Os alimentos ingeridos por um indivíduo podem dizer muito sobre ele, como onde e quando viveu. A partir da análise do conteúdo encontrado no intestino do "homem do gelo" descoberto em 1991 na fronteira da Áustria com a Itália, um grupo de cientistas britânicos conseguiu identificar um pouco do estilo de vida do europeu que viveu há cerca de 5,2 mil anos.
Ao identificar seis tipos diferentes de musgos no trato alimentar do homem mumificado, os pesquisadores concluíram que ele viajou bastante, foi ferido – supostamente por uma flechada – e fez seus próprios curativos.
Os resultados serão publicados na edição de janeiro da revista Vegetation History and Archaeobotany, dedicada especialmente a Oetzi, o nome recebido pela múmia a partir da região em que foi descoberto.
A descoberta de fragmentos de musgos no intestino de Oetzi é surpreendente, uma vez que se trata de plantas que não são palatáveis nem nutritivas. Além disso, há poucos relatos de sua ingestão para tratamento medicinal.
James Dickson, da Universidade de Glasgow, e colegas estudaram as amostras encontradas em microscópio e verificaram seis diferentes espécies. “Quatro das seis espécies são importantes para entender seu estilo de vida e os eventos ocorridos em seus últimos dias: Anomodon viticulosus, Hymenostylium recurvirostrum, Neckera complanata e Sphagnum imbricatum.
Segundo os pesquisadores, os diferentes musgos teriam sido ingeridos involuntariamente, após terem sido usados para embalar alimentos – onde teriam se grudado –, e em curativos.
“Pequenos pedaços podem ter ficado no sangue que secou em seus dedos e, então, foram ingeridos acidentalmente na vez seguinte em que comeu carne ou pão, como sabemos que ele fez durante seus últimos dias”, destacaram os autores. Uma das espécies de musgo teria sido ingerida ao beber água em um rio.
A espécie usada no curativo, a Sphagnum imbricatum, só é encontrada a mais de 50 quilômetros do local em que Oetzi foi descoberto, o que indica que ele teria percorrido tal distância após ter se ferido e antes de morrer.
O artigo "Six mosses from the Tyrolean Iceman’s alimentary tract and their significance for his ethnobotany and the events of his last days", de James Dickson e outros, pode ser lido por assinantes da Vegetation History and Archaeobotany.
(Agência Fapesp, 10/12/2008)