Uma briga polêmica entre protetores dos animais e um parque ecológico no Paraná foi parar no Ministério Público. De um lado, o Instituto Ambiental do Paraná, que administra o Parque Estadual de Vila Velha, avalia que a população de javalis e javaporcos (um híbrido do javali com um porco nativo) que se instalou e vem se reproduzindo no parque representa um risco para a biodiversidade local. O argumento é que o javali é considerado uma “espécie exótica invasora”, ou seja, um forasteiro que interfere na vida normal das espécies nativas que estavam acostumadas a conviver só com nativos há milênios. A culpa do javali parece aumentar por ele ser violento e feioso. O réu é acusado de depredar a vegetação, destruir plantações, se alimentar de ovos de aves e ainda causar o terror em fazendeiros e moradores. A solução seria a morte.
Do outro lado da briga estão as ONGs SOS Bicho e Grupo Fauna, que defendem acima de tudo o direito à vida de qualquer animal, esteja ele onde estiver. As ONGs até admitem que o manejo de espécies exóticas se justifica em nome do salvamento de espécies ameaçadas. Mas dizem que o IAP não tem argumentos bastantes para sustentar a proposta de abater os javalis. Rosana Vicente Gnipper, a presidente do Movimento SOS Bicho, questiona os estudos do IAP sobre a população dos javalis e os estragos ambientais supostamente causados por eles. Quantos são eles? Quais aves nativas estão sendo afetadas? “Se iniciarem um processo de matança sem planejamento, o governo corre o risco de somente gerar maus tratos sem resolver o problema de forma efetiva”, diz o Grupo Fauna. João Batista Campos, diretor do IAP, reconhece que ainda não tem essas respostas. Mas diz que a decisão pelo abate de animais comprovadamente nocivos à agricultura, à pecuária, à saúde pública e ao meio ambiente está respaldada pela legislação.
Na verdade, a legislação citada por Campos fala em “controle”. O abate é considerado pelos conservacionistas a última das alternativas no manejo de uma população invasora. Antes dele costumam ser considerados a esterilização, o encaminhamento para outras reservas, a zoológicos e até a criadouros. O IAP poderia dizimar legalmente os javalis de Vila Velha. Desde que apresentasse provas de que todas as outras alternativas são inviáveis e ineficazes.
(Francine Lima, Blog do Planeta, 09/12/2008)