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áreas protegidas danos ambientais instituto chico mendes
2008-12-10

A imprensa tocantinense rompeu dezembro em polvorosa por causa dos mistérios envolvendo a presença de uma equipe de filmagens norte-americana em um de seus maiores atrativos naturais: o deserto do Jalapão. Diversas reportagens foram feitas alardeando suspeitas sobre os estrangeiros, com direito a boatos sobre o asteamento de uma bandeira dos Estados Unidos e reclamações de moradores da cidade de Mateiros sobre o suporte luxuoso dispensado à equipe de gravação em relação ao estado de pobreza vivido na região. Tudo por causa da mais pura falta de informação, já que o governo do Tocantins, quando acionado pela imprensa, tem se esquivado de dar qualquer detalhe sobre o evento, inclusive sobre impactos ao Parque Estadual do Jalapão.

Procurado pela reportagem, o órgão ambiental estadual do Tocantins, o Naturatins, explicou via assessoria de imprensa que tem um contrato para não divulgar nada sobre o programa, mas que a atividade foi licenciada por ocorrer dentro de um parque estadual. Segundo o Naturatins, toda negociação sobre a presença das equipes foi feita diretamente a partir do gabinete do governador Marcelo Miranda.

No gabinete do governador, ninguém tinha autorização para dizer qualquer coisa sobre a gravação da 18ª edição do Survivor, um dos reality shows mais assistidos dos Estados Unidos, com audiência estimada em 14 milhões de telespectadores por semana. Aquele mesmo que inspirou a versão brasileira “No limite”, e que põe os concorrentes a prêmios milionários à prova de resistência física e mental em locais “selvagens” do planeta.

Exatamente por essa falta de transparência no patrimônio natural público a Procuradoria da República no Tocantins se envolveu no caso. “Nos colocaram a preocupação sobre riscos de interferência das gravações na Estação Ecológica Serra Geral do Tocantins, vizinha ao parque, e aí começamos a pedir informações para os órgãos ambientais. Pelo que sabemos, o Instituto Chico Mendes (ICMBio) deu anuência para o licenciamento do Naturatins sobre a atividade”, explicou o procurador Álvaro Manzano. Ele esperou desde o dia 24 de outubro esclarecimentos sobre o teor da licença ambiental emitida pelo estado, mas apenas nesta semana, depois do estardalhaço da imprensa sobre os estrangeiros, uma cópia do documento chegou a seu gabinete e ainda não foi inteiramente analisada.

Foi preciso intervenção da produtora brasileira Dharma Filmes, que representa o programa americano diante da Agência Nacional de Cinema (Ancine), para que o governo do Tocantins desse alguns esclarecimentos a O Eco. De acordo com a subsecretária de comunicação do governo tocantinense, Susana Barros, não é verdade que o estado esteja se esquivando de dar informações sobre as gravações no Jalapão. “Ao ser contatado pela produtora do programa, o Governo entendeu a necessidade de sigilo defendida por ela  em relação às filmagens, uma vez que, caso seja divulgado informações que revelem detalhes sobre o “jogo”, a equipe seria prejudicada correndo o risco de  ter todo o Programa  rejeitado pela Emissora. O resultado disso seria a geração de prejuízos financeiros irreparáveis”, informou a subsecretária. De acordo com a produção do programa, o termo de confidencialidade foi feito apenas para que o resultado do show não vaze, assim como a ordem de eliminação dos participantes, a fim de preservar o suspense do jogo.

Impactos
A bióloga Beatriz Gonçalves, que foi gerente do parque em 2006 e viveu na região por quase cinco anos, diz que será um grande risco se as gravações estiverem ocorrendo nas áreas dos fervedouros, das veredas e das serras. “Merece atenção também o acampamento montado nas margens do rio Novo, por ser área de preservação permanente e pela fragilidade dos campos úmidos, já que praticamente todo corpo d’água é contornado por veredas e pela ocorrência do ameaçadíssimo pato mergulhão”, diz a bióloga.
 
O Parque Estadual do Jalapão tem 158 mil hectares, é rico em nascentes, entre as quais de afluentes dos rios Tocantins e São Francisco. Toda a região tem características únicas. Fica em área de transição de Cerrado e Caatinga, com registro de algumas espécies amazônicas. Esta é uma das áreas mais significativas em termos de extensão territorial do bioma Cerrado com inúmeras espécies catalogadas e outras tantas ainda não inventariadas.

Segundo a bióloga, deveria haver uma rigorosa restrição à visitação em massa ou principalmente circulação de veículos de qualquer porte nos campos úmidos e veredas. Para Beatriz, o que está em questão é a quantidade de caminhões conduzindo equipamentos das filmagens, ainda mais depois de o parque ter vivido uma situação semelhante há bem pouco tempo. “Durante as gravações do filme ‘Deus é Brasileiro’, que ocorreu na região da cachoeira da Velha, havia cerca de 60 pessoas pisoteando as veredas, que têm marcas até hoje”, relata a ex-gerente. Ela diz ainda que inúmeros veículos foram usados na época para transporte de material e de pessoal.

Segundo Lúcio Flávio Adorno, coordenador do Núcleo de Estudos Estratégicos de Avaliação Ambiental em Turismo Sustentável da Universidade Federal do Tocantins (UFT), o parque tem um plano de manejo aprovado, mas ele ainda não consegue cumprir com todos os seus objetivos. “A região das dunas, segundo o plano, é uma zona intangível, uma área onde não deve haver uso público. E eles estão nesse ponto e nas margens do rio Novo”, diz Adorno. “Não temos como testemunhar, mas conhecemos pessoas que estão trabalhando para o evento que dizem que tem havido uso de outras áreas e que a organização não está sendo devidamente monitorada”, completa o professor.

Adorno, que nos últimos quatro anos realizou diversas pesquisas sobre o turismo no Jalapão, diz que com as informações oficiais até agora dispensadas, mensurar os impactos ambientais é algo extremamente vago. “Só podemos colocar preocupações sobre o respeito à capacidade de carga em algumas áreas”, diz o professor, que em fevereiro de 2008 entregou ao Naturatins um estudo bancado pela Fundação O Boticário justamente sobre a capacidade de carga em diversos pontos do Jalapão. De acordo com essa pesquisa, estima-se que duas mil pessoas visitem a região todos os anos.

Respostas oficiais
A equipe organizadora do programa Survivor informou a O Eco que as gravações começaram em novembro e têm previsão de término para meados de dezembro. As imagens serão exibidas pelo canal CBS a partir do dia 12 de fevereiro de 2009 para os Estados Unidos. Segundo os produtores, todas as filmagens estão acontecendo em áreas privadas, cedidas para as gravações através de contratos específicos com os proprietários. Eles se limitaram a dizer que escolheram o Jalapão por sua beleza.

A equipe de gravação é composta por 217 integrantes de 21 países. No momento, 188 brasileiros das cidades de Mateiros, Palmas, São Félix, Ponte Alta e Porto Nacional estão empregados como assistentes de câmera, tradutores, encarregados da montagem dos cenários, e funções correlatas. “Para filmar o Survivor no Tocantins, os produtores concordaram inteiramente em proteger o meio ambiente e seguir todas as orientações de acordo com as leis brasileiras”, dizem os organizadores. Eles garantem que vão deixar a área exatamente como encontraram. Segundo eles, as locações e os acampamentos foram inspecionados pela Naturatins.

A produção estima que até agora tenha gastado mais de três milhões de dólares no Tocantins em serviços como alimentação, combustível, materiais para construção das locações, contratos para uso de carros, helicópteros, aviões, suprimento de água e energia, hospedagem, passagens aéreas, acesso a internet via satélite, telefones, aluguel de escritório, transporte, disposição de resíduos, segurança, etc.

Para Adorno, todo esse investimento deveria ter sido acompanhado de atenção aos impactos sociais ao município de Mateiros. “Eles não se apresentaram para instâncias de governança, como conselho municipal de turismo e meio ambiente, conselho municipal de saúde, conselho consultivo do parque do Jalapão, fórum estadual de turismo”, informa o professor da UFT. “A não ser que algum deslize ecológico fosse evidente, eu acredito que não haveria nenhuma voz contrária a esse evento, desde que tudo fosse bem preparado no aspecto social e não só no aspecto comercial”, opina.

Os produtores do Survivor, no entanto, asseguram que marcaram uma reunião com os moradores de Mateiros para explicar as atividades realizadas na região. Dizem também que ajudaram a melhorar a condição de estradas e contribuiram com ações de educação e reciclagem. Segundo eles, na ocasião da queda de um avião próximo ao local, a equipe médica do programa foi mobilizada para ajudar os feridos. Eles também secaram o combustível que vazou para não poluir o ambiente e emprestaram suas aeronaves para que, em outubro, equipes do Naturatins, Ibama e Bombeiros conseguissem combater queimadas na região do Jalapão.

Segundo Susana Barros, do governo do Tocantins, a licença concedida ao empreendimento autoriza a permanência de equipe no local para captação de imagens, “de acordo com o cumprimento de cuidados ao meio ambiente”. Sobre a fiscalização das atividades no Parque Estadual do Jalapão, Susana garantiu que “o Naturatins e o Ibama vêm acompanhando o trabalho da equipe, orientando principalmente no que se refere a áreas a serem utilizadas durante as gravações, além de outras questões de proteção ao meio ambiente”, informou. Mas, segundo o Ibama, não é bem assim. Lenine Cruz, coordenador de fiscalização do instituto no Tocantins, negou que o Ibama esteja participando de fiscalização das atividades e esclareceu que o órgão atua na região em operações conjuntas com o Instituto Chico Mendes nas áreas da Estação Ecológica Serra Geral, que é unidade de conservação federal.

(Por Andreia Fanzeres, OEco, 09/12/2008)


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