gerando a necessidade de justiça climática.
(Por Felipe Amaral*, Agência Chasque, 10/12/2008)
*Ecólogo e integrante do Instituto Biofilia (http://www.institutobiofilia.org.br).