A Assembléia Legislativa do Espírito Santo (AL-ES) realizou nesta segunda-feira (08/12), durante a 117ª sessão ordinária, debate sobre o impacto da crise mundial e o seu reflexo nas demissões da Vale. A empresa não enviou representante, e a deputada Janete de Sá (PMN), proponente, considerou o debate importante para os ferroviários do Estado e do resto do país.
“Este debate está sendo realizado com aprovação dos deputados. Mas é lamentável registrar que, embora tenhamos convidado Marco Dalpozzo para representar a empresa, o mesmo não deu o ar da graça, demonstrando que a direção da Vale não respeita as instituições”, disse Janete.
Ao final da discussão, houve a proposição de se elaborar um documento, por sugestão do deputado Claudio Vereza (PT), inserindo o Governo do Estado na mesa de discussão entre a Vale e seus empregados, em face à crise mundial.
Crise
Demitidos e aposentados da Vale compareceram ao debate. Indignada, Janete de Sá citou declaração do presidente da mineradora, Roger Agneli, afirmando que o crescimento da empresa neste ano será superior a 2,3%. “Este é apenas o crescimento da empresa sobre o lucro do ano passado. Por isso dizemos que não precisavam demitir. É algo muito maior, de modo que esta empresa não tem como justificar as demissões que já fez e pensa em fazer”, criticou.
A deputada ainda denunciou represálias contra empregados. Citou, entre outras situações, “o amordaçamento de trabalhadores que, aposentados ou demitidos, ainda têm filhos ou parentes próximos atuando na empresa.”
Metabase
Representando o movimento dos trabalhadores da Vale, estava o sindicalista Carlos Roberto de Assis Ferreira, que é vice-presidente do Sindicato Metabase de Itabira e Região. “Em 97, contra a vontade do povo brasileiro, a Vale foi entregue ao capitalismo por um valor irrisório: R$ 3,3 bilhões. Desde então, superou todos os seus limites, assumindo o posto de segunda maior mineradora do mundo. Acumulando lucro acima de 80 bilhões de dólares. Só em 2007, foi de 20,4 bilhões, consumindo um terço somente com os trabalhadores”, enumerou ele.
E completou: “No terceiro trimestre acumulou lucro de R$ 19,2 bilhões, e vai fechar o ano com lucro superior ao do ano passado. Anunciou pela imprensa que tem caixa de 15 bilhões de dólares, com previsões de consumir em 2009 12 bilhões de dólares somente com novos investimentos. A empresa, em Belo Horizonte, deixou claro que as demissões devem atingir a 10 mil trabalhadores”.
O sindicalista prosseguiu dizendo que “se a empresa conquistou tantos patamares, foi graças aos trabalhadores. Deveria buscar outras alternativas, antes de escolher a parte mais fraca. Sem contar que, após a privatização, fez ataque brutal aos direitos de seus trabalhadores. Não dividiu o boom econômico com seus empregados, mas as dificuldades que poderá vir a ter com a crise, isso sim, ela divide. Nosso movimento chegará ao presidente Lula”, enfatizou.
Ferroviários
O presidente do Sindicato dos Ferroviários, Jones Cavaglieri, que representa seis mil trabalhadores, disse que no dia 17 próximo haverá reunião nacional pela causa dos ferroviários. E que, como representante dos trabalhadores, optou pelo diálogo. Lembrou que à época da privatização, a situação estava tão ruim quanto é hoje. “Quando discutimos o assunto, temos essencialmente a preocupação com o aspecto social. É ruim para quem está sendo demitido, e pior para quem ainda está trabalhando, porque vive de incertezas e com medo de ser demitido”, frisou.
Cavaglieri lembrou que Governo e Vale precisam encontrar saídas negociadas com os trabalhadores. “É preciso que sejam encontradas soluções viáveis para todos. Temos que colocar Vale, Governo e trabalhadores na mesma mesa. Porque uma demissão em massa é ruim para todos”, disse.
Deputados
O deputado Claudio Vereza (PT) indagou: “Por que, sempre nestes momentos, a opção é sacrificar os que produzem as riquezas? Por que sempre os trabalhadores são os primeiros atingidos? Isso é estranho.”
A deputada Aparecida Denadai (PDT) também prestou solidariedade aos trabalhadores e ofereceu-se para atuar em favor da causa dos trabalhadores. Ela também lamentou o fato de a Vale não ter respondido ao convite da Assembléia de enviar representante e propôs que a concessão de benefícios fiscais de qualquer ordem seja condicionada a não-demissão de trabalhadores.
Novamente da tribuna, a deputada Janete de Sá denunciou concessão de empréstimo à Vale de R$ 7,3 bilhões com recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), autorizada pelo Governo Federal. “É dinheiro do trabalhador, dinheiro nosso. São 10 mil trabalhadores ameaçados de perder o emprego, e 6.500 em férias coletivas entre Minas Gerais e Espírito Santo”, destacou.
Já o deputado Paulo Roberto (PMN) frisou que “quando a bomba estoura, é sempre o lado mais fraco, no caso, os trabalhadores, é que pagam a conta. Em São Mateus, ao longo da BR-101 Norte, sentimos o quanto reduziu o tráfego de caminhões transportando eucalipto para a Aracruz Celulose”, observou, concordando que a discussão deve envolver, numa mesma reunião, todas as partes interessadas.
Outros discursos
Durante a votação do primeiro projeto da Ordem do Dia, o deputado Claudio Vereza (PT) lembrou declarações da ministra Dilma Rousseff em Vitória, dando conta de que o Governo Federal antecipou-se à crise e vem trabalhando de forma constante para minimizar seus efeitos. Vereza saudou o prefeito da capital, João Coser, por ter sido o anfitrião do Encontro Nacional de Prefeitos e comentou a aprovação de 70% do presidente Lula, segundo pesquisa recente do Instituto DataFolha.
(AL-ES, 08/12/2008)